Guillermo del Toro está fazendo sua estreia na direção de um longa-metragem de animação com sua própria versão de Pinóquio. Conhecido por filmes como O Labirinto do Fauno e A Forma da Água - longa pelo qual ganhou quatro estatuetas do Oscar em 2018, o aclamado diretor mexicano fez questão de deixar claro que seu mais novo trabalho não tem nada a ver com a história original de Carlo Collodi que conquistou a todos na infância.
“É um filme que as crianças podem ver, mas não foi feito para crianças”, ressaltou Guillermo em um evento com jornalistas organizado pela Netflix antes da estreia mundial do filme neste sábado (15), como parte do Festival de Cinema de Londres.
De fato, sua versão é bem mais sombria do que a que estamos acostumados, incluindo um pano de fundo com a Itália fascista de Benito Mussolini. Aqui, Pinóquio se mostra como um menino curioso e, muitas vezes, atrevido.
“Para mim, há o Pinóquio de Carlo Collodi, o Pinóquio de Walt Disney e o Pinóquio de Guillermo del Toro. O interessante foi: posso fazer um Pinóquio que celebre a desobediência em vez de celebrar a obediência? Posso fazer um Pinóquio em que ele não tenha que se transformar em um menino de verdade no final porque foi obediente?”, indagou o diretor.
“Foi muito interessante poder criar uma história e uma época em que todos se comportam como marionetes, menos ele. O boneco parece ter mais clareza do que deve ou não deve fazer do que os adultos ao seu redor”, acrescentou.
Enquanto alguma das marionetes usadas nas gravações circulavam pela sala, Del Toro também explicou por que decidiu usar a técnica stop-motion, e relatou as dificuldades de fazer um filme dentro desse universo:
“Quando você grava um filme de live-action, você está capturando algo, certo? Em stop-motion, você tem que provocar tudo. Nada vai acontecer na frente da câmera. Você provoca o vento se movendo, o cabelo, o tropeço, as pedras no chão. Você está criando um universo inteiro para a lente capturar. Não há nada que exista. Nem como coisa material, nem como movimento, nem como vida. São todos objetos de articulação inanimados.”
“Stop-motion tem sido uma arte perdida desde que começou. Stop-motion é absolutamente a animação mais incrível e exaustivamente exigente, e é feita apenas por um grupo de pessoas completamente estranhas que a sustenta, repetidamente. O vínculo entre a marionete e o animador é tão incrivelmente bonito e sagrado”, continuou.
Um filme biográfico sobre paternidade
Segundo del Toro, Pinóquio é uma história sobre a paternidade e as observações que ele fez como filho com o passar dos anos:
“O filme evoluiu ao longo de uma década e meia, foi se desenvolvendo, e a parte importante para mim era falar sobre ser pai e as coisas que observei. Meu pai faleceu depois de A Forma da Água. Acho que a beleza é, há uma bela simetria no filme. É um pai que implora por outra chance para seu filho. Ele consegue o filho e não o reconhece, porque não é o filho do jeito que ele gostaria que fosse. E há várias histórias paternas no filme e diferentes tipos de figuras paternas. Isso se multiplica ao longo da trama à medida que avança.”
“Nessa idade, só quero fazer as m****s que tenho que fazer. Tenho mais de 30 anos de carreira. Fiz o filme para mim. Tenho 58 anos, sou gordo. Então eu tenho o quê? Se eu fizer um filme, farei porque significa alguma coisa. Para quem assiste ao filme é uma filmografia, mas para mim é uma biografia. Estou orgulhoso do resultado”, finalizou.
O elenco de voz em inglês conta com Ewan McGregor, Christoph Waltz, Cate Blanchett, Tilda Swinton, David Bradley, Ron Perlman e Finn Wolfhard, além de Gregory Mann como Pinóquio.
Com direção de Guillermo del Toro e Mark Gustafson, Pinóquio estreia na Netflix no dia 9 de dezembro.