Graças a Um Filme Minecraft, Hollywood respira aliviada. Depois de uma CinemaCon voltada para discutir a sempre presente “crise do cinema” que foi perpetuada pelo começo devagar da bilheteria global em 2025. O prometido ano de recuperação, com seus blockbusters a mil, era usado na gíria “survive ‘til 25” (“sobreviva até 25”, no bom português) como uma isca para garantir a todos que o terrível ano de 2024 terminaria e as decepções como Coringa: Delírio a Dois e Furiosa seriam coisas do passado. Logo logo, Superman, Quarteto Fantástico e Jurassic World estariam aqui.
Esses filmes ainda estão vindo, mas o começo de 2025 não trouxe bons resultados para praticamente ninguém. A lista de leves decepções (Capitão América, Mickey 17) e desastres (The Alto Knights, Branca de Neve, Lobisomem) afeta praticamente todo grande estúdio hollywoodiano. Se você não é Ne Zha 2, a animação chinesa de dois bilhões de dólares que em nada ajuda corporações americanas, não havia o que celebrar. Então, veio Minecraft.
Com mais de US$ 300 milhões na bilheteria global em sua estreia, sendo US$ 167 milhões só nos EUA, a adaptação do jogo-fenômeno da Mojang tem gerado cenas à la Vingadores: Ultimato com toda a audiência surtando (veja abaixo) diante de referências que podem não significar nada para pessoas como eu, que há seis anos pirava vendo o Capitão América levantando o martelo do Thor. Não entendo nada de Minecraft, um jogo que começou sua ascensão quando eu trabalhava na área de games, mas que por não fazer meu tipo de experiência, acabou sendo deixado de lado. Minha consciência do tamanho do jogo, porém, me ajudou a não cometer o mesmo erro cometido pelos grandes veículos norte-americanos, e as firmas responsáveis pelas projeções de bilheteria. Posso não saber o que é o “chicken jockey”, mas eu não chamaria o sucesso financeiro do longa de surpreendente.
Okay, nem eu achava que ele ia fazer tanto dinheiro. O filme foi de previsões na faixa de US$45 a US$55 milhões para mais de US$160 milhões na estreia nos EUA. Se me perguntassem, eu diria que US$100 milhões era uma aposta segura. Agora, alguns milhares de dólares na frente dos US$42 milhões de Branca de Neve? Onde estava a cabeça dos analistas? A resposta é a mesma de sempre: ignorante dos videogames, e da geração que cresceu com eles.
É fácil achar que esse equívoco caducou depois de Super Mario Bros.: O Filme destruir a barreira do bilhão, ou de três bons resultados de filmes de Sonic, mas a verdade é que esses mascotes existem há décadas, e não são apostas tão arriscadas na mente dos executivos de cabeça branca que gerem as empresas da indústria cinematográfica. Minecraft? Aí a história é outra. Bom, pra eles. Para qualquer um prestando atenção, o titã de mais de 300 milhões de unidades vendidas era uma mina de ouro para adaptação, particularmente por atrair pessoas que vão dos 5 aos 35 anos de idade. Alguns começaram a jogar no lançamento da versão 1.0 em 2011, ainda adolescentes. Outros o experimentaram pela primeira vez no ano passado. Todos eles estiveram lá no fim de semana passado.
Warner Bros.
Há tempos, é fácil prever que adaptações de videogames tomarão o espaço comercial das cada vez menos garantidas produções da Marvel e DC. Coisas como Um Filme Minecraft sugerem que essa teoria tem base. Da mesma forma que o público nascido nos anos 1980 e 1990, familiarizado com esses personagens por quadrinhos e desenhos animados, povoou os cinemas por duas décadas para ver Batman, Homem-Aranha e tantos outros personagens em ação, Minecraft (e, em menor escala, Five Nights at Freddy’s) aponta para a passagem do bastão para as gerações dos anos 2000 e 2010.
É um tremendo erro achar que elas não querem ir para o cinema. É claro que redes sociais, YouTube e os próprios videogames competem com – e são muitas vezes mais baratos que – a sétima arte, mas as imagens de crianças surtando com o Steve do Jack Black revelam o poder comunal do cinema, e como ele ainda atrai pessoas. Em meio a tantas propostas para solucionar a crise de Hollywood, o sucesso de Um Filme Minecraft traz de volta uma velha lição: faça filmes para a geração atual, e eles virão. Hollywood não reconheceu Minecraft antes da estreia. Agora, ela não pode mais ignorá-lo. A pergunta é: como será o tratamento da indústria quando o próximo Minecraft vier? Não Um Filme Minecraft 2, mas o próximo hit de games que inevitavelmente será um hit de cinema.