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Crítica

Ventos de Agosto | Crítica

Um passeio pela natureza e realidade de nosso país

12.11.2014, às 17H28.
Atualizada em 10.01.2015, ÀS 18H30

Ventos de Agosto marca a estreia do diretor Gabriel Mascaro em longas-metragens de ficção, depois de uma carreira consolidada entre curtas e documentários, como Doméstica e Um Lugar ao Sol. Mascaro faz aqui uma reflexão sobre a vida e a morte, sempre com os ventos e a natureza dando o tom do filme, levando os seus personagens para os seus devidos caminhos.

A protagonista da história é a jovem Shirley (Dandara de Morais), moradora da cidade grande que foi viver em uma vila litorânea de Alagoas para cuidar de sua avó. Fã de rock e com o sonho de ser tatuadora, Shirley é o fio condutor da trama junto de Jeison (o estreante Geová Manoel dos Santos), pescador do pequeno vilarejo que vive sob a sombra do pai autoritário. Com a chegada de um estranho meteorologista (Mascaro), que veio para analisar as mudanças das marés e dos ventos durante o mês de agosto, as vidas dos simples moradores do lugar têm suas rotinas alteradas.

A fotografia do filme, também realizada por Mascaro e premiada no Festival de Brasília deste ano, é o ponto alto de Ventos de Agosto. O diretor revela com clareza as dificuldades em morar naquele paraíso escondido no meio do litoral nordestino e sua atmosfera, sempre intercalando as belas imagens de praias com o trabalho dos moradores quebrando coco para sobreviver. O contraste da vida simples com a burguesia - dicotomia sempre presente em forma de discurso nos filmes do diretor - é destacada com frequência, como a cena em que Jeison precisa atravessar o rio, que separa seu vilarejo da cidade mais próxima, dentro de um barco velho, enquanto uma balsa com turistas conhecendo a região passa ao fundo.

De forma enxuta, Ventos de Agosto se mostra um filme sincero e tocante, caracterizado pela pobreza tão presente em nosso país. A obsessão de Jeison sobre o corpo em degradação de um antigo morador do vilarejo reflete muito bem esse contraste. Sem conseguir que as autoridades fossem identificar e buscar o cadáver, Jeison cuida do falecido como se fosse seu parente, assumindo para si a responsabilidade de que o morto tenha um funeral decente. Nem morrer no Brasil é muito simples.

No final, somos apresentados para a forma mais natural e humana do homem, com uma oposição da vida e a morte, do jovem e do velho, claramente representado em um diálogo em que a avó de Shirley relembra sua infância e sonhos. A forma de como juntar as peças de todas as reflexões que o filme traz, Mascaro deixa para o espectador.