O Omelete conversou com Aaron Johnson, o herói de Kick-Ass: Quebrando Tudo em Londres. Na conversa ele falou sobre suas motivações, quadrinhos, superpoderes, Nicolas Cage, a ilusão gerada pelos figurinos, como foi trabalhar fora do sistema de estúdios e muito mais. Confira!
Kick-Ass
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O que te motivou a fazer esse filme?
Aaron Johnson: Dá para dar risadas. E também não é a típica ladainha de colegial. Começa com um clima cínico de colegial e aí entra nesse mundo louco, com muita violência. Encontrar um trabalho dessa qualidade foi como uma brisa de ar fresco. E eu também queria trabalhar ao lado de alguém como Matthew Vaughn - porque sou um grande fã de Nem Tudo é o Que Parece -, então eu sabia que ele conseguiria mostrar o lado mafioso com algo a mais e que o resultado seria ótimo. E ele provou isso.
Como foi fazer o sotaque dos Estados Unidos?
Eu não sei, você que me diga.
Pareceu convincente, estou surpreso, na verdade.
Certo, ótimo. Para mim, é um dos motivos que eu adoro fazer isso. É só mais uma parte da atuação, de ser ator. E eu gosto de me divertir com isso, então tive sorte de poder fazer parte desse filme, na verdade.
Você é um fã de quadrinhos?
Não sou um leitor de quadrinhos, mas sempre fui fã do Superman, Batman. Eu tinha todos os vídeos do Batman, em VHS. E do Superman também, era muito fã dele. E do Wolverine.
Se você tivesse um superpoder, qual seria?
Eu não sei. Tenho que viajar muito para promover os filmes, então acho que voar seria útil. Cortaria toda a parte da imigração.
Como foi trabalhar com Nicolas Cage?
Maravilhoso. Ele é um cara incrível, deu vida ao personagem dele com aquela imitação do Adam West. E você precisa ter culhões e ser muito corajoso para fazer coisas assim. Isso é inspirador para mim, poder ver um artista criando.
Ele te deu conselhos, ou uma opinião?
Não, ele não é esse tipo de cara e eu não conheço ninguém que faz isso. Mas você pode simplesmente observar as pessoas, e se sentir inspirado ao assistir o que ele faz. E acho que é isso que você recebe ao trabalhar com Nick. Ele é um cara muito legal e um grande fã de quadrinhos, então ele fez esse projeto por paixão.
Você teve a oportunidade de acrescentar algo seu ao personagem? Alguma fala, alguma expressão?
Sim, acho que acrescentei no sentido de criar algo diferente, de entrar com paixão e fazer aquilo que você gosta. E não ter medo, porque é isso que esse personagem é. Eu consigo me identificar com isso, porque sou de uma pequena cidade fora de Londres e escolhi uma profissão muito diferente da das outras pessoas. Eu ia fazer os testes, voltava para o colégio e ninguém sabia onde eu tinha ido e eu nunca falava sobre isso. Então eu era o Dave, de certa maneira.
Como ator, fica mais fácil interpretar quando você veste uma fantasia? A fantasia te influencia?
Sim, com certeza. Seja um par de jeans e uma camiseta, ou a roupa de mergulho em si. Quando vestia óculos grandes e roupas folgadas, eu era Dave Lizewski. Para mim, como ator, eu entro no personagem dessa maneira. Então ao vestir a roupa de mergulho, eu definitivamente me sentia como um garoto nerd tentando ser descolado. Sabe, me sentia como o Kick-Ass.
Na vida real, você se parece com seu personagem? Digo, você se sente tímido e gostaria de ter uma máscara, para se expressar?
Sim, definitivamente temos que vestir uma máscara em algum momento da nossa vida. Mostrar uma fachada.
Você realmente fez suas cenas de ação, quando seu personagem estava com a máscara? Você realmente chutou algumas bundas?
Eu tentei. Obviamente eu não tenho sucesso em chutar bundas, nesse filme.
Mas é realmente você em algumas daquelas cenas?
Sim, com certeza. Isso foi ótimo. Matthew nos deu a oportunidade de fazer as cenas de ação que quiséssemos. Eu não digo que fiz todas, mas poderia dizer 99%, porque temos as questões do seguro. Foi o mesmo com Chloë, ela trabalhou pra caramba. Ela foi esforçada, persistente e fez quase todas aquelas cenas também. As minhas cenas de luta eram basicamente uma coreografia improvisada. Mas como eu costumava ser dançarino, aprender a coreografia, a ordem dos movimentos de quem vai me bater na cabeça pela direita, por exemplo, não foi tão difícil. Especialmente porque tudo veio basicamente das minhas próprias habilidades. Eles não quiseram me treinar, era para ser o mais desajeitado possível. Porque como é para parecer um garoto normal, quanto pior que meu personagem lutasse, melhor. Então, meio que fizemos tudo ali, na hora. E eles querem que seja você atuando, para que possam filmar mais closes e eu estava disponível para tudo isso e claro que me machuquei um pouco também.
