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Superman vs Quarteto Fantástico | A Marvel deveria adiar o filme da equipe?

As duas produções podem significar recomeços para seus respectivos estúdios

20.12.2024, às 21H58.

Que 2025 vai trazer uma enxurrada de lançamentos, isso todo mundo já sabe. Quem não sabe, vai ficar conhecendo nas discussões de fim e início de ano nas próximas semanas. A grande expectativa é de que a arrecadação mundial de bilheterias possa chegar a US$ 33 bilhões no fim do ano. No meio de tantos filmes que fazem parte do calendário, existem dois blockbusters que vão estrear no mesmo mês e talvez sejam os mais importantes de seus respectivos estúdios em muitos e muitos anos. 

Em julho, logo na segunda semana, teremos a estreia de Superman, filme que acabou de ganhar seu primeiro trailer e será o primeiro do novo DC Universe, agora comandado por James Gunn e Peter Safran. A produção também será a responsável por trazer o herói mais famoso do mundo de volta às telonas em uma aventura solo após 12 anos. A grande questão é: apenas duas semanas depois, o Marvel Studios colocará no circuito do mundo todo, seu primeiro - e aguardado - filme do Quarteto Fantástico, um dos grupos mais amados e mais importantes dos quadrinhos, e que também está longe dos cinemas há mais de 10 anos, desde o desastre do filme lançado em 2015, ainda sob o comando da 20th Century Fox.

Dois titãs do mundo dos quadrinhos. Duas empresas que estão tentando lidar com crises que elas próprias criaram. Será que a decisão correta é a de lançar as duas produções juntas no mesmo mês?

O que os últimos dois anos podem provar é que o público ainda está disposto a abraçar e assistir grandes produções assim, seja com pouco tempo de distância ou lançados até no mesmo dia. O fenômeno Barbenheimer ainda gera expectativas de quando veremos algo dessa magnitude novamente. Um fenômeno tão grande que anulou Tom Cruise e o aguardado Missão Impossível 7, um ano após o gigantesco sucesso de Top Gun: Maverick. Em 2024 tivemos o "Glicked", com Gladiador 2 e Wicked estreando juntos nos EUA e ambos arrecadando alto. Agora, no fim do ano, teremos Sonic 3 e Mufasa: O Rei Leão, tentando repetir essa dobradinha e com previsão de ambos arrecadarem mais de US$ 50 milhões já no primeiro fim de semana. 

Entretanto, há uma diferença entre os fenômenos. Barbie e Oppenheimer se tornaram uma grande brincadeira em que o público de um abraçava o do outro. Isso não se repetiu tanto com Gladiador e Wicked, que dividiram a atenção de públicos diferentes e ainda contaram com mais um peso-pesado na disputa: Moana 2, que atingiu marcas expressivas na bilheteria mundial em pouquíssimo tempo. O trio formou um arrasa-quarteirões que não deu chances para nenhum outro lançamento no período, vide Operação Natal, estrelado por Dwayne Johnson e Chris Evans. Já Sonic 3 e Mufasa devem atrair o mesmo tipo de público, o que pode gerar perdas para ambos os lados em uma busca por preferência ou onde “gastar melhor” o dinheiro. Essa dinâmica ganhou força desde a pandemia de COVID-19 e o boom dos streamings - sempre existe aquele filme que, para o consumidor, pode esperar mais um pouco para ser assistido. 

A briga entre Quarteto Fantástico: Primeiros Passos e Superman pode entrar em todos esses cenários e, para entender melhor as condições de cada um, é importante levar em conta a percepção que as marcas e seus respectivos filmes carregam.

Superman é um recomeço. O Snyderverso da DC, com Henry Cavill, Ben Affleck, Gal Gadot e Jason Momoa ficou no passado. Amado por muitos, mas sem nunca ter explodido de sucesso - tanto em bilheterias, como em críticas -, o único dos 15 filmes do DCEU a alcançar a cobiçada marca do bilhão foi o primeiro Aquaman. Nem o encontro de Batman e Superman ou a Liga da Justiça conseguiram alcançar o feito. Problemas internos na Warner, a saída de Zack Snyder e a própria visão do diretor para os heróis colocaram a DC Comics nos cinemas em um momento de total descredibilidade com a audiência. 

James Gunn deixou a Marvel após Guardiões da Galáxia Vol. 3 e assumiu o barco ao lado de Peter Safran. O novo trailer de Superman promete um filme mais parecido com as obras clássicas, tanto dos quadrinhos quanto dos filmes. A grande referência de Gunn está em Grandes Astros: Superman, HQ do roteirista Grant Morrison e do desenhista Frank Quitely, e o símbolo de esperança do herói. É algo completamente diferente do mundo de Snyder, onde Kal-El era um deus caído na Terra tentando viver entre os humanos. O maior desafio de James Gunn é tornar seu Superman “colorido” e parte do mundo pop atual, moldado pelo espírito realista do Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan, e pavimentado pela fantasia-realista da Saga do Infinito da Marvel.

E foi exatamente aí que o caldo começou a entornar para a concorrência. Depois de 10 anos construindo a Saga do Infinito, a Marvel tinha como pedra fundamental um realismo que flertava com o fantástico. Capitão América, Gavião Arqueiro e Viúva Negra eram soldados com grandes habilidades. Steve Rogers ganha o poder do soro do supersoldado, mas é no seu coração e valores que reside o grande herói. Homem de Ferro é todo calcado na realidade e em experimentos tecnológicos para se tornar quem ele foi até Ultimato. Até a magia de Asgard, em Thor, é explicada como uma ciência muito avançada. No caminho, e aí com um MCU já bem estabelecido e cheio de sucessos, apenas Doutor Estranho e Pantera Negra brincaram com ideias mais mágicas. A maior aposta do estúdio foi exatamente com o Guardiões da Galáxia, de James Gunn, e a mistura de ópera espacial e comédia mostrou que a Marvel poderia fazer de tudo. Ou quase isso.

