O mundo encantado da Disney nasceu e conquistou sua fama sustentado num conceito simples e eficaz de realizar os sonhos das pessoas. Portanto, é natural que Wish: o Poder dos Desejos, um filme desenvolvido para celebrar o centenário do estúdio de animação fundado por Walt Disney, se justifique todo em torno dessa premissa.
A animação é ambientada em Rosas, um lugar mágico governado pelo Rei Magnífico (dublado por Chris Pine), um feiticeiro que guarda os desejos de todos os habitantes da vila e, mensalmente, realiza o desejo de um deles. Ciente disso, Asha (Ariana DeBose) decide que se tornará a aprendiz do feiticeiro a tempo de realizar o sonho de seu avô, que está prestes a completar 100 anos. No entanto, as esperanças da jovem são rapidamente despedaçadas quando ela depara com o rei pessoalmente e percebe que ele não é tão benevolente quanto aparenta.
A ideia do poder constituído que se corrompe por sua posição sempre serviu à fantasia, e o Rei Magnífico de Wish descende de uma linhagem cara ao cinema desse gênero, de Willy Wonka ao Mágico de Oz. No filme, quando confronta o rei, Asha quebra o encanto das suas ilusões - e perde a oportunidade de realizar o sonho de seu avô. Determinada, porém, a jovem então percebe que tem uma nova missão a cumprir: resgatar os sonhos de todos. Para isso, ela recebe ajuda de uma maneira que só a Disney poderia proporcionar, com uma estrela que cai do céu para socorrê-la.
A partir desse ponto, o filme se desenrola como uma colagem de referências e easter eggs que remetem aos clássicos das fases distintas do estúdio, de Branca de Neve e os Sete Anões (1937) a A Bela e a Fera (1991). Com sua paleta de cores em tons de aquarela, Wish conta com animais que começam a falar e cantar, um vilão vaidoso obcecado por espelhos e - se as colagens já não estão sendo literais o suficiente - sete amigos leais para ajudar Asha na sua missão.
As referências que Wish incorpora de forma mais que evidente não representam um problema em si, mas a autoindulgência que decorre dessas escolhas limita o potencial do filme. Toda a dramaturgia parece um mero pretexto para a celebração do centenário da Disney, e Wish não consegue estabelecer nem desenrolar seu conflito principal a contento, nem justificar por que os desejos dos habitantes de Rosas desaparecem nos devaneios de grandeza do Rei Magnífico. As soluções surgem por necessidade de ocasião, e por mais que a estrela mágica entre na narrativa de maneira adorável, isso não faz dela menos deus ex machina, mais uma solução pensada no filme pela sua facilidade e não por seu propósito.
Resta a Wish, então, tratar seu ponto-a-ponto protocolar com a atenção e a inspiração que o filme está exigindo de seu espectador; os números musicais são fofos, nenhum muito memorável; o elenco de vozes corresponde ao que se espera dos seus astros, especialmente DeBose e Pine; e visualmente Wish mantém a beleza do padrão estético que a Disney costuma entregar. O que falta na animação dirigida por Chris Buck (Frozen) e Fawn Veerasunthorn (Moana - Um Mar de Aventuras) é uma história genuinamente emocionante – uma forma bem mais digna de homenagear o estúdio responsável por algumas das histórias mais verdadeiramente envolventes da história do cinema.