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Um dia no set: Como o acaso tornou A Própria Carne um horror mais realista

Filme independente foi filmado em famosa locação no Rio Grande do Sul

Pedrinho
28.01.2025, às 20H44.
Atualizada em 28.01.2025, ÀS 21H00

Fazer cinema nacional não é fácil, ainda mais quando se trata de filmes independentes. Porém, algumas circunstâncias podem tornar todo o processo mais fácil. Isso vale para o vindouro A Própria Carne, filme produzido pelo Jovem Nerd em parceria com a Nebla e dirigido por Ian SBF, co-fundador do Porta dos Fundos. O Omelete visitou o set do filme no Rio Grande do Sul e conversou com o diretor sobre os desafios e segredos do filme.

As filmagens ocorreram alguns meses após as enchentes que assolaram boa parte do litoral gaúcho no início de 2024. Por causa disso, o aeroporto internacional de Porto Alegre ainda estava fechado, o que fez o destino inicial da viagem ser Caxias do Sul. Após pousar em solo rio-grandense, foi a vez de pegar um carro e seguir para Farroupilha, palco da famosa Guerra dos Farrapos, em 1835.

Apesar da passagem do tempo, muitos espaços da cidade ainda seguem preservados desde aquele século, como a Casa de Bona, que já foi cenário de grandes produções como O Filme da Minha Vida, de Selton Mello, e a minissérie Decamerão — A Comédia do Sexo, da Globo. Agora, o local recebe as filmagens de A Própria Carne, longa que promete mesclar elementos vários subgêneros do horror com um tom lovecraftiano.

Pedro Ribeiro/Omelete e Ian SBF em Farroupilha (RS)

Para o diretor e co-roteiristas Ian SBF, a locação principal do filme, construída no século 19, foi essencial para compensar o orçamento limitado, evitando gastos com efeitos especiais.. “Basicamente, quase tudo no filme acontece nessa casa, em volta da casa. Você vê que a casa é antiga pra caramba, ela é de 1888. E, porra, quando a gente achou a casa, foi tipo, parecia que tinham feito a casa por causa do roteiro”, explicou ele.

Após pedirmos para que ele especificasse como a locação atendeu o roteiro, ele explicou quais elementos da casa contribuíram para tornara história mais crível. “Pelas narrativas do roteiro: porão, um corredor de madeira, uma sala de jantar, uma cozinha rústica, tudo que eu tinha escrito no roteiro tem nessa casa”. O formato da casa, os móveis, ferramentas, utensílios e a região arborizada contribuíram para dar realismo para as cenas e ajudaram muito na economia por parte da produção.

Nem tudo são flores

Entretanto, apesar de todas as circunstâncias terrenas jogarem a favor de Ian e sua equipe, nos céus, o tempo era instável e completamente fora de controle. “Acho que o maior desafio pra gente aqui foi o tempo, o clima”, disse Ian. “É muito difícil. Porque você tem que ficar o tempo todo prevendo se amanhã vai ser sol, se vai ter chuva. Esse é um dos pouquíssimos filmes onde a equipe inteira fica torcendo por um clima merda”, continua. Ele segue explicando que, em dias ensolarados, é preciso mudar as gravações para locações cobertas, como a casa do cenário principal.

Além do tempo, um segundo desafio virá quando o filme já estiver finalizado: a produtificação. Por ser uma produção independente e com pouco patrocínio, o filme vai depender de como os fãs o receberão. “A gente já tá bancando o filme, então, não é uma questão de crowdfunding”, explica Ian.

Mas a gente, com certeza, quer ter produtos [relacionados ao filme], para as pessoas. Queremos fazer sessões e eventos, uma tour pelo Brasil, onde a gente possa ir com a galera, assistir ao filme”. As medidas não param por aí: “[Também queremos] disponibilizar roteiro, tem muita coisa. Até porque muita coisa que a gente está descobrindo fazendo o filme”, completa o diretor e roteirista.

Com muita sorte, o filme conseguiu se encaixar no orçamento limitado enquanto proporcionou cenas extremamente belas e vívidas, que remetem ao contexto histórico narrado na trama. Junto da sorte, a boa pesquisa garantiu ao filme um tom realista e crível sem que a produção precisasse mover montanhas para tal.

O filme nacional narra a história de três soldados desertores da Guerra do Paraguai em 1870. Em busca de refúgio, eles se abrigam em uma casa isolada na fronteira entre Brasil e Argentina. Porém, o que parecia um local seguro logo se revela um pesadelo aterrorizante. A casa, habitada por um fazendeiro misterioso e uma garota, guarda segredos macabros que os soldados logo serão obrigados a enfrentar, descobrindo que o refúgio é, na verdade, uma armadilha fatal. O enredo explora temas de horror psicológico, suspense e o limite da sanidade humana.

Ainda sem data de estreia confirmada, A Própria Carne chega aos cinemas ainda em 2025. O elenco conta com Luiz Carlos Persy (Ruff Ghanor) e Jade Mascarenhas (As Five). Além de Jorge Guerreiro (Justiça 2), Pierre Baitelli (Reality Z) e George Sauma (Minha Irmã e Eu). Alexandre Ottoni e Deive Pazos assinam a produção.