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Entrevista

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1: Omelete Entrevista David Yates

Diretor fala sobre a divisão do filme em duas partes, o 3D e o fim cada vez mais próximo

18.11.2010, às 13H13.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 00H00

Para a divulgação de Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1, a Warner Bros. dividiu o elenco e equipe do filme pelo mundo. Nossos parceiros do Collider estiveram em Londres e conversaram com o diretor David Yates, que também dirigiu A Ordem da Fênix, Enigma do Príncipe e a Parte 2 de Relíquias da Morte.

Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1

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Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1

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Na entrevista, Yates falou sobre a decisão de dividir o sétimo livro em dois filmes, sobre a desistência do 3D neste primeiro filme e a conversão de pós-produção do segundo. Yates ainda comentou o processo de atuação e de filmar em locações - e não poupou elogios para Rupert Grint!

David Yates: Eu só dormi três horas esta noite, então provavelmente minhas respostas não farão o menor sentido. Já peço desculpas de antemão.

Dormiu pouco porque estava comemorando da première?

Sim, é uma noite muito legal porque você reencontra todo mundo também. Toda a equipe está lá e você convida sua família. Meus parentes do norte vieram, que eu não via há dez anos, e foi a primeira vez que eles foram a uma première, então foi tudo muito empolgante.

Quando você entrou nessa franquia, tinha ideia que dirigiria uma parte tão substancial de Harry Potter?

Não, esse não era o plano. Na verdade, eu entrei para dirigir apenas um filme e eles me convidaram para voltar e aí não conseguiram se livrar de mim nos últimos dois. Eu estava determinado a ficar. Mas essa não era a ideia inicial do estúdio.

Foi ideia sua dividir o sétimo livro em duas partes?

Não, foi uma decisão conjunta. Foi uma decisão tomada por Steve Kloves [roteirista], os produtores David Barron e David Heyman e eu. Nós sentamos e concordamos que provavelmente seria uma coisa interessante a se fazer. Foi uma escolha criativa, e não uma imposição do estúdio. Quer dizer, o estúdio achou ótimo que estávamos discutindo isso... Eu queria fazer dois filmes ligeiramente diferentes. Um primeiro filme que fosse melancólico e assustador, como um thriller de perseguição com filme de estrada. Um filme em que você vê a inocência destes garotos se quebrar. E então, no segundo, queria fazer um filme de fantasia maior e mais clássico, com dragões. São dois filmes um pouco diferentes, mas são baseados no mesmo livro. O que faz a ligação entre os dois filmes é a narrativa linear que passa por ele todo mas, no fim das contas, são dois filmes bem diferentes.

Quando conversei com você na visita ao set, você parecia um pouco apreensivo quanto à conversão para 3D em pós-produção. Acabou não dando certo. Você está feliz com isso ou gostaria que tivessem conseguido?

Eu assisti umas cenas em 3D que ficaram muito legais, que eram lindas para a Parte 1, e assisti umas cenas que precisavam de muito trabalho, que teríamos que revisar e mudar. Em um mundo ideal, se tivéssemos mais tempo, seria interessante lançar o filme em 3D. Mas nós não tínhamos tempo suficiente para fazer o 3D dar certo, de maneira que ampliasse e ajudasse o filme de um jeito interessante. Penso que se for para fazer uma conversão para o 3D, ela deve agregar valor. Estávamos num ponto em que o 3D ia funcionar apenas em algumas sequências, e em outras ia distrair um pouco.

Tivemos uma conversa muito madura com o estúdio e falamos, "Olha, isso precisa ser muito bom se vamos mesmo fazer". E foi uma grande decisão para eles dizer, "Ok, então não vamos fazer". Mas todos concordamos que não seria o melhor jeito de lançar o filme. Então, se eu fiquei aliviado? Sim, fiquei aliviado que eles não forçaram uma conversão ruim e que tiveram a maturidade de reconhecer que isso não seria bom para a franquia, nem para esse filme. Então isso foi um alívio. Peter Doyle, que é um colorista muito talentoso, que fez os filmes de O Senhor dos Anéis e trabalhou em todos os meus Harry Potters, sentou comigo e assistimos a algumas destas cenas. Ele disse que era uma estética muito interessante porque eu não estava usando o 3D "daquele jeito", lançando coisas para fora da tela. Eu estava usando o 3D de maneira muito sutil esteticamente, para trazer mais profundidade e, ocasionalmente, em conjunto com a música para criar mais imersão nas cenas maiores. Mas era um uso muito sutil e era muito interessante, mas não tivemos tempo de fazer isso do jeito certo para o filme inteiro. Então foi um alívio, mas há uma parte de mim que gostaria de ver isso no filme inteiro.

Há tempo suficiente para fazer a conversão para 3D na Parte 2?

