Filmes

Entrevista

Omelete Entrevista: Vera Farmiga

Atriz fala da sua relação com o diretor, atual crise econômica e a cena do casamento

26.01.2010, às 00H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 08H10

Vera Farmiga já vinha conversando com o diretor Jason Reitman desde a sua estreia, em Obrigado Por Fumar. Agora, em Amor Sem Escalas (Up In The Air), os dois finalmente trabalham juntos. Ela interpreta Alex, uma versão de saias do personagem vivido por George Clooney, um cara solitário que reveza check-ins em hotéis e aeroportos.

O nosso correspondente em Los Angeles, Steve Weintraub, editor do site Collider, representou o Omelete na série de entrevistas sobre o filme. No bate-papo com Farmiga, eles conversaram sobre como ela se envolveu no filme, a atual crise econômica e conta detalhes da cena do casamento.

Confira abaixo, na Galeria de Vídeo (requer Quicktime) ou na transcrição feita por Carina Toledo:

Eu estou cobrindo para o Brasil, um site chamado Omelete. Você já esteve no Brasil?

Não, mas eu tenho um cunhado brasileiro. Tenho um pouco de Brasil na minha família agora.

É um lugar que você gostaria de ir?

Provavelmente São Paulo, para visitar a família dele.

Ok, tenho certeza que eles vão ficar felizes de ouvir isso. Acho que a primeira pergunta é: como você chegou nesse projeto?

Jason viu um filme que eu fiz, chamado Down to the Bone, no Festival de Sundance em 2004. Esse foi meu cartão de visitas. E daí nós conversamos sobre Obrigado Por Fumar, eu li para um papel ou dois, que não deram certo. E então eu recebi uma ligação e um roteiro apareceu na minha porta. Daí recebi uma ligação dizendo que o Jason gostaria de marcar um encontro. Então nos encontramos para uma xícara de chá de camomila, no Gramercy Park Hotel, em Nova York. Eu estava grávida de quatro meses, então pensei que não ia rolar de jeito nenhum, por causa das datas, que seriam muito próximas. Mas aí eles tiveram que esperar de qualquer maneira para o cabelo do George crescer. E aí quando percebi estava à bordo.

Você obviamente lê muitos roteiros. Quando você estava lendo este, quanto tempo demorou pra você saber que ele era especial?

Foi antes mesmo de começar. Sabe, esse é o terceiro filme do Jason - ele fez também curtas e comerciais que eu não assisti - mas você já sabe que ele está se estabelecendo como um autor, no sentido que os filmes dele são muito únicos. A maneira como ele lida com o tom. Fazer Juno, uma comédia sobre gravidez na adolescência exige culhões, sabe? E nesse filme, por exemplo, Anna interpreta uma mulher que está buscando uma conexão, e ao mesmo tempo está tentando defender sua filosofia de despedir as pessoas pela Internet. O George é uma pessoa que não quer conexões, mas é uma pessoa que está se esforçando para manter seu emprego e fazê-lo de uma maneira mais pessoal. E esses opostos são o que eu amo nos personagens que ele cria.

Uma coisa que é muito especial no filme é como ele é relevante socialmente, como ele lida com as coisas que estão realmente acontecendo na sociedade hoje. Quando você estava fazendo o filme acho que meio que já estava acontecendo, mas a economia e tudo mais está muito pior agora. Isso é uma coisa que, quando você assinou para fazer o filme, você se identificou? Você poderia falar um pouco sobre a relevância social do filme?

Eu me identifiquei com ele. Eu tenho um pai que foi despedido diversas vezes nos últimos anos, devido às reduções corporativas e também vítima da idade. É muito mais fácil contratar um garoto da faculdade, recém-formado e que requer um décimo do salário que ele ganha. É relevante para mim, estamos lutando com isso na minha família. Eles não têm seguro de saúde, eles têm mais três filhos para sustentar durante a faculdade. É uma questão real.

Uma das cenas que eu realmente gostei foi a sequência do casamento e como ela parecia espontânea. Você poderia falar um pouco sobre filmar essa cena em especial?

Sim. Sabe, a maior parte do roteiro do Jason é tão precisa. Todos os seus diálogos... Mas aí, em algumas partes, ele diz "Quer saber? Eu não tenho bem certeza disso, vamos simplesmente ser livres com isso". E ele fez isso várias vezes. Primeiro com os depoimentos, das pessoas desempregadas que compartilhavam suas histórias. Aparentemente ele tinha escrito essas falas e simplesmente achou que era uma farsa, e não era engraçado, e ele achava que vozes reais deveriam ser ouvidas. Ele tem uma abordagem de cinema-verdade para algumas coisas, de vez em quando, e a sequência do casamento foi uma delas. Ele contratou um planejador de casamentos real, ele disfarçou os principais operadores de câmera de cinegrafistas para o casamento, ele contratou uma banda de verdade, um pastor de verdade, um religioso que realmente casou Melanie Lynskey e o Danny McBride naquele dia. E nós fomos a três casamentos naquele dia. Ele manteve tudo muito livre e solto, meio que um parquinho em que nós podíamos nos comportar da maneira como nossos personagens se comportariam. E não tinha cenas programadas, a câmera simplesmente nos encontrava em um momento surpreendente. E a cena realmente transparece isso.

Ok, eu tenho que encerrar com você. Eu só gostaria de dizer parabéns, eu adorei o filme.

Fico feliz.



O filme já está em cartaz no Brasil