Com a chegada da Saga do Multiverso, tudo isso muda de forma bem abrupta. Logo somos introduzidos aos novos dilemas e equações de universos paralelos, uma inundação de séries de TV e novos personagens que o grande público não abraçou de fato. Problemas internos como a saída de Victoria Alonso, com diretores - Nia DaCosta e a perda de controle em As Marvels -, com atores - demissão de Jonathan Majors, o Kang, grande vilão dessa Saga - e externos, com a tão falada saturação do cinema de heróis. É nesse cenário que Quarteto Fantástico: Primeiros Passos chega quase como um salvador da pátria. Passado em outra realidade, a família pode significar um novo recomeço dentro do MCU, quase como uma nova Fase, e uma preparação para o gran finale do Multiverso: a volta de Robert Downey Jr. como Victor Von Doom, o maior vilão das histórias de Reed Richards e companhia.

Entretanto, existe um elemento nessa fórmula da Marvel que vem pesando - e muito - na opinião do público e pode ser o grande divisor de águas na “Batalha de Julho de 2025”: a qualidade técnica das produções. O uso constante do Volume (técnica de grandes telões de led nos cenários) e a pressa na finalização dos efeitos especiais têm sido um fator decisivo para as críticas e afastamento do público de suas produções. As denúncias de empresas e profissionais de efeitos digitais sobre os cenários caóticos e apressados nas produções, corroboraram com as críticas e deram munição para aqueles que veem o MCU diferente de outrora. 

Com as filmagens encerradas oficialmente em 30 de novembro, Quarteto Fantástico tem menos de oito meses para toda a pós-produção, incluindo aí possíveis refilmagens se necessário. O uso do Volume adianta a produção, já que muito do que seria feito na pós com os fundos azuis já está pronto antes da produção começar. Entretanto, pelas fotos do set e pelo que é esperado da história, com um cenário retro futurista, muito do CGI ainda precisará ser acrescido. Fora isso, os quatro personagens principais são todos baseados em uso de computação gráfica e a Marvel não pode de jeito nenhum errar com os poderes de Reed, Sue, Johnny e, principalmente, Ben Grimm - ou melhor, d’O Coisa. A recriação dos poderes precisa ser impecável. Claro, a história tem que ser boa, mas não há chances de o público comprar a ideia do novo Quarteto se esses efeitos não estiverem acima da média do que vem sendo entregue pelo estúdio. E isso sem entrar no mérito de que Quarteto Fantástico ainda terá Galactus e Surfista Prateado totalmente criados com efeitos digitais. O tempo de pós-produção é crucial para o sucesso do filme. Superman estreará poucos dias antes e as comparações inundarão a internet e as rodas de discussão.

A julgar pelo trailer lançado em 19 de dezembro, o filme de James Gunn - que terminou as filmagens quatro meses antes de Quarteto Fantástico, em 30 de julho - vai usar todo seu potencial nos efeitos especiais. Desde o voo do herói, a criação total de Krypto, o supercão, os poderes de todos os outros personagens que estarão na história, o enorme kaiju em Metrópolis... São quatro meses a mais de pós-produção e que já mostram um bom resultado desde o primeiro pôster até a prévia em vídeo. Gunn sabe que o novo DCU precisa provar que tem a força necessária para ditar essa nova fase do estúdio nos cinemas. E se quisermos colocar mais um tempero nessa briga, a imagem da DC ainda tem algumas estrelas brilhando forte ultimamente com Pinguim e o Batman, de Matt Reeves. Sim, ambos não têm - a princípio - ligação com o mundo criado por James Gunn, mas há uma percepção de cuidado com o material base que pode influenciar o espectador quando chegar a hora do Superman voar.

Voltando ao questionamento do texto: a Marvel deveria fugir da briga com Superman? Se o estúdio não puder garantir a perfeição técnica necessária com Quarteto Fantástico: Primeiros Passos, a resposta é: sim. Da mesma forma que o filme do Homem de Aço, a produção dirigida por Matt Shakman não pode se dar ao luxo de errar. 

Agora, adiar para quando, é um outro problema. O feriado de Ação de Graças de 2025, nos EUA, já deve ter todas as suas salas ocupadas pela segunda parte de Wicked e por outra franquia da Disney: Zootopia 2. O fim do ano também será dominado pelo estúdio do Mickey com ninguém mais, ninguém menos que Avatar 3, em mais um possível sucesso absurdo de James Cameron. Ficaria o filme do Quarteto para 2026? Improvável, devido ao calendário e todas as mudanças que a Marvel teria que fazer. A não ser que elas já estejam nos planos, mas aí é papo para outro artigo - e, sim, isso pode acontecer. 

Se a Marvel puder garantir essa qualidade de pós-produção e conseguir criar um hype que - bem ou mal já existe - esse será o filme para dar o primeiro passo de uma nova Era, ou ao menos um final apoteótico para a Saga do Multiverso. Aí é abraçar a ideia de dominância desses dois Titãs da cultura pop e dos quadrinhos e até mesmo criar um senso de retomada do cinema de super-heróis da Era de Ouro pré-pandemia.