Enquanto a Pixar segue uma linha de animações mais complexas e inteligentes, cheias de significado e visualmente arrojadas, as demais produtoras seguem apostando no básico: Ação e muito humor. Vez por outra, porém, saem produções desse segundo escalão tão boas quanto às do estúdio ligado à Disney. A DreamWorks Animation já havia acertado em cheio com Shrek e agora cria um novo personagem com tanto potencial para tornar-se uma nova franquia milionária quanto o ogro verde: O panda Po.
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Dublado pelo excelente comediante Jack Black, que lhe forneceu alguns dos movimentos e diálogos além da voz, o ursídeo protagoniza Kung Fu Panda. Com pouquíssimas pretensões narrativas a não ser 90 minutos de bem-humorada aventura, o filme destaca-se especialmente pela direção de arte. A técnica da computação gráfica é belíssima, atenta aos menores detalhes plásticos e extremamente colorida, estilizada mas com algo de oriental - obviamente aproveitando-se da ambientação na China, país do momento pela relevância econômica no planeta e pelos Jogos Olímpicos de Pequim.
O design dos personagens e sua pesquisa é igualmente digno de nota. Os "Cinco Furiosos" - Louva-a-Deus (Seth Rogen), Macaco (Jackie Chan), Garça (David Cross), Tigresa (Angelina Jolie) e Víbora (Lucy Liu) usam nomes de animais cujos movimentos inspiraram escolas do kung-fu. Já o diminuto Mestre Shifu (Dustin Hoffman) tem seu nome derivado do chinês "sifu", que significa "mestre" num sentido quase paternal. A coreografia dos cinco primeiros nas lutas é empolgante e criativa, digna de produções chinesas de artes marciais, imaginando como seria se os animais realmente lutassem o kung-fu que eles inspiraram os humanos a inventar.
Na história, co-dirigida por John Stevenson (Father of the Pride) e Mark Osborne (episódios de Bob Esponja), Po, um urso preguiçoso e comilão que ajuda o pai na sua vendinha de macarrão, descobre que é "O Escolhido" e, segundo uma profecia, deve salvar o Vale da Paz quando o leopardo Tai Long (dotado do icônico vozeirão de Ian McShane) escapa de sua prisão (seqüência, aliás, excepcionalmente bem feita). Cabe então à equipe de mestres transformar o gorducho panda no lutador que ele precisa ser para encarar seu destino e salvar seu lar.
Mas se o roteiro é despretensioso, fora uma ou outra cena inofensiva de "budismo pra ocidental ver" e umas lições de auto-afirmação dignas dos filmes da Xuxa, isso não significa que tenha momentos de puro brilhantismo. A cena com Po fora do templo onde está sendo conduzido o torneio para definir o Guerreiro Dragão é excelente por não mostrar nada do que está acontecendo lá dentro. A sugestão, através do som, um narrador e eventuais pirotecnias que escapam à edificação, é desesperadora. Assim como o Panda, que não consegue enxergar seus ídolos lá dentro, ficamos angustiados. Outro detalhe genial é a hilária relação do urso com o pai (um ganso!), que o filme deixa sem qualquer explicação, num delicioso momento nonsense. Se os dois são tão tapados e estão felizes daquele jeito, pra quê você vai querer saber suas origens? A cativante irrelevância desse momento é outro dos trunfos do texto, que inclui ainda outros detalhes divertidos, como o fato de todos os cidadãos serem "comida chinesa" (porcos, patos, coelhos...).
Ok, confesso que não entendi muito bem a referência culinária e tentei entendê-la questionando a bela Lucy Liu, que me devolveu a pérola "não os vejo como comida, sou vegetariana". Egocêntrica a moça... ora, se ela não os vê assim não significa que os produtores não tenham pensando nisso. É óbvia demais a relação para ser ignorada.
Comida chinesa e lições à parte, esta é uma comédia de ação animada sem vergonha de ser apenas isso: Uma comédia de ação animada. Dessa forma, de todos os princípios budistas, fica a certeza que ao menos um é perfeitamente entendido pela produção, o de que o homem deve viver uma vida honesta. Sim, porque honestidade não falta a Kung Fu Panda.