A polêmica da violência, levantada por algumas pessoas, te fez ter dúvidas sobre fazer ou não o filme?
Não, de maneira alguma. Foi uma ótima adaptação do quadrinho. A violência era a estrela do quadrinho. Já na capa todos têm um monte de sangue na cara. Então fiquei feliz que eles seguiram em frente com o roteiro, porque teve toda aquela questão de que os estúdios não queriam o filme. E os estúdios queriam que a Hit-Girl tivesse pelo menos 16 anos, ou algo assim. E, obviamente, Matthew entrou de cabeça e assumiu um risco. Ele fez do jeito dele, de maneira independente, e agradeço a Deus por isso, porque o resultado ficou incrível. Esse filme tem outra qualidade, porque são realmente garotos que estão no colégio e se vestem de super-heróis, diferente de Homem-Aranha, que é estrelado por um cara de 30 anos.
Você acha que as pessoas vão se identificar mais com Kick-Ass porque ele é um super-herói sem super-poderes?
Bom, nenhum dos heróis do filme têm superpoderes, mas acho que poderão se identificar com Dave e com o fato de ser um garoto normal que está tentando encontrar uma válvula de escape, e fazer aquilo que você ama. E acho que podem se identificar com Kick-Ass, por mais que ele apanhe. Então acho que mesmo que você se identifique com ele, não vai querer fazer igual.
Como foi para você, como ator, trabalhar fora do sistema dos grandes estúdios? Você gosta? Você odeia? Seu trailer era pior? Porque para a plateia não há diferenças, mas para quem é da indústria deve ser diferente.
Obviamente quando um filme é "indie", não quer dizer que ele é artístico. Isso é só um jeito mais curto de dizer independente. E isso significa que não foi financiado por um estúdio. Você encontra um jeito de financiar o filme e faz do jeito que quiser fazer. E não foi um filme independente barato, até que foi bem grande. Seria engraçado se fôssemos indicados para prêmios de filmes independentes. Porque esse é um filme britânico independente, mas eles provavelmente vão nos excluir, então será interessante ver o que acontece. Acho impressionante fazer um filme assim de forma independente. As pessoas não fazem esses filmes desse jeito. Para mim, fazer um filme independente significa trabalhar em equipe. E é isso que você vê nesse filme, nós trabalhamos juntos como uma família. Matthew usou a mesma equipe com quem trabalha desde Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes.
Como você escolhe um roteiro?
Procuro uma história interessante. Personagens que eu consiga imaginar e já visualizar o que eu poderia fazer. Procuro coisas que são diferentes, porque é difícil encontrar alguma coisa que é orginal, hoje em dia.
Vocês já estão conversando sobre uma continuação para este filme?
Bom, vamos dar um tempo para que todos assistam ao primeiro e espero que gostem. Tenho certeza que gostarão, porque é muito legal. Muitos fãs do quadrinho querem mais um e sei que Mark Millar quer publicar uma continuação da HQ, que deve sair em breve. Então Mark Millar e Matthew estão criando algumas ideias fantásticas para uma continuação, caso dê tudo certo.
Você gostaria de voltar a interpretar Kick-Ass?
Claro, com muita alegria.
Você teve algum contato ou oportunidade de conversar com Mark Millar?
Ele veio ao set várias vezes. Ele estava bem contente, estava feliz.
Mas seria certo dizer que a visão dele é quase impossível de transpor para o cinema? Por que existem certos acontecimentos do quadrinho que não entraram no filme.
Bom, Mark Millar colaborou com Jane Goldman e Matthew Vaughn para escrever o roteiro e ele esteve sempre por perto. Quando começamos a filmar, só tinham sido publicadas as três primeiras edições da HQ. Red-Mist e Hit-Girl ainda nem tinham sido apresentados na história. Quando terminamos de filmar, saiu a quinta edição e Hit-Girl tinha acabado de ser apresentada e Red-Mist estava prestes a vestir a máscara. Tentamos seguir o quadrinho da melhor maneira possível, mas filmamos antes do final sair, então... O quadrinho conta a história em uma estrutura diferente do filme, porque não se pode interligar os momentos de introduzir personagens da mesma maneira que é possível fazer num livro. Se você perguntasse isso ao Mark Millar, ele diria que precisou se afastar do filme para contar a história no formato dos quadrinhos, em que cada episódio traz novos personagens e esse tipo de coisa. O final da HQ e do filme é diferente, porque você precisa usar coisas diferentes pelo suspense e pela tensão das cenas finais.
A adaptação ao cinema da HQ de Mark Millar e John Romita Jr. narra a história de um adolescente normal, Dave Lizewski (Aaron Johnson), que decide adotar o codinome Kick-Ass, vestir uma fantasia de super-herói, empunhar bastões e combater o crime.
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