Existe um movimento extraoficial que parte de alguns intelectuais, em defesa do cinema brasileiro comercial popularesco. Aquele que é generosamente indicado pela protagonista da novela. Grande parte das comédias nacionais recentes sofre com roteiros fracos e irregularidade nas atuações. Mesmo assim, arregimentam números expressivos de bilheteria, pessoas que vão ao cinema sem sequer saber exatamente qual filme irão assistir, sendo guiados apenas pela presença dos tipos caricatos que estão acostumados a ver na televisão.
vendo ou alugo
vendo ou alugo
Quando Vendo ou Alugo (2013) venceu os prêmios mais importantes no Cine PE, incitou discursos acalorados que celebravam o reconhecimento de uma comédia pela crítica especializada. O filme é tecnicamente superior ao que costumamos assistir no gênero (vale ressaltar que o padrão é baixo), mas continua sendo comum, quando colocado ao lado de projetos do gênero realizados em outros países, por exemplo. Alguns o estão comparando com as clássicas chanchadas e, de certa forma, estão corretos. Ele possui uma linguagem que simplifica personagens a estereótipos burlescos.
A diretora Betse de Paula (de Celeste e Estrela) merece crédito pela escolha de apostar em planos-sequência, demonstrando que a estética pode ser utilizada na comédia como força motriz na narrativa. Ainda que tímida, existe uma crítica social não plenamente resolvida, apontada cinicamente para o "jeitinho brasileiro". Existe uma clara inspiração nas comédias italianas de Dino Risi e em O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel - ótimas referências!
Na anarquia colorida proposta pelo roteiro, os diálogos escritos a seis mãos nem sempre soam críveis, frustrando pelo desequilíbrio na qualidade. Marieta Severo (Maria Alice), uma atriz feita para a linguagem cinematográfica, consegue com sua simpatia reverter alguns momentos que poderiam descambar para a vergonha alheia. Vale destacar também o excelente timing cômico de Nathalia Timberg, como um símbolo da aristocracia que procura a todo custo manter a pose de grã-fina, em seu casarão defronte uma favela. Já André Mattos, ainda que com um tipo de grande potencial, continua em sua zona de conforto, fazendo uma variação do mesmo personagem que vem apresentando em seus últimos projetos. O trabalho de som (problema que a indústria nacional superou) é digno de nota, inclusive pela inteligente utilização de recursos meta-diegéticos como alternativa eficaz de solucionar cenas comuns, tornando-as mais interessantes.
Infelizmente, porém, o terceiro ato perde força ao se esquecer de qualquer sutileza, abraçando um desgastado humor pastelão televisivo.
Desconsidere as hipérboles nos elogios convenientes e o questionável excesso de prêmios. Vendo ou Alugo não se destacaria em qualquer outra filmografia no mundo, nem deveria se destacar na nossa, caso os arquitetos da Arte já a respeitassem há mais tempo. O filme não corre riscos, nem é inovador, mas entrega uma diversão que não subestima a inteligência do espectador. O que já é um mérito. Temos, portanto, uma boa comédia, com um elenco afinado e que merece ser prestigiada.