Lois Lane, Bond Girl, objeto de desejo de Jerry Seinfeld, Dona de Casa Desesperada e agora Mãe. E Outra Mãe. E Monstro. Essa é Teri Hatcher, atriz que dubla três papéis em Coraline e o Mundo Secreto, longa-metragem em animação stop-motion que Henry Selick (O Estranho Mundo de Jack) criou em 3-D estereoscópico. Conversamos com Teri em Los Angeles em duas ocasiões, uma mesa redonda e uma exclusiva em vídeo. Leia agora como foi nossa primeira entrevista com a atriz, que foi extremamente simpática e cativante.
Coraline
outra mãe
Como foi esse processo que a levou a dublar uma série de personagens em Coraline?
Foi maravilhoso. A vida toda eu quis fazer uma animação infantil e adoro O Estranho Mundo de Jack e o trabalho de Henry Selick. Então, ter essa oportunidade de trabalhar ao lado dele - e ainda por cima com um tema tão incrível e fazendo três vozes diferentes - foi um desafio que adorei ter. Especialmente a questão da definição das três vozes. E o resultado ficou incrível, acho que é um dos filmes mais lindos que já vi. Fiquei muito satisfeita comigo mesma nele também. Estou orgulhosa.
Sabe, sempre que eu assistia a animações com minha filha ficava me perguntando "por que eu não fiz teste para esse filme?" Então é algo que pensei minha carreira toda em fazer, um longa animado. Minha filha, aliás, ficou muito animada quando levei o roteiro pra casa, pra analisar. Ela ficou fascinada com a história. É algo que sempre esteve na minha lista...
E o que mais há nessa lista?
Ah, uau... tanta coisa... Eu tenho uma produtora, estou trabalhando em algumas séries de televisão, temos alguns roteiros circulando, outros quase fechados. Estou muito interessada em criar um ambiente de trabalho, um local onde pessoas possam ir trabalhar animadas todos os dias, sejam tratadas com respeito e colaborem entre si. Sonho em um dia ver algum projeto que eu produzi sendo premiado... Provavelmente escreverei um novo livro em algum momento e também quero dirigir algum dia... Atuar no cinema, por outro lado, não é uma prioridade. Eu passo 10 meses por ano fazendo Desperate Housewives então me resta muito pouco tempo para cuidar de todas as outras idéias e ficar com minha filha. Felizmente, meus projetos na produtora eu consigo tocar depois da meia-noite, quando ela vai dormir.
Falando em Desperate Housewives, você ficou surpresa com as mudanças nesta temporada - o salto de cinco anos no futuro?
Estou achando ótimas as mudanças. Foi uma escolha arriscada dos produtores, mas inspirou muito os escritores. E quando você tem escritores inspirados, há grandes chances de que material incrível seja produzido. Eles, basicamente, ganharam um quintal completamente novo, ainda que já conhecido.
Voltando a Coraline - você é tão bacana... como entrou em contato com seu lado maligno para fazer a vilã?
Ahahahahaha, obrigada! Ah, eu não acredito nessa coisa que alguns falam de que para atuar você tem que ter aquilo dentro de você. Pra mim, aquele lado maligno - todo aquele desespero, solidão e raiva, aquele descontrole emocional - é algo simplesmente divertido de explorar. Nunca fico daquele jeito, não. Ahahaha. Nunca estouro daquele jeito com a minha filha. Acho que sou uma ótima mãe. Fiz sacrifícios enormes de carreira e relacionamentos por ela. Minha prioridade na vida é essa relação - é a coisa mais importante que já tive ou terei.
Qual a diferença entre atuar sozinha numa sala com um microfone e com outros atores, no set?
A maneira de chegar à personagem é a mesma. Você precisa acessar as motivações, saber em que ponto quer chegar com antecedência. A diferença é que você pode brincar mais com a entonação - tentar várias coisas - algo que não acontece no set. Algo que foi muito bom em Coraline é a maneira como Henry conduziu a dublagem. Eu consigo fazer vozes esgarniçadas se precisar [diz com a voz esgarniçada], mas nunca foi a intenção dele ter isso. Ele queria vozes naturais e reais em um mundo mágico. O difícil então foi encontrar um meio-termo, vozes reais que representassem o estado emocional de cada uma dessas personagens sem parecer caricata.
Você é uma atriz que demora para sair de sua personagem?
De jeito nenhum. Psicologicamente nunca. Mas o que acontece frequentemente é que quando tenho uma cena emocionalmente forte, como aconteceu agora, no centésimo episódio de Desperate Housewives - no qual passo minutos chorando - meu corpo demora para entender o que está acontecendo. Minha cabeça diz "ufa, acabei de trabalhar e foi ótimo", mas meu corpo simplesmente acha que eu estou em frangalhos, já que passei horas chorando. No outro dia fico péssima...
Com tanto sucesso, como você se mantém com os pés no chão?
Carros velhos. Ahahaha. Eu dirijo carros velhos. Meus carros têm pelo menos 15 anos. E gosto de acampar. E me vejo antes como mãe do que como atriz. Também não frequento essas coisas de Hollywood... festas, sei lá. Acho que foi a maneira como fui criada. Pais que tinham pouco, que valorizam as coisas simples. Tudo bem, festas e glamour são legais às vezes... mas eu não troco uma noite de sábado com os amigos em casa tomando vinho e jogando Banco Imobiliário. Isso ninguém nunca consegue tirar de você.
Coraline conta a história de uma garotinha que vive com seus pais em um enorme e antigo casarão. Acostumada a explorar os vastos jardins e pátios, Coraline fica um dia trancada em casa por causa da chuva, aborrecida. Decide então contar as coisas azuis, as janelas e as portas - e atrás de uma delas acaba achando um universo alternativo, sombrio, estranho e aterrador, onde existem versões de seus pais com enormes botões no lugar dos olhos. O filme estreia aqui simultaneamente aos EUA, em 6 de fevereiro de 2009.