O ator Antônio de Fagundes, de costas, e o diretor Cacá Diegues. Foto: Gabriel Moreira

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Deus Ainda É Brasileiro "é filme com e sobre esperança", diz Cacá Diegues

O Omelete foi até Piranhas, cidade do interior de Alagoas, para acompanhar as filmagens do derivado de Deus É Brasileiro

21.01.2023, às 10H00.

Quando Deus É Brasileiro foi lançado em 2003, Cacá Diegues nos apresentou um novo olhar sobre Deus, fé e Brasil ao colocar pautas como luto, esperança, meio ambiente e gênero, sem perder o humor com os diálogos surreais entre o Todo-Poderoso de Antônio Fagundes e o mero mortal Taoca de Wagner Moura. Depois de duas décadas, o cineasta retorna para a sua mitologia para uma nova aventura de Deus nas terras alagoanas e retratar um outro Brasil.

A convite da produção, o Omelete viajou até Piranhas, cidade do interior de Alagoas, para acompanhar as filmagens e entrevistar o diretor e elenco. Confira a entrevista:

Nascido em Maceió (AL), Cacá sempre colocou o DNA nordestino em suas produções, e o primeiro longa foi gravado em Alagoas, Tocantins, Pernambuco e Rio de Janeiro. Já Deus Ainda É Brasileiro, por sua vez, foi gravado inteiramente em Alagoas. “Agora é um filme alagoano por excelência", pontua Cacá em entrevista ao Omelete. “Em todos os meus filmes eu coloco um dedo de Alagoas, seja direta ou indiretamente, agora me sinto bem depois de tanta experiência.”

UM FILME ALAGOANO POR EXCELÊNCIA

Caca Diegues e equipe durante filmagens. Foto: Gabriel Moreira

Foi a coisa mais gostosa”, diz Antônio Fagundes sobre trabalhar com uma equipe quase 100% do nordeste. Com exceção de Fagundes e outros dois atores, todo o elenco veio de diferentes estados da região. “Além da gente conhecer gente muito boa, que tem aqui, foi um convívio muito gostoso. Se o primeiro tinha um pé no nordeste, esse aqui tá o corpo inteiro.”

Lançado em 2003, Deus É Brasileiro é baseado no conto O Santo que Não Acreditava em Deus, de João Ubaldo Ribeiro. Perguntado sobre como é voltar para uma mitologia que criou há anos, Cacá responde com sinceridade: “Nunca pensei que fosse retomar esse tema”.

O que motivou o cineasta de 82 anos a filmar novamente foi o luto e a insatisfação: sua filha, Flora Diegues, faleceu em 2019 devido a um câncer no cérebro e, somando com a pandemia, ele decidiu voltar para um lugar familiar.

“Eu estava muito desenganado por causa da morte da minha filha, que estava muito fraca, eu estava muito triste. E na pandemia me deu essa ideia, de continuar a fazer Deus, mas agora como uma espécie de comédia cívica. A ideia é fazer um filme que seja agradável para as pessoas verem e que, ao mesmo tempo, diga alguma coisa sobre o Brasil de hoje.”

Na história, os seres celestiais estão zangados com os rumos da humanidade e decidem causar um novo extermínio com um meteoro, tal qual os dinossauros, e Deus retorna para a Terra em sua nova jornada.

Antônio conta que ficou feliz em voltar ao papel do Ser Divino e trabalhar com o diretor, que é um parceiro de longa data. "Quando o Cacá me chamou, eu nem quis nem ler o roteiro, falei 'claro pô, estou direto nessa'. E foi muito prazeroso fazer, eu acho que vai ser um filme lindíssimo como o primeiro era. "

UM FILME SOBRE O BRASIL E ESPERANÇA

Antônio Fagundes durante as gravações. Foto: Gabriel Moreira

Parte da força motriz que incentivou a criar essa nova história foram os rumos do país no último governo, quando Jair Bolsonaro ainda era presidente. “Eu fiquei com muito medo se o Lula perdesse essa eleição, se não, eu não poderia chamar o filme de "Deus ainda é brasileiro", eu teria que mudar o título [risos]”; ri o cineasta, aliviado.

Cacá gosta muito de descrever esse derivado como uma “comédia cívica” em que quer retratar atualmente o Brasil, mais especificamente o nordeste, com seu humor que é marca registrada. “No fundo, o filme fala sobre o Brasil de hoje, o primeiro era sobre vários momentos da história do Brasil naquele momento. Eu brinco que é uma comédia cívica, mas não é só comédia, mas também não só cívica.”

No primeiro filme, acompanhamos a road trip de Deus, Taoca e Madá (Paloma Duarte) atravessando o nordeste e o norte sob o contexto do SUS, e visitando povos originários com a delimitação de terras dos povos indígenas. Atualmente, há um cenário parecido com a transição do novo governo, mas com uma pós-pandemia e a saída da antiga liderança de extrema-direita.

Perguntado sobre como será esse novo Brasil retratado, Antônio acredita que ele acha que o país não teve grandes mudanças. “Até podemos dizer que piorou em algumas áreas, particularmente o meio ambiente e os povos indígenas também. Então o filme toca nesses assuntos também, com toda a delicadeza que o Cacá tem, então o Brasil faz com que todos os filmes que abordam esses problemas sejam atuais.”

Para Cacá, Deus Ainda É Brasileiro "é um filme com e sobre esperança” e que pretende trazer de volta valores que quase foram esquecidos e que considera uma identidade do povo brasileiro.

"A gente sempre desprezou e falou muito mal de algo que, depois desses quatro anos [de governo Bolsonaro], era muito importante que é o caráter brasileiro: que sonha com o futuro, a vontade de mudar o país, que seja um exemplo como uma nova civilização que estamos construindo. Então isso tudo me mobilizou e fui muito atrás disso, de recuperar essa esperança e essa vontade que o Brasil dê certo."; diz o diretor.

Por enquanto, Deus ainda É Brasileiro não tem data para chegar aos cinemas.