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Entrevista

Festival de Gramado | "No Brasil, nada dá mais medo que a crise", diz Zé do Caixão

José Mojica Marins é homenageado no evento

30.08.2016, às 10H41.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 08H02

Criando como um gesto de reverência a diretores autorais, dignos de aplauso por sua excelência estética, o Trofeu Eduardo Abelin, honraria dada ano a ano no Festival de Gramado a cineastas de prestígio, vai, esta noite, para as mãos de José Mojica Marins, o eterno Zé do Caixão, hoje com 80 anos. A decisão de Gramado de premiar o realizador de À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964) foi encarado (e saudado) como um gesto de conciliação com a cultura pop. Por problemas de saúde, Mojica não poderá subir a Serra Gaucha para buscar a láurea, mas, em entrevists por telefone ao Omelete, ressaltou sua alegria, compartilhando suas reflexões sobre o cinema brasileiro atual.

"Este prêmio de Gramado é uma forma de reconhecimento para alguém que dirigiu mais de 30 filmes, para alguém que viveu uma trajetória de lutas para poder filmar o que desejava, com liberdade", diz Mojica, prestigiado no exterior como um papa do horror, chamado nos EUA de Coffin Joe. "Não me impressiono mais com o cinema de terror de hoje, embora eu veja tudo o que estreia na TV e muita coisa do gênero que lançam em DVD. Sobre o cinema brasileiro: anda faltando coragem. Não se filma mais pelo prazer de ousar".

Responsável por um cinema de apelo popular, marcado por sucessos de bilheteria como O Exorcismo Negro (1974), Mojica diz que nada é mais assustador hoje no Brasil do que nossos entraves econômicos.

"Já vi muita coisa aterrorizante na vida, sobretudo a ditadura militar, mas, hoje, nada me assusta mais do que a crise. O medo, no Brasil, é medido pela fome", diz o diretor, cuja homenagem em Gramado se estende ainda com uma exibição, nesta quarta, de trechos da série de TV Zé do Caixão.

Segunda, o festival sofreu uma baixa em sua competição latina: o longa uruguaio Las Toninas Van Al Este não pôde ser exibido por problemas técnicos em seu arquivo digital. Projetaram apenas o filme cubano Espejuelos Oscuros, dw Jessica Rodriguez, que causou cansaço com sua narrativa centrada na relação entre uma cega e um ladrão. Melhor resultado teve o tocante curta Ingrid, de Minas Gerais, sobre a vida de uma mulher trans.

A briga pelo troféu Kikito segue hoje com o filme paraguaio Guaraní, de Luis Zorraquin. Até agora, o filme brasileiro mais aclamado foi Elis, drama musical de Hugo Prata, favorito absoluto ao prêmio de melhor atriz, pelo trabalho de Andréia Horta. Mas O Silêncio do Céu, de Marco Dutra, é o mais cotado aos troféus de melhor direção e roteiro. Os ganhadores serão conhecidos neste sábado.