O mundo das convenções pode ser dividido entre os espaços que o público vê e os bastidores. O primeiro é limpo, organizado e até luxuoso. O segundo não tem nada disso. Foi em uma sala vazia, sem nenhum tipo de glamour, que o Omelete encontrou o cineasta Brad Bird (Gigante de Ferro, Os Incríveis, Ratatouille, Missão: Impossível - Protocolo Fantasma) e o roteirista Damon Lindelof (Lost, Prometheus, Além da Escuridão: Star Trek) durante a última New York Comic Con para falar de Tomorrowland - Um Lugar Onde Nada é Impossível.
Desvendamos os mistérios da vida de Walt Disney
Enquanto Bird é tranquilão e de fala mansa, Lindelof é agitado e falastrão. No bate-papo antes deles subirem ao palco para mostrar cenas do filme que adapta para as telas mais uma atração dos parques Disney, os dois falaram sobre os motivos que os levaram a querer contar esta história, os dilemas que enfrentaram e qual outra atração da Disney poderia virar filme.
Como tudo começou?
Tomorrowland
Damon Lindelof: Este filme começou com uma reunião em que discutíamos o significado da palavra “tomorrowland” (terra do amanhã, em tradução livre) no contexto do futuro. Muitos filmes, nos últimos 30 anos, falaram sobre o futuro como uma distopia. Mas a verdade é que não vamos conseguir entender o que vai acontecer. Se os robôs vão nos matar, se estaremos dentro da Matrix ou se teremos Exterminadores do Futuro correndo atrás da gente ou uma grande onda vai acabar com todo o ambiente. Tudo é muito Mad Max e Blade Runner. Nunca é um futuro melhor do que este que temos hoje.
Mas houve uma época, não muito tempo atrás, nos anos 1960, em que vimos esta bela utopia, um vislumbre de dias melhores. Isso é banal demais ou ainda é possível termos isso? E foi essa questão que nos levou à história que Brad e eu queríamos contar, porque nós gostamos desta ideia de colocar otimistas no papel de pessimistas.
Brad Bird: Sim. A palavra “amanhã” está no centro do furacão. É algo que você teme ou fica aguardando ansiosamente. Existe uma teoria universal de que as pessoas podem ser influenciadas e que a forma como você imagina o seu futuro, pode determinar como ele será.
Vocês vão explorar viagens no tempo também?
Tomorrowland
DL: Nós não queríamos descartar as viagens no tempo, mas o que podemos dizer é que este filme se passa em vários momentos diferentes do tempo. Um dos filmes que mais nos influenciou aqui foi Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977) porque ali você nunca sabe ao certo o que está acontecendo porque você está junto com o protagonista. Então, há alguns momentos do filme em que talvez os personagens achem que estão viajando no tempo, mas para nós, a ideia principal é “e se este mundo existir de verdade?”, “e se Tomorrowland for real?” Onde ele seria? Quem moraria lá? O que se faz por lá? Como chegar até lá? E se algo de errado acontecesse por la?
Vocês têm uma personagem que acaba tendo um poder sobre a história. Vocês brincaram com a jornada do herói, o conceito do escolhido?
DL: Essa é uma questão fundamental que nós tivemos. Existe nos filmes de hoje quase que uma regra em que um personagem é escolhido para ser o herói. Nós queríamos brincar com esta convenção e usar isso de um jeito diferente. Os heróis devem ter algumas características. Por exemplo, eles têm de se preocupar com algo. Eles vão lutar por esta coisa.
Existe uma profecia que dizia “você vai surgir e reestabelecer o equilíbrio na Força” e ela é mais forte do que “oi, eu sou Luke e quero sair de Tatooine”. Eu adoro quando Neo vai ver a Oráculo e ele vê outras 50 pessoas com poderes iguais ao dele e fica pensando que devem haver outros Morpheus por aí dizendo que eles são especiais.
Agora, falando de efeitos especiais, o que podemos esperar de Tomorrowland?
BB: Acho que o desafio é não ser dominado pelos efeitos especiais, mas fazê-los trabalhar pela sua história. Aqui nós temos um lugar em que coisas futurísticas são desenvolvidas, mas nós tentamos apresentar como um lugar comum. Um lugar onde fazer estas coisas esquisitas não é tão diferente. E temos os efeitos trabalhando para que isso funcione na história.
Mas nós temos carros voadores, né?
DL: Claro! Nem precisava perguntar isso, né? [risos]
Visualmente, como é este futuro que vocês estão construindo?
BB: Tivemos umas ideias que são difíceis de representar e na hora de criar falávamos coisas como “isso precisa estar mais aguado” para coisas que estão acontecendo no ar.
DL: Eu não vejo o trabalho de Brad como “animador”, mas o vejo como um contador de histórias que agora está trabalhando com atores, mas continua fiel às suas referências e à sua sensibilidade. Quando assisti a Missão: Impossível - Protocolo Fantasma, vi coisas ali que eram completamente novas e diferentes dos outros três filmes da série, mas sem parecer que era algo completamente novo. Os personagens e as piadas me lembravam os filmes da Pixar.
Falando nisso, antes de fazer Missão: Impossível Protocolo Fantasma e Tomorrowland, o senhor fez várias animações. Estamos vivendo uma nova era de ouro da animação?
BB: Temos um lado positivo e outro negativo sobre isso. O bom é que está diminuindo o número de pessoas que acham que animação é só para criança. E isso é ótimo porque quanto mais adultos forem ao cinema para assistir às animações, mais elas vão poder explorar assuntos mais adultos.
Do ponto de vista de negócio, porém, todo mundo só quer ser primeiro e segundo [de bilheteria]. Não existem pessoas dispostas a quebrar regras. Quando eles veem que uma ideia funcionou, todo mundo vai atrás e começa a copiar, sem explorar todo o potencial de uma animação. Eu espero que os longas-metragens animados se espelhem mais em animações da TV, como Os Simpsons, que olham para o outro lado e vão atrás. Acho que quando a animação gerada por computação gráfica começou, era algo diferente e tinha várias ferramentas que eram ótimas, mas eu vejo uma repetição destas ferramentas. Eu pessoalmente quero ver mais animações feitas à mão, de massinha e com assuntos mais variados.
E nós temos de agradecer a pessoas como o senhor, o pessoal da Pixar e Hayao Miyazaki por incorporar temas mais adultos nas animações.
BB: Oh, obrigado.
Depois de Tomorrowland, qual outra atração dos parques da Disney vocês gostariam de transformar em filme?
BB: O que me atraiu a este projeto era a ideia do lugar chamado Tomorrowland, não o que estava lá naquele espaço. Queria dar esta olhada para o futuro e ver o que pode vir por aí. Quando eu era pequeno, eles tinham um passeio dentro de Tomorrowland chamado “Adventure Thru Inner Space” em que você era miniaturizado e ficava dentro de uma gota de água. E o conceito todo era muito bizarro porque parecia mesmo que você era encolhido e era muito legal. Eu adoraria ver uma nova versão destas atrações, com a mente aberta. Não falando sobre o futuro, mas sobre o que poderia acontecer.
DL: Eu gostaria de transformar em filme uma outra atração que eles têm lá nos parques chamada Indiana Jones. [risos]
O filme estreia em 4 de junho no Brasil.