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O Teorema Zero | Crítica

Terry Gilliam volta à ficção científica para juntar religião e distopia

09.07.2014, às 17H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Tradicionalmente a ficção científica imagina o futuro para comentar o mundo do presente. Em sua volta ao gênero, quase 20 anos depois de Os 12 Macacos (1995), Terry Gilliam usa a ficção científica em O Teorema Zero (The Zero Theorem) para falar de uma relação que não é de hoje, e sim existe desde sempre: a do homem com a religião.

the zero theorem

the zero theorem

Christoph Waltz vive Qohen Leth, um operário modelo da Mancom, corporação que "dá sentido às coisas boas da vida", segundo o slogan. Mistura de contador e programador, Qohen vive atormentado à espera do Chamado, um telefonema que supostamente lhe dirá o sentido de sua vida. Procurado diretamente pelo Comando da Mancom para tentar desvendar o tal projeto Teorema Zero, o programador recebe, em troca, a promessa de ter seus dilemas existenciais respondidos.

Logo no começo Gilliam já aplica seu humor sobre as coisas da modernidade: na distopia do filme, as interfaces que os homens têm com outras pessoas e máquinas basicamente se resumem a tablets, ampolas, joysticks e call centers - um futuro não-tão-distante bastante impessoal, como sempre, e curiosamente puxado para o lado lúdico. Tudo é jogável, interativo - uma humanidade cada vez mais pueril - mas ainda assim Qohen diz que não consegue lembrar da última vez em que algo o fez feliz.

É um ideal de felicidade, e não de salvação, que Gilliam busca para o seu protagonista, e é a partir disso que ele articula sua crítica ao Cristianismo. Há religiões várias em O Teorema Zero - incluindo uma que louva Batman, o Redentor - mas a maior de todas (e que oportunamente se confunde com uma megacorporação), a que vale ser desafiada, é a da Santíssima Trindade.

Então uma das diversões de O Teorema Zero (um sci-fi típico de Gilliam, em que o caos do design de produção e da cenografia convidam a catar todos os detalhes) é identificar esses cruzamentos entre a Igreja como a conhecemos e a Igreja da distopia do diretor - até o momento, no clímax do filme, em que saem as simbologias e os personagens tratam de fato, no texto, desse cruzamento.

Entre pequenas sacadas (no futuro, Deus nos vigia com câmeras GoPro), deleites visuais (Mélanie Thierry se sai muito bem como uma mistura de fruto proibido com manic pixie dream girl), didatismos (Qohen precisa mesmo se tratar por "nós" para que o espectador entenda que ele está falando de todos nós?) e momentos em que a trama perde o foco (a subtrama do "menino Jesus" soa mal desenvolvida), O Teorema Zero mostra, apesar dos altos e baixos, que Terry Gilliam não perdeu a mão.

O Teorema Zero | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Bom