Aguardado por décadas, Megalopolis, novo filme do diretor Francis Ford Coppola, ganhou o primeiro trailer nesta semana. E um dos itens que mais chamou a atenção na prévia (confira abaixo), além da estética impressionante e das grandes atuações exibidas em tela, foram as frases utilizadas para abrir o vídeo. Em uma espécie de provocação à crítica, o trailer exibe opiniões negativas de alguns dos principais nomes do jornalismo americano sobre filmes clássicos, aclamados, do cineasta. O problema é que nenhuma dela é verdadeira.
Lionsgate
Apesar de alguns dos analistas citados, de fato, terem criticado os trabalhos de Coppola, nenhum deles usou as palavras colocadas entre aspas na prévia de Megalopolis, para classificar os longas anteriores.
Pauline Kael, a quem o vídeo atribui críticas de que O Poderoso Chefão seria "enfraquecido pela sua pretensão artística", nunca classificou o filme de tal maneira. Muito pelo contrário, ela elogia o trabalho artístico de Coppola, que teria melhorado e muito o livro de Mario Puzo. Ela ainda elogiou o longa por ser "um filme bicentenário que não insulta a inteligência. É uma visão épica da corrupção da América".
Já Andrew Sarris, crítico mais agudo do trabalho do diretor, pode até não ter gostado tanto de O Poderoso Chefão, mas a expressão "filme desleixado e auto indulgente" não aparece no texto dele, em nenhum momento. Em outro exemplo, ao procurar pelo texto de Vincent Canby sobre Apocalypse Now, descobrimos que o escritor não chamou o épico de "vazio no núcleo", apesar de ter uma opinião mista sobre o filme.
E as falsas citações se empilham ao procurarmos pelas frases nas publicações citadas: Rex Reed, apesar de não ter gostado muito de Apocalypse Now, não o descreveu como "um lixo de proporções épicas". Até mesmo Roger Ebert, que escreveu elogiando Drácula de Bram Stoker, foi transformado em palavras nunca proferidas pelo autor: "um triunfo do estilo sobre a substância". Ele deu três estrelas, que foi uma das críticas mais favoráveis que o filme recebeu, na época.
Qual será o motivo da distorção de tantos textos, de autores renomados, que dedicaram a vida a enriquecer o cinema com opiniões e críticas relevantes e construtivas? Promover o filme, que vem recebendo avaliações mistas desde a estreia, no Festival de Cannes, como o novo clássico instantâneo de Coppola? Ou apenas jogar afirmações ao ar, para ver se todos acreditariam no que está estampado no vídeo, sem checagem alguma? Independente da razão, os publicitários responsáveis devem estar contentes, já que as aspas utilizadas se espalharam pela internet e geraram o tão desejado engajamento.
Megalopolis é ambientado em um futuro distópico, onde o arquiteto vivido por Driver propõe um projeto de cidade inovador, que promete consertar desigualdades. Suas ideias são bloqueadas, no entanto, pelos defensores do status quo, incluindo o prefeito vivido por Giancarlo Esposito e o bilionário interpretado por Jon Voight.
O elenco estrelado do longa ainda conta com Nathalie Emmanuel (Game of Thrones), Aubrey Plaza (Parks and Recreation), Shia LaBeouf (Transformers), Laurence Fishburne (Matrix) e Dustin Hoffman