Sim, sim, temos que fazer isso para a parte dois. Estamos trabalhando no 3D desde maio do ano passado e o filme só sai em julho, então temos uma grande chance de acertar desta vez, eu acho. Todos nós nos comprometamos e queremos fazer. Gastamos muito dinheiro para converter o primeiro filme. Gastamos muito dinheiro no segundo. Na verdade, o 3D é mais apropriado para o segundo filme, por causa das batalhas, dragões, aranhas gigantes e tudo mais. Será uma experiência mais rica em 3D, eu acho. Então queremos muito que dê certo.

Falando no segundo filme, muitos fãs estão ansiosos para a Batalha de Hogwarts. Você já deve ter feito o primeiro corte dessa cena. Será uma sequência de 10 minutos ou 30 minutos. Qual o tamanho dessa batalha?

Ela é alternada com a busca de Harry pela horcrux. Pessoalmente, não sou um grande fã de batalhas, mas gosto dessas, acho que elas são ótimas. Porém, estou interessado nos personagens e na história deles. Mas temos, sim, uma grande batalha, há o suficiente. Não consigo definir em tempo, mas todo o segundo ato é bem grande. Na verdade, o filme todo é bem grande. Mas sinceramente, Steve [Kloves, roteirista] não é um grande fã de batalhas, eu não sou um grande fã de batalhas, mas sou mais fã que ele, então fiz pressão por estas cenas. Steve adora personagens e suas nuances. Eu adoro também, é claro... Mas temos batalhas. O filme é mais focado na corrida pelas horcruxes e é alternado com a batalha.

Você poderia falar sobre como esses garotos amadureceram como atores e adultos durante o processo?

Eles estão ficando mais velhos, o que significa que eles têm mais recursos à disposição porque, como ator, tudo que você faz vem da sua experiência de vida. Algumas vezes mais do que da sua experiência em sets de filmagem, para falar a verdade. Essa é a última vez que eles interpretam estes personagens na vida. Eles tiveram a chance aqui para provar seu talento para os fãs do livro e para a plateia do mundo todo. O material é mais rico e cheio de nuances desta vez. É um pouco mais melancólico. Eles têm mais tempo em cenas bem adultas e eu sempre os incentivo para encontrar autenticidade no que fazem, juntos. É isso que eu quero deles. Então acho que tudo isso significa que eles conseguem entregar mais do que jamais puderam entregar antes. Eles ficaram tão empolgados quando leram o roteiro pela primeira vez. Sentei com eles na sala de reunião em Leavesden e eles leram o roteiro e ficaram muito animados porque poderiam fazer todas essas cenas juntos, que não eram mais tão focadas na magia, e sim focadas neles.

Como foi estar em locação? Você filmou em lugares bem remotos. Foi muito intenso, o que você achou?

Na verdade, foi ótimo sair do estúdio e foi libertador para os atores mais jovens também. Tem uma cena - a morte de Dobby na praia, em que Dan [Daniel Radcliff] está sentado na areia. Não podíamos parar de filmar, tínhamos que filmar continuamente porque a maré estava subindo. E ele estava com muito frio, prestes a ter hipotermia e eu pedindo "Ok, vai de novo, vai de novo". Foi tudo muito rápido. A areia saia entre os dedos dele e ele achou tão empolgante atuar nessas condições, porque quando você tem todos esses elementos ao seu redor, durante a atuação isso te faz conectar mais com a verdade. Quando você está na tela verde do estúdio em Leavesden, não é bem a mesma coisa. Por mais motivado que você esteja, por mais que você tente descrever o que está lá, não há como competir com a realidade. Então estar em locação foi muito libertador, tanto para eles como para nós.

O conto dos três irmãos é contado de um jeito bem interessante. Você poderia falar sobre isso?

Começou quando Stuart Craig [designer de produção] chegou quando com essas maravilhosas imagens de fantoches, e então encontramos esse cara maravilhoso chamado Ben Hibben. Ele é um animador muito talentoso. Nós adoramos o trabalho dele e queríamos desenvolver a ideia dos fantoches com ele, e ele supervisionou toda essa parte para nós e fez um trabalho incrível.

Você já tinha mencionado que escolheu momentos muito específicos para usar essas amimações. O que havia de tão especial nesses momentos?

Usamos em momentos que achamos que estávamos sendo nostálgicos, ou refletindo o passado de alguma maneira. Foi quando usamos isso.

Posso perguntar sobre a cena de dança? Ela é muito delicada e engraçada, com algumas brincadeiras. Você poderia falar sobre como trabalhou essa cena com os atores? Você deu espaço para que eles fizessem o que queriam ou foi rigidamente coreografado?

