Espécie de certidão de óbito da democracia brasileira, O Processo, documentário de Maria Augusta Ramos (Juízo) sobre o Impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, foi aclamado com uma ovação, incluindo gritos de "Bravo!" (e cinco minutos de aplausos) e um coro de "Fora Temer" em sua exibição no 68º Festival de Berlim. A partir do dispositivo narrativo habitual da diretora, de abordar seus temas retratando o espetáculo das representações sociais, o longa-metragem esmiúça o comportamento de cada um dos senadores envolvidos no julgamento de Dilma. A base de trabalho foram 400 horas de material filmado. A edição, assinada por Karen Ackerman, foi celebrada pela multidão na sala CineStar, da Berlinale, como sendo um marco da montagem documental.
"Não sei o que será deste filme no Brasil, mas desejo que ele seja visto e debatido para que sejamos um país menos dividido. O Fla x Flu que estamos vivendo é nocivo para o país", disse a cineasta.
Na condução de sua narrativa, que passa por cada uma das votações do Impeachment, a diretora evita cortes que ridicularizem ou enalteçam qualquer um dos documentados. Erros e acertos de ambos os lados estão na tela.
"Pessoas devem ser vistas como seres humanos", disse Maria Augusta ao explicar o cuidado que teve para não demonizar figuras de posição ética contestada. "Fiz esse filme com parcerias, contando com ajudas como o World Cinema Fund, Fundo de Cinema da Holanda e o Canal Brasil".