Terminou a greve dos roteiristas de Hollywood. O movimento, que durou 100 dias, foi o mais longo dos últimos 20 anos em Hollywood. Mais de 90% dos associados do Sindicato dos Roteiristas disseram sim nesta terça-feira ao final da paralisação e ao retorno imediato ao trabalho. Uma nova votação será conduzida para aprovar o novo acordo a ser assinado com os representantes dos estúdios de cinema e TV.
Patric M. Verrone, presidente da sucursal oeste do sindicato estadunidense, declarou que, ao contrário de se afastarem do futuro da criação e distribuição de conteúdo, os roteiristas vão liderar o caminho no momento em que a TV migra para a Internet e para as novas mídias que forem criadas. O pagamento por conteúdo online era a principal demanda dos grevistas. Antes da greve, os estúdios ofereceram somente um estudo de vários anos sobre o assunto. Com a paralização, os roteiristas (que na época do VHS engoliram a história de que a então nova mídia ainda precisava ser esquadrinhada antes de repartir dividendos) conseguiram estabelecer pagamentos pelos programas disponibilizados, conteúdo produzido originalmente para a rede e a jurisdição de seu sindicato sobre estes trabalhos.
O acordo entre o sindicato e os estúdios deve ser ratificado em 25 de fevereiro e será válido por três anos. O novo acordo estabelece quanto será pago aos autores, mas analistas ainda estudam se será o suficiente para cobrir os prejuízos causados pela greve. Uma das previsões mais sombrias é de que os estúdios usem a greve como razão para cortar o orçamento de programação de TV, aprovando um número menor de pilotos e reduzindo o número de produções, o que diminuiria a quantidade de trabalho disponível.
A economista Harley Shaiken, da Universidade de Berkeley, no entanto, analisa a greve como um momento de definição, quando um grupo de indivíduos díspares agiu de forma solidária. Grande parte dos escritores é formada por free-lancers e autônomos. A greve dos roteiristas obrigou a paralisação de mais de 60 programas de TV, derrubando os índices de audiência e, por conseqüência, os ganhos com publicidade. Estima-se que os 100 dias custaram dezenas de milhões de dólares às emissoras somente em propaganda perdida.
Apesar do sucesso do movimento, os roteiristas não saíram vencedores em todas as suas demandas. Os roteiristas sindicalizados contratados para criar trabalhos para a Internet terão a proteção do novo contrato. Entretanto, os estúdios estão habilitados a contratar roteiristas não sindicalizados para programas de baixo orçamento produzido para a Internet. Considerando a famosa "contabilidade criativa" utilizada em Hollywood, a abertura deixada no contrato é nada desprezível. Outra vantagem dos estúdios foi a manutenção de um período de 17 a 24 dias em que os estúdios podem exibir seus programas na Internet sem pagar residuais aos roteiristas. Para muitos escritores a maioria do público assiste a seus programas repetidamente logo nos primeiros dias em que os vídeos são disponibilizados, o que baixaria os valores a serem pagos aos autores.
Com o final da greve, a produção deve voltar a todo vapor a partir de hoje, quarta-feira. Enquanto Hollywood se prepara para voltar à ativa, o final da greve também significa um suspiro de alívio para a produção do Oscar, finalmente livre da ameaça de boicote por parte dos escritores e do sindicato dos atores.
O alívio, no entanto, pode durar pouco, uma vez que em junho vence mais um contrato, o que regulamenta o trabalho entre os atores, representados pelo Screen Actors Guild, e os estúdios. O SAG, cujo apoio foi fundamental para que a greve dos roteiristas causasse ainda maior impacto, forçando o cancelamento da cerimônia de entrega do Globo de Ouro e boicotando os programas de entrevistas, representa cerca de 120 mil atores de TV e cinema. Considerando o sucesso dos roteiristas, os líderes do SAG já prometeram ser agressivos na mesa de negociação nos mesmos temas que deram a tônica da discussão entre os estúdios e os escritores.