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Entrevista

Pantera Negra | “Ryan Coogler me ensinou que filmes de super-herói também podem buscar realismo”, diz figurinista

Indicada a dois Oscars, Ruth E. Carter preservou tradições africanas nos trajes do filme, que estreia no dia 15

08.02.2018, às 20H26.
Atualizada em 11.02.2018, ÀS 01H07

Em seu esforço para que toda a chefia de departamentos de Pantera Negra fosse ocupada por artistas negros respeitados por seu talento e sua militância, o diretor Ryan Coogler fez o que pôde para conferir o figurino do filme a uma lenda da representação racial entre as experts de corte e costura de Hollywood: Ruth E. Carter, veterana colaboradora de Spike Lee. Seu currículo fala alto sobre o lugar de voz dos negros no cinema americano: Mais e Melhores Blues (1990), Tina (1993) e Amistad, pelo qual ela conquistou sua segunda indicação ao Oscar, em 1998. A primeira veio em 1993, com Malcolm X. E inclua ainda nesse rol de atividades sua trajetória na TV: ela desenhou o vestuário da minissérie Raízes (2006).

Se você pegar um dos últimos filmes que eu fiz, Selma: Uma Luta Pela Igualdade, vai ver nele uma busca radical pelo realismo na maneira como tentei reproduzir roupas de época. Todos os filmes baseados em fatos reais, como este, em que trabalhei, têm um esmero de trazer algo mais do que verossimilhança. Seus diretores queriam o Real na tela, mesmo na ficção. Ryan Coogler me ensinou que essa busca pelo Real, em toda sua plenitude, também pode estar num filme de super-herói”, disse Ruth ao Omelete, comemorando o teor político de Pantera Negra, que estreia mundialmente no dia 15.

Para onde quer que se olhasse no set de filmagem de Pantera Negra havia uma referência ao cult do humor Um Príncipe em Nova York (1988) com Eddie Murphy, fosse em algum elemento em cena (em máscaras tribais sobretudo), fosse em um diálogo de corredor. Zamumda, a terra do nobre vivido por Murphy, estava em foco. Mas Ruth sabia que se fizesse como os atores, e se concentrasse numa referência cinematográfica (em vez de olhar para o mundo real), poderia incorrer num simulacro e perder a chance de buscar tradições ancestrais da África.

O traje do Pantera usado em Capitão América: Guerra Civil parecia obsoleto diante do projeto de debate social e racial em nossa frente: preferi atualizar o uniforme a partir de elementos culturais da África. O triângulo é uma figura recorrente na cultura de várias tribos, entrando como elemento em várias vestes tribais. Usei o triângulo como base geométrica dos croquis do traje de T’Challa e de seu medalhão”, disse Ruth, que trabalhou recentemente com seu amigo Spike Lee no musicla Chi-raq (2015), lançado aqui só na TV. “Era importante adaptar a roupa do Pantera para traços africanos sem perder a essência felina”.

Com as mãos ocupadas de croquis de roupas e máscaras, Ruth guiou uma parte da visita do Omelete aos sets da aventura estrelada por Chadwick Boseman (Get on Up: A História de James Brown), em Atlanta, nos EUA. As câmeras se concentraram nos estúdios da Screen Gems, uma subsidiária de grandes corporações cinematográficas, então a serviço da Disney. O papo inicial se deu numa mesa de cerca de dois metros e meio de comprimento, lotada de jornalistas de países distintos, num salão que servia de entrada para os escritórios do departamento de arte (lotado de desenhos de locação e de fotos de aeronaves, minas de vibranium e montes com estátuas gigantes) e do departamento de figurino.

Meu maior orgulho nesse filme foi desenhar as roupas da Dora Milaje, a guarda real do Pantera, feita só por mulheres negras, entre elas a minha linda amiga Danai Gurira”, disse Ruth. “O desafio era criar um uniforme de guerra que tivesse um apelo bélico aos olhos do público, sobretudo para quem é leitor das HQs Marvel, e que conseguisse realçar a beleza das mulheres. A beleza como força feminina”.

Além de  Chadwick Boseman no papel principal, o longa conta com Michael B. Jordan Forest WhitakerDanai Gurira vive Okoye e Lupita Nyong'o interpreta Nakia, as duas principais Dora Milaje do filme. Com direção de Ryan CooglerPantera Negra estreia em 15 de fevereiro.