Quatro amigos dividem um apartamento na Paris dos anos 1830. Preocupados mais em viver a vida no seu máximo do que em enriquecer com suas obras, os quatro driblam seus problemas econômicos como podem e se divertem ao fazê-lo, de preferência com vinho, boa comida e mulheres. É assim o começo de La Bohème, ópera do compositor italiano Giacomo Puccini, que foi adaptada integralmente ao cinema pelo cineasta romeno Robert Dornhelm.
La Boheme
La Boheme
E quanto eu digo integralmente, eu quero dizer integralmente mesmo! Estrofe por estrofe (ou, como diriam aqueles que torcem o nariz para óperas, "grito por grito"). São quase duas horas de cantoria ininterrupta no mesmo italiano do original protagonizadas pelo poeta Rodolfo, que quando conhece a costureira Mimì, se encanta com a sua beleza e vive uma paixão avassaladora.
No pano de fundo está o relacionamento do pintor Marcello com a namoradeira Musetta. Quando ela é apresentada, os quatro amigos estão em um caro restaurante do Quartier Latin, comemorando o golpe que deram no seu senhorio. O filósofo Colline e o músico Schaunard só acompanham os apaixonados Rodolfo e Mimì, e vêem seu amigo Marcello se envolver no jogo de ciúmes articulado por Musetta.
O terceiro ato mostra uma Mimì desesperada depois que Rodolfo partiu. Ela sabe que seu amante está fugindo porque ela está doente e não quer vê-la definhar. Porém, é aos braços dele que ela consegue voltar no ato final, o único que conta com palavras faladas em vez de cantadas.
É, sem dúvida, uma bela história, muito bem contada e com ótimas atuações, mas será que nos dias atuais foi certa a saída do diretor? Filmar uma ópera palavra a palavra acrescenta o que ao cinema? Por que não adaptar a obra para uma outra época, talvez diminuindo os números musicais?
Vale, porém, elogiar e muito a parte técnica. Mesmo bastante cansado pela cantoria, resolvi ficar até o fim dos créditos para ter certeza de que aquela produção era mesmo de 2008, pois os cenários e a fotografia têm um ar dos filmes dos anos 1950 e 1960 que me deixaram curioso. O bom é que toda a parte dos créditos era muda, sem uma nota sequer de trilha de fundo.