Em 2002, a iraniana Marjane Satrapi começou a publicação na França de uma história em quadrinhos que contava sua autobiografia. Persépolis, em quatro volumes, foi um sucesso por lá e não demorou pra ser publicado também em diversos outros países, incluindo o Brasil.
Persepolis
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Não fosse uma história em quadrinhos, imagino que o livro, como o semelhante O Caçador de Pipas - também uma história ambientada no Oriente Médio sobre um estrangeiro em seu próprio país -, estaria em todas as listas de mais vendidos daqui. Mas o formato, que costuma espantar "leitores sérios" (pfff...), ainda sofre com o preconceito das massas consumidoras.
Caberia, assim, à adaptação cinematográfica a tarefa de popularizar a incrível história de Marjane. Assim mesmo, "caberia", no futuro do pretérito. Afinal, a autora optou por uma animação longa-metragem, preto e branco ainda por cima, como nova mídia para sua obra, outra que não tem lá grande apelo fora do público jovem.
Mas não se deixe levar por preconceitos - Persépolis, em qualquer formato, registra uma história de vida incrível e cativante sobre alguém que cresceu num país em constantes mudanças - normalmente para a pior - e conflitos. Marjane e sua família sofreram com a revolução islâmica e ela, espirituosa e contestadora desde pequena, foi "exilada" pelos pais na Europa, onde passou toda a adolescência (e alguns de seus maiores apuros).
Obviamente, comparar o conteúdo do filme com a história em quadrinhos é covardia. A história das 352 páginas impressas é simplesmente extensa demais para um filme com 95 minutos. De qualquer maneira, o longa faz um apanhado dos "melhores momentos" do livro e tem como seu grande mérito embelezá-lo. O traço de Marjane, inconfundível, ganha vida, texturas e outros tons de cinza - o que o diferencia bastante do preto e branco constrastado da HQ. O resultado visual é ainda mais bonito que o original.
Persépolis transborda carisma e um bom-humor contagiante, ainda que um tanto agridoce. A obra é cativante - mas, obviamente, não é para todos. O governo iraniano, claro, acusou o filme de "fazer um retrato irreal das conquistas e resultados da gloriosa Revolução Islâmica". Com tantos acontecimentos cinematográficos, daria até pra acreditar neles e desconfiar de exageros da autora... mas isso apenas se o sentimento que Marjane deixa aos seus leitores não fosse de puro amor pelo país, família e amigos - e simplesmente não dá pra discutir com isso.