Em uma temporada cheia de super-heróis, a presença do anti-herói Hancock parecia promissora. Aliás, mais até do que promissora, já que o papel principal estava nas mãos de Will Smith, ator que se tornou conhecido justamente por uma série cômica, Um Maluco no Pedaço (Fresh Prince of Bel Air).
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E no início, parece que a fórmula vai mesmo funcionar. Sempre bêbado e mal-humorado, o carrancudo poderoso vai salvando o dia ao seu estilo, sem se preocupar muito com as consequências. E elas são caras. Para a cidade, que tem de reconstruir rodovias e prédios, e resgatar carros pendurados a dezenas de metros do chão, e também para Hancock, que tem um nível de rejeição enorme com a população de Los Angeles.
É então que entra em cena Ray Embrey (Jason Bateman), um relações públicas meio fracassado, que depois de ter sua vida salva por Hancock encampa o projeto mostrar ao mundo o que parece que só ele e seu filho vêem: um herói de verdade escondido sob a barba por fazer, os óculos escuros, a bermuda larga e a boca suja. A primeira barreira que ele tem de enfrentar está na sua própria casa. Sua esposa, Mary (Charlize Theron), visivelmente não gosta de Hancock e não esconde isso.
Numa espécie de "Extreme Makeover - Hero Edition", Ray começa a moldar Hancock, torná-lo mais amável. O primeiro passo é mostrar humildade, fazendo com que ele se entregue para as autoridades e vá para a prisão pelos milhões de dólares que já custou aos cofres do Estado. O plano é mostrar a todos como ele é importante para a cidade. E quando o nível de criminalidade decola a níveis extratosféricos, ele é convocado pelo prefeito para dar um jeito na situação.
Este poderia ser o filme todo, da catástrofe inicial à volta por cima. Seria "quadrado" na fórmula, mas "redondo" na realização. Porém, os roteiristas Vincent Ngo e Vince Gilligan decidiram ir além da superação e mostrar o que levou Hancock a se tornar aquele cara amargurado. E é aí que a comédia de aventura se transforma em algo meio amorfo, com batalhas hercúleas e sombrias no centro da cidade e o ressurgimento de vilões que já tinham conseguido seus 15 minutos de tela.
O único consolo para esse desfecho capenga é que Charlize Theron deixa de ser apenas uma belíssimo enfeite de cenário para ganhar alguma importância na trama. Pena que isso aconteça justamente quando o filme começa a decair de qualidade. Mas não adianta tentar transformá-la em vilã. Ela é apenas um atriz em busca de um papel desafiador e alguns trocados, não uma super-heroína.