Todo filme baseado num romance conhecido nasce coberto de apreensão e carregado de expectativa. Mais ainda quando é um best seller querido e cultuado por muitos, como o suspense O perfume, de Patrick Süskind.
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Projetos desse tipo costumam passear por produtores e levam anos para serem produzidos. Com este não foi diferente. Até Ridley Scott esteve interessado um tempo em levá-lo para as telas, numa produção hollywoodiana. Mas trata-se de uma obra alemã e os fãs respiraram aliviados quando a adaptação desenvolveu-se totalmente no Velho Continente (co-produção Alemanha/França/Espanha), com um alemão na direção.
Tom Tykwer, famoso pelo "videoclíptico" Corra, Lola Corra, está irreconhecível na cadeira do diretor. Nada da correria de Franka Potente, nada de cortes bruscos e música alta. Nada de empolgação. O ritmo é lento e os planos são concentrados e fechadíssimos nos momentos em que o protagonista emprega suas excepcionais habilidades olfativas. Mais um pouco e dava pra ver os cravos dentro dos poros da pele de Ben Whishaw, que vive o aberrante Jean-Baptiste Grenouille, personagem que a trama persegue de maneira perturbadora.
A história se passa na França do século 18, quando um jovem nasce com uma anormalidade: Não tem odor algum, o que faz com que seu olfato seja extremamente apurado. Ciente de suas habilidades, conforme cresce Jean decide empregá-las como perfumista, passando a buscar a essência perfeita. Acontece que ele descobre que a base de seu perfume só pode ser extraída de uma fonte bastante incomum: Corpos femininos.
A técnica é perfeita, a direção de arte, figurinos, idem. Há até bons efeitos especiais, como quando as cidades, especialmente a imunda Paris do século 18, são mostradas de ângulos abertos. Tykwer só erra a mão na duração. Estende-se desnecessariamente em cenas diversas, encantado demais com o tema, seus planos e soluções. Faltou dureza na montagem - algo que Hollywood sabe fazer muito melhor que qualquer outro lugar do planeta quando o assunto é um filme comercial. Com 2 horas e 30 minutos, Perfume é longo demais.
Traseiros quadrados à parte, há o mérito de Tykwer ter conseguido filmar o infilmável - odores. Afinal, trata-se de uma obra sobre o menos artístico dos sentidos, que consegue de certa forma ser registrado na tela através de insinuações visuais e apelando para a memória olfativa do público.
E há o clímax, o sensacional desfecho, e esse só estando lá mesmo pra ver (e, quem sabe, sentir o cheiro).