Le parkour é uma atividade física que consiste em transpôr qualquer obstáculo que apareça em um trajeto. De origem francesa, esta mistura de esporte e malabarismo leva seus praticantes a saltar escadarias, subir muros e pular telhados rapidamente, encarando a paisagem urbana como um grande conjunto de desafios a ser superado. Mas muito antes do atual hype em torno da modalidade, Jackie Chan já fazia isso em seus filmes. Por isso, levar suas peripécias para a terra do le parkour pode fazer todo o sentido do mundo. É o que acontece no mais recente filme do astro chinês, que retoma sua parceria com o comediante Chris Tucker, na terceira parte de Hora do Rush, grande sucesso de bilheterias em 1998.
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Seis anos depois da segunda aventura, a improvável e divertida dupla formada pelo detetive James Carter (Chris Tucker) e o inspetor-chefe Lee (Jackie Chan) está de volta para uma nova missão.
Lee está novamente nos EUA, desta vez escoltando seu velho amigo, o embaixador chinês Han (Tzi Ma), que irá anunciar um perigoso segredo. Perante os membros do Tribunal Mundial do Crime, ele diz ter conseguido o acesso a Shy Sheng, uma lista secreta e até lendária que contém os nomes dos líderes da maior organização mafiosa do mundo, a Tríade. Mas antes de anunciar o grande segredo, ele é baleado. A perseguição ao atirador coloca Lee frente a frente com seu passado, ao ter de enfrentar Kenji (Hiroyuki Sanada), seu irmão de criação que acabou indo parar nas ruas e se tornou um criminoso.
Com violência e rapidez, assassinos da Tríade procuram eliminar todos os que podem ter tido contato com a informação do paradeiro da lista, o que inclui a filha de Han, Soo Yung, que antes foi interpretada por Julia Hsu e agora é vivida por Jingchu Zhang. Protegida pelo político que lidera o Tribunal do Crime, Varden Reynard (Max Von Sydow), a garota mostra que, além de ter crescido um bocado, já não é mais tão indefesa como antes.
Depois de um reencontro atabalhoado de Lee com o detetive ("promovido" a guarda de trânsito) Carter, a dupla decide encontrar a tal lista. Incansáveis e imprudentes como sempre, eles invadem uma academia de kung fu e enfrentam o gigante chinês interpretado por Sun Ming Ming, jogador de basquete da NBA com 2,32m. Para fãs de filmes de artes marciais, impossível não lembrar de Bruce Lee enfrentando outro gigante do basquete, Kareem Abdul Jabar, em O Jogo da Morte (1978). Mas enquanto a cena de Lee e Jabar trazia uma aura heróica e grandiosa, a cena com Ming, Tucker e Chan é pura comédia visual.
Seguindo as pistas, eles acabam indo até Paris em busca de Shy Sheng, que estaria em poder de uma sedutora dançarina de nome Genevieve (Noémie Lenoir). Chegando lá, a dupla experimenta uma nada elogiosa "hospitalidade francesa", ao serem recebidos pelo delegado Revi (o cineasta Roman Polanski, em participação hilária). Xingados, socados, humilhados e violados (!), os dois vão descobrir que pisaram em território hostil muito antes de enfrentar os bandidos que foram perseguir.
Kenji e seus assassinos também seqüestram Soo Yung e atraem Carter e Lee para uma armadilha em plena Torre Eiffel. A mais icônica imagem de Paris se torna então o palco para cenas de alto impacto, graças à combinação do elenco com o diretor Brett Ratner (X-Men: O confronto final), que conduz a franquia pela terceira vez.
Além da perfeita sintonia entre os astros do filme, o elenco de apoio que se juntou a eles mostra ter sido escolha mais do que acertada. A nova intérprete de Soo Yung, a prestigiada atriz chinesa Jingchu Zhang, é uma gracinha de 27 anos que faz sua estréia mundial interpretando uma garota cerca de 10 anos mais jovem. E convence, sendo uma das boas surpresas do filme. Outra beldade oriental no elenco é a japonesa Youki Kudoh (Memórias de uma Gueixa), como a letal assassina Jasmine, que enfrenta Lee de igual para igual. Assim como Youki, o outro antagonista de Lee do filme, o japonês Hiroyuki Sanada, tem carreira respeitável em seu país, tendo trabalhado produções tão distintas como a versão original de Ring (que gerou O chamado) e diversas produções internacionais, incluindo a versão hollywoodiana do animê Speed Racer.
Mas a melhor surpresa do filme é a presença do impagável motorista de táxi George, que consegue roubar algumas cenas, numa participação inspirada do ator israelense radicado na França, Yvan Attal. Inicialmente um anti-estadunidense, ele se mostra fascinado pela aventura em que se vê inserido e vira um dos heróis da missão. Se uma nova continuação de Hora do Rush vier a ser filmada, os produtores têm de incluir George de qualquer jeito! Finalmente, vale notar a imponente e respeitável atuação de Max Von Sydow.
Sobre as cenas de ação, não há o que criticar nas tantas peripécias de Jackie Chan, com correrias enlouquecidas e pancadaria no melhor estilo oriental, como sempre. E o preço de tanta precisão é mostrado durante os créditos finais, num erro de gravação em que Chan se machuca de verdade.
A superprodução já arrecadou mais de 120 milhões de dólares desde que estreou nos EUA em agosto. O que seria motivo para comemorar, acaba não sendo um bom sinal se levarmos em conta que custou impressionantes 140 milhões. Mas que ninguém fique se preocupando com números e cifras (a menos que seja um dos investidores) imaginando serem um reflexo da qualidade do filme. Do começo ao fim, o longa vale cada centavo investido e certamente uma corrida ao cinema. Nem que seja em plena hora do rush.