Tínhamos um coreógrafo, um ótimo coreógrafo com quem eu tinha trabalhado antes e ele fez uma versão da cena para mim. Deixei ele com os atores durante duas horas e quando voltei, sentei e tocaram a música e eles dançaram. Parecia dança de salão e eu disse, "Quer saber, acho que isso não está muito certo, porque está tão lindamente coreografado". Então eu pedi para o coreógrafo para que parecesse mais que eles estivessem brincando e não sabem bem o que estão fazendo. Então ele fez uma versão bem mais crua, que permitia que eles fossem eles mesmos, basicamente. Ligeiramente desajeitados, ligeiramente estranhos. E foi isso. Pareceu certo, sinceramente. E é uma cena que divide as pessoas, alguns amam e outros odeiam. Eu adoro pelos motivos que você citou: é delicada, é engraçada e tocante. Uma parte é deles e outra é do nosso coreógrafo, que ajudou.

Você poderia falar um pouco sobre como Emma Watson cresceu dentro do papel de Hermione?

Acho que ela pegou fogo. Acho que alguma coisa aconteceu durante as filmagens da Parte 1. Ela sempre foi muito inteligente e sempre pensou muito sobre a maneira de abordar a atuação e já era assim no quinto e sexto filme. Ela é, na verdada, uma pessoa intensamente brilhante. Mas o que eu acho que aconteceu nesse filme é que ela percebeu como poderia entrar em outro nível emocional e como poderia transmitir isso, que é o que a maioria dos grandes atores faz. Eles simplesmente se conectam com essas emoções que estão lá dentro e foi muito empolgante quando ela conseguiu isso.

O que permitiu que ela alcançasse isso? Foi a vida, foi simplesmente por estar mais velha? Ela já estava na faculdade quando esse filme começou, certo?

Não, ela começou a faculdade um pouco depois, porque tivemos uma pausa nas filmagens. Nós entramos pelas experiências dela na faculdade. Acho também que o material do livro permitiu que isso acontecesse. Assim como o fato de que ela está um pouco mais velha também colaborou. Como diretor, no instante em que você reconhece essa possibilidade em alguém, você começa a tentar alcançar esse lugar. Você começa a encorajá-lo a ir para esse lugar, então é uma combinação de muitos fatores.

Como foi arrancar essa performance do Rupert Grint?

Foi fantástico. Acho que Rupert poderia ser um ótimo ator dramático. Sempre pensamos nele como um comediante, mas às vezes eu o observo quando ele não está na frente das câmeras e ele é o mais quieto do elenco e da equipe. Ele apenas senta lá e as pessoa se movem ao redor dele, como se ele nem estivesse lá, porque ele é tão concentrado e educado. Existe uma coisa muito especial em Rupert, como ator e como ser humano. Acho que ele pode evoluir como um ator sério muito, muito bom. Mas é interessante como a plateia está programada para achá-lo engraçado o tempo inteiro. Ele é mesmo muito engraçado, mas foi bom para ele fazer umas cenas mais sérias.

Com o fim da franquia, seu nome apareceu como candidato em muitos projetos. Qual será realmente seu próximo filme? Você já está pensando nisso ou vai dar uma pausa?

Vou fazer uma pausa durante algum tempo. Acho que vou simplesmente parar durante alguns meses. Tenho muitos e muitos roteiros na minha mesa. Muitos deles são bem interessantes, mas ainda não tive tempo de ler nenhum, porque estou muito ocupado. Quero tentar fazer algo na escala de Harry Potter, mas bem leve e inteligente. Não quero ser muito específico, porque tem muita coisa que ainda não tive a oportunidade de ler.

Como Harry Potter mudou sua carreira? São quatro grandes filmes, de uma das maiores franquias do cinema.

Me deu uma experiência enorme. Estes anos foram incríveis para mim, profissionalmente e pessoalmente. As pessoas com quem trabalhei foram maravilhosas. Foi ótimo. De certa maneira, me sinto como o curador desta série. Quando eu sair, vou me sentir novamente como um diretor estreante, então tenho uma vontade enorme de quando sair tentar algumas coisas que são bem diferentes de Harry Potter. Porque Harry Potter é essa coisa estranha e maravilhosa no conjunto total. É Harry Potter, sabe. Tem sido um grande privilégio e tenho muito orgulho desse trabalho, mas estou ansioso para quando eu sair, tentar algumas coisas que não sejam, necessariamente, filmes grandes e franquias.

É bem evidente que você olha estes dois últimos filmes com mais carinho do que os outros dois. Você sente que como se tivesse avançado ou que conseguiu colocar mais da sua vontade nesses dois filmes do que nos anteriores?

Eu sempre coloco a minha vontade. E fiz isso em cada um deles. Eu sempre tentei deixá-los um pouco mais terrenos. Sempre tentei ir para uma realidade mais emocional. Sempre tentei deixá-los mais intensos. Então sempre achei que os filmes de Harry Potter expressam o que eu faço como cineasta. Mas as expectativas são sempre enormes. Cada vez que faço um destes filmes, parece que não importa o que eu faça, sempre fico maravilhado. É extraordinário. Sou muito grato que tantas pessoas gostem tanto do filme. Sei que alguns não gostam ou ficam frustrados, mas há uma enorme quantidade de afeto pelo que fazemos e as expectativas são sempre altíssimas.

(Tradução: Carina Toledo)

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