O diretor Karim Aïnouz esclareceu, em entrevista ao Omelete, a história do engavetamento de Motel Destino pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) durante o governo Jair Bolsonaro. Revelado inicialmente pela atriz Nataly Rocha, também em entrevista ao site durante o Festival de Gramado 2024, o entrave impediu que o filme acontecesse antes da pandemia de covid-19.
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“Nós escrevemos o filme em 2016, e ganhamos um edital de produção em 2017”, contou Aïnouz, se referindo ao incentivo financeiro que a Ancine costumeiramente dava a produções nacionais - ao menos, até a posse de Bolsonaro, em 2019. “Esse edital foi assinado, mas nunca foi honrado. [...] Eu tinha desistido de fazer o filme! Se o contrato não foi honrado na época da assinatura, achei que nunca seria. Mas em 2023 [após a mudança de administração] aconteceu, e quando o dinheiro veio, eu falei: vamos gravar logo!”.
O cineasta refletiu sobre como o governo Bolsonaro buscou “sangrar” a produção cultural no país: “O objetivo do governo fascista era, de fato, sangrar tudo que nos permitia continuarmos vivos enquanto produtores culturais. O que eles fizeram com a Ancine foi muito mais perverso do que se tivessem só fechado a agência - eles deixaram a Ancine sangrando, nada foi honrado, até para que a gente nunca pudesse acusá-los de fechar a instituição. Ela nunca parou, mas entrou em um processo de lentidão impraticável”.
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Motel Destino acompanha Heraldo (Iago Xavier), um jovem que se esconde no estabelecimento do título após um incidente perigoso que coloca sua cabeça a prêmio. Por lá, no entanto, ele encontra o casal Dayana (Rocha) e Elias (Fábio Assunção), e logo percebe que a dinâmica entre eles é tóxica e violenta.
O longa, produzido pelo Cinema Inflamável e pela Gullane, chega aos cinemas nacionais em 22 de agosto.