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Surfista Prateado mulher é um erro da Marvel, mas não pelo motivo que você pensa

Será que era o momento de fazer a revelação?

03.04.2024, às 22H11.
Atualizada em 04.04.2024, ÀS 07H37

Julia Garner será uma versão do Surfista Prateado no novo Quarteto Fantástico. A escolha é ruim? Não mesmo, a atriz é incrível, se você viu Ozark, Inventando Anna ou A Assistente, você sabe do que eu estou falando - e é isso por si já deveria ser o bastante para comemorar. 

A questão é que, como toda escolha para o elenco de uma grande franquia, polêmicas e discussões se promovem muito antes da estreia ou até mesmo das filmagens. No caso de Garner, que é uma das atrizes mais talentosas da geração, um grande porém se põe no debate, e tem como foco o momento do anúncio e da Marvel em si. Precisava mesmo ter revelado que a moça ia ser uma versão feminina de um personagem conhecidamente masculino? 

Os mais puristas dirão que ela será Shalla-Bal, par romântico do Surfista que já foi o próprio arauto em uma história isolada nos quadrinhos. E tudo bem, vocês estão certos. O lance, na real, é outro. A gente vive um momento em que todo e qualquer tipo de desvio da norma padrão vem carregado do selo “lacre”; e por mais que a alcunha seja abjeta, a própria Marvel, com alguns filmes e séries bem duvidosos, ajudou a estigmatizar as tentativas de diversificar suas histórias.

A verdade é que, independente do que você defende, a revelação antecipada não ajuda ninguém a lutar por algo se não há qualidade ou conexão com o público que vai consumir aquilo. Até para se discutir e debater precisamos de conexão, se não, no fundo, é só um bando de gente gritando para o vazio. E como uma marca que preza pelos fãs, todos eles, a Marvel parece se distanciar desta conexão em quase todos os lados. 

Digo tudo isso porque há muitas chances de, com o elenco incrível que estão montando e o ótimo Matt Shakman como diretor (baita trabalho em Wandavision e Monarch), esse novo Quarteto Fantástico ser um filme muito legal e digno da reconstrução que a Disney e Marvel procuram. Porém (olha ele aí de novo) a repetição de uma tática (se é que é isso mesmo) de ir contra as expectativas e já trazer parte significante do público contra a própria marca, não me parece muito sábia. 

Não é sobre “o choro é livre” ou algo do tipo. É que mesmo que, especialmente nos dias de hoje, em que a expectativa e as narrativas prévias às vezes moldam mais a experiência do que o próprio produto, acho esse anúncio (e só o anúncio) um erro da Marvel - pois não faltará gente falando que o filme é ruim sem ver, ou que tem cheiro de flop por causa dessa escalação. Um fato é que mudar gênero ou alterar cânone não é, nem nunca foi motivo de sucesso ou fracasso - pensar isso é somente atestado da ignorância aos fatos, tanto mercadológicos quanto criativos.

O melhor produto nem sempre é o mais bem sucedido. Por outro lado, a marca que melhor se comunica com seu público sempre terá mais sucesso. E essa afirmação fica cada vez mais evidente em um cotidiano que é pautado pelas redes sociais e bolhas na internet. Por isso, para uma empresa/estúdio que sempre foi exemplo ao contar histórias e controlar a narrativa, esse me pareceu mais um tropeço na hora de montar a estratégia de reconstrução.

Dito isso tudo, as chances de esse filme ser incrível só aumentam com a chegada da Julia Garner. Vejam A Assistente, e vocês entenderão do que eu estou falando.