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Valente - Festival do Rio 2007

Jodie Foster tem seu próprio Desejo de Matar

21.09.2007, às 12H00.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 07H02

Jodie Foster vive em Valente (The Brave One) Erica Bain, uma radialista cujo programa semanal exalta o amor dos nova-iorquinos por sua cidade. São histórias, sons, lugares e sensações que só a Grande Maçã é capaz de proporcionar. Num dia qualquer, porém, a cidade mostra a Erica seu lado selvagem. Ao passear com seu noivo (Naveen Andrews, o Sayid de Lost) pelo Central Park, eles sofrem uma brutal violência nas mãos de uma gangue. Ele não sobrevive.

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De certa forma, Erica morre também. Ou pelo menos a pessoa que ela era. Como amar uma cidade capaz de tal violência - e incapaz de punir os culpados? A resposta está no vigilantismo, que surge inadvertidamente, mas aos poucos transforma a mulher de vítima a predadora.

Com tal premissa, é impossível não lembrar de dois clássicos do gênero justiça-com-as-próprias-mãos: Desejo de Matar e Taxi Driver. O último, aliás, foi o filme que tornou Foster famosa, no papel de uma jovem prostituta - alvo da obsessão do personagem de Robert DeNiro. Curiosamente, aqui é ela quem salva uma jovem que vende o corpo. Mas seria injusto comparar Erica Bain a Paul Kersey ou Travis Bickle. A protagonista de Valente não tem a frieza calculada do primeiro ou a psicose do segundo. Tem, sim, feridas e motivação. Mas essas duas qualidades não são suficientes para colocar o filme ao lado desses clássicos - ele carrega consigo problemas demais.

O maior defeito do drama do diretor irlandês Neil Jordan é o roteiro de Roderick Taylor e Bruce A. Taylor. O texto repete exaustivamente sua mensagem através de diálogos um tanto óbvios e tem um problema sério de ambientação. Parece difícil que algo como os eventos que levam à mudança de Erica no filme aconteçam na Nova York pós-Rudolph Giuliani (prefeito de NY de 1994 a 2002). Taxi Driver e Desejo de Matar eram frutos de sua época, em uma cidade completamente diferente. Há outro momento discutível, no qual Erica deixa escapar a chance de ver os responsáveis pela violência em sua vida serem punidos pela lei - o que gera outro problema na trama: Vigilantes agem quando o sistema falha. Mas o sistema em Valente é burocrático, porém competente...

Valente também termina um tanto superficial, acreditando ser mais profundo do que realmente é. O filme gostaria de ser um Taxi Driver, mas resulta pouco mais que um suspense policial comum.

Por outro lado, a dupla de protagonistas, Foster e o elegante Terrence Howard, que interpreta o detetive Sam Mercer, segura o longa até o final. Todas as cenas entre os dois excelentes atores são os pontos altos do filme. Outro momento intenso é a seqüência da violência sofrida por Erica e seu noivo. Chega a ser difícil de acompanhá-la pelo realismo - e a ciência de que qualquer habitante de uma grande cidade, especialmente as nossas brasileiras, pode sofrer tal provação a qualquer momento. Virar estatística por aqui não é difícil. Mas isso justificaria o não-cumprimento da lei?

É justamente esse dilema que escorrega pelas mãos de Jordan.