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A Viagem - Cloud Atlas | Crítica

Filme dos Irmãos Wachowski e Tom Tykwer repete fórmula de Matrix com mistura de gêneros e filosofia

09.09.2012, às 01H48.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H45

Com o sucesso de Matrix, a recepção dividida das continuações Reloaded e Revolutions e o fracasso comercial de Speed Racer, Andy e Lana Wachowski precisavam provar-se capazes de voltar ao topo. A Viagem (título genérico e preguiçoso que ganhou no Brasil o Cloud Atlas) os recoloca com louvor nessa posição.

A Viagem Cloud Atlas

A Viagem Cloud Atlas

A Viagem Cloud Atlas

A Viagem Cloud Atlas

Com a ajuda do alemão Tom Tykwer, cuja produção é muito mais estável que a dos irmãos (O Perfume, Trama Internacional), os Wachowsi constroem um intrigante pout-pourri de gêneros, adaptando o romance homônimo de David Mitchell.

O filme salta enlouquecidamente através de seis épocas distintas, desde 1849 (em uma história de escravatura) até milhões de anos no futuro (uma fantasia em um mundo distante), 106 anos depois de um evento chamado A Queda, passando por 1946 (no pós-guerra inglês, em uma história sobre um amor homossexual proibido e a criação de uma obra-prima musical), 1973 (com uma investigação jornalística sobre usinas nucleares em São Francisco), 2012 (com uma engraçadíssima comédia britânica sobre um grupo de velhinhos tentando fugir de uma casa de repouso) e, enfim, 2144 (em Neo Seul, em uma ficção científica cyberpunk com uma empregada fabricada de uma cadeia de restaurantes tornando-se a líder de uma revolução).

Todas as histórias surpreendentemente se conectam, mas não há um "mistério-mestre", o que seria usual em séries de televisão ou filmes do gênero. A conexão é muito mais sutil, ainda que poderosa, sugerindo relações cármicas e vidas passadas (toda a ação, boa ou ruim, realizada em uma existência refletirá nas próximas). É curioso também como, além do lado espiritual, encontra-se uma maneira de tornar tudo mais físico, jogando no liquidificador um pouco da teoria do caos também. Até Carlos Castañeda é citado, ressaltando influências de Neoshamanismo e Nova Era no novo trabalho, entre outros.

Misturar filosofia a um gênero estabelecido, afinal, é algo que os Wachowski já haviam realizado com sucesso em Matrix. Aqui, porém, a dupla e Tykwer vai muito além, dando essa roupagem a nada menos que meia-dúzia de tipos de filmes. E para unificar o todo, dando uma dose extra de reconhecimento às partes isoladas, o mesmo elenco foi utilizado no filme inteiro. Todos os atores - Tom Hanks, Halle Berry, Hugh Grant, Susan Sarandon, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Ben Whishaw, Keith David, David Gyasi, Zhou Xun e Doona Bae - estão em todos os segmentos, mas a cada um é dado papéis mais e menos importantes dependendo da história, com suas maquiagens trazendo surpresas o tempo inteiro. Alguns deles são irreconhecíveis de um trecho para outro - com a produção ousando transformar ocidentais em orientais, negros em caucasianos, gente em mutante, etc.

O trabalho de fotografia, composição, direção de arte e figurino é outro espetáculo à parte, já que o trio de diretores obteve coesão com duas equipes completamente distintas de profissionais. Não fossem os assuntos tão diferentes, não daria sequer para distinguir um trecho do outro. A edição relaciona momentos similares e antecipa ou atrasa o som nos cortes, dando fluidez às ações - e tornando todas relevantes e atraentes. É como zapear furiosamente durante quase três horas entre seis canais de televisão e descobrir que o aparelho está contando-lhe uma única história misturando noticiário, reality show, comercial de fraldas e episódios de Star Trek.

Com tanta riqueza de detalhes, Cloud Atlas é uma experiência que merece ser explorada várias vezes e que deve ser ainda tão comentada quanto foi Matrix. "Tudo está conectado", avisa o cartaz do filme - e procurar elementos de relação entre cada segmento (sejam eles temas, formas ou até mesmo texturas ou notas musicais) é parte da diversão.

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Nota do Crítico
Bom