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O Balconista 2

Doze anos depois, Kevin Smith continua o filme que o consagrou

28.06.2007, às 16H00.
Atualizada em 03.11.2016, ÀS 18H00

O cineasta Kevin Smith ganhou notoriedade com O Balconista. O filme custou parcos 27 mil dólares - conseguidos com a venda da coleção de gibis do cineasta - e faturou 3 milhões. Acabou se tornando um cult nerd. Depois disso ele continuou sua carreira cinematográfica com filmes direcionados ao público que o consagrou e, ao mesmo tempo, recriando personagens em quadrinhos como o Demolidor e o Arqueiro Verde. Talvez achando que estava na hora de crescer, investiu pesado em Menina dos olhos, uma produção direcionada a um público mais tradicional. O filme custou 35 milhões de dólares e faturou por todo o planeta a mesma quantia. Foi um fracasso mesmo com um elenco de estrelas. Smith precisava reencontrar o caminho. Ele resolveu buscar a solução nas origens. O Balconista 2 (2006) é o resultado dessa busca.

Na trama, Dante Hicks (Brian OHalloran) chega para trabalhar no Quick Stop e descobre que a loja está pegando fogo. A cena nos remete a produção original e Smith faz questão de iniciar em preto e branco, da mesma forma que o primeiro foi filmado. Seu companheiro de trabalho, Randal Graves (Jeff Anderson), mais uma vez deixou a cafeteira ligada. O acontecimento força os dois a irem ainda mais baixo na vida profissional - aos 30 anos eles conseguem um emprego na lanchonete de fast food Mooby (uma referência ao filme Dogma, de 1999). Mas Dante está noivo de Emma Bunting (Jennifer Schwalbach Smith - mulher de Smith na vida real) e o casal pretende se mudar para a Flórida, onde viverão às custas do pais de Emma. É a chance de Dante ingressar finalmente no universo dos adultos. Porém, no caminho da felicidade está Randal, que resolve fazer uma festa de despedida para o amigo. Enquanto isso, Jay (Jason Mewes) e Silent Bob (Kevin Smith) continuam do lado de fora da loja vendendo drogas. A diferença é que eles descobriram Jesus e não estão mais fazendo uso dos produtos que comercializam. Além de todos os rostos conhecidos, a história introduz novos personagens como Becky (Rosario Dawson), a gerente da Mooby que parece nutrir mais que uma amizade por Dante; e Elias (Trevor Fehrman), sujeito crente e fanático por Transformers.

O orçamento aumentou, mas o espírito anárquico continua o mesmo. O filme retrata um dia na vida de Dante e Randal da mesma forma que no primeiro filme. Kevin Smith retorna aos personagens após doze anos e as situações e piadas continuam ótimas. Nem parece que passou tanto tempo entre o primeiro filme e a continuação. Referencias às drogas, racismo, homofobia e sexo ainda são o prato principal do cardápio de piadas de Smith. Tudo politicamente incorreto, mas sem descambar para o escatológico. O que não significa que o filme seja indicado para qualquer público.

Randal continua disparando sua metralhadora de pensamentos e filosofia baseada na cultura pop com o mesmo frescor. Ele pode não diferenciar Anne Frank de Helen Keller, mas quando o assunto é Star Wars e O Senhor do Anéis, ele é PHD. A discussão sobre qual seria a melhor trilogia entre ele e Elias já virou antológica. Pela genialidade, lembra a definição do Super-Homem feita por Quentin Tarantino em Kill Bill.

O elenco continua afiadíssimo. Os assuntos são tratados de forma casual, nos fazendo acreditar que aquelas pessoas realmente existem. Os novos personagens também dão o recado com destaque para Trevor Fehrman no papel de Elias. Sua explicação para Randal sobre os motivos de não fazer sexo com a namorada é de chorar de rir. Ben Affleck e Jason Lee fazem as costumeiras participações especiais. Além de serem amigos de Smith, já protagonizaram alguns de seus filmes (Barrados no shopping, Procura-se Amy e Menina dos olhos).

Mas O Balconista 2 não é só divertimento descompromissado. Interessante que a narrativa consegue dosar com eficácia humor e drama. Entre as cenas de comédia, Smith defende seus personagens como o coração. Eles já passaram dos 30 anos e precisam escolher que trajetória trilhar. Chega um momento da vida que, para alguns, o caminho mais certo é a segurança de um emprego com possibilidades de crescimento e um relacionamento sério. E nesse momento que percebemos uma espécie de metáfora na carreira de Kevin Smith. Da mesma forma que Randal questiona Dante sobre as suas escolhas, Smith parece estar em dúvida sobre seu futuro. Vamos torcer, como bons nerds que somos, para que sua porção Randal vença.

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