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Entrevista

Godzilla | Omelete entrevista Gareth Edwards

Diretor do filme fala sobre o design do monstro e a pressão de dirigir um blockbuster

12.05.2014, às 18H55.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H38

Durante a divulgação de Godzilla, em uma mesa-redonda de jornalistas em Nova York, o Omelete conversou com o diretor Gareth Edwards, que fala sobre a pressão de dirigir um blockbuster, os desafios de fazer uma boa adaptação da história japonesa e o design do monstro. Confira:

godzilla

Qual foi o maior desafio ao dirigir Godzilla? Houve muita pressão?

Tentar fazer um bom filme, acho. A expectativa é intensa, há muitos fãs e um orçamento grande. Entretanto, só vivemos uma vez. A vida não é um ensaio, você precisa saber para onde ir. A ideia de não dirigir esse filme, de ter a oportunidade e recusar por conta da pressão... Eu não quero ser o cara que contará aos netos que recebeu a ligação do estúdio e recusou Godzilla. Não era uma opção. No dia a dia, o que importa é bloquear a pressão. Durante a filmagem, eu me surpreendi que, no set, eu só falava com mais ou menos cinco pessoas. Um deles era o assistente de direção. Quem visita um set acha que ele é o diretor, pois é ele quem grita, anda por aí, fala "ação" e "corta", diz aos outros o que fazer - e eu só ficava ao lado dele. Eu dava ordens a ele, e ele gerenciava aquele exército. O outro era o diretor de fotografia. Eu dizia a ele como queria as tomadas. E os demais eram os atores. Não há tempo para conversa furada. Se houvesse um quiz para dar nome a quem trabalhou no filme, eu teria o pior placar (risos). Conheço os rostos deles, mas não sei o que eles fazem. Não há tempo para interagir, porque eles o colocam nessa bolha, e o convencem de que você pode fazer um filme com cinco pessoas, quando a equipe na verdade tem 300.

Como você explica a fascinação pelo Godzilla?

Há dois motivos, no mínimo. O primeiro: ele nasceu de uma ideia muito séria. O Japão poderia ter feito um filme sobre Hiroshima e Nagasaki, mas eles não o fizeram por conta da censura ocidental sobre a 2ª Guerra Mundial. Eles tiveram que esconder essa mensagem em um filme de monstro, e isso teve um grande significado. Foi uma experiência catártica para os japoneses naquela época. Godzilla fez um grande sucesso, de um ponto de vista cultural. O povo japonês o abraçou. A outra razão é que, não sei como, mas eles tiveram muita sorte, de uma maneira bem genial, de fazer um design que, basicamente, é o dinossauro definitivo. É curioso ver em cartões de aniversário ou desenhos um dinossauro com espinhos nas costas. Não é Godzilla, mas faz referência a ele. Também acho que, por milhões de anos, vivemos na natureza selvagem e esperávamos que um animal mataria nossa família, ou destruiria nosso lar. Hoje, vivemos na cidade, mas não conseguimos nos livrar desse medo, porque está no nosso DNA. O filme toca um sentimento muito primitivo de que alguma força da natureza virá e destruirá tudo.

Como você se sentiu quando viu pela primeira vez Godzilla?

Meu primeiro contato com Godzilla foi em um desenho da Hanna-Barbera, em que havia um pequeno dinossauro chamado Godzuki. No Reino Unido, de onde eu vim, ninguém o elogia por nada. Quando assumi a direção do filme, todos os meus amigos vieram fazer piada, e vinham me perguntar: "Como está o filme do Godzuki?", apenas para me sacanear. Já adulto, assisti a alguns filmes do monstro, especialmente a versão de 1959. Foi surpreendente, porque tinha essa ideia de uma criatura amigável derrubando prédios de papel. No entanto, o filme é uma metáfora muito sofrida de Hiroshima, com cientistas que examinam crianças e dizem que elas morrerão de câncer. Isso foi em 1954. Ninguém coloca isso num filme hoje em dia.

Como foi preparar o design do monstro?

Acho que todos os grandes personagens têm silhuetas fortes. Isso é claro no caso de Godzilla: quando ele aparece, as pessoas sabem que é ele, e não um dinossauro ou um dragão. Eu sabia que teriamos muitas cenas noturnas no filme, então me preocupei muito com a silhueta. Nós rotacionávamos o modelo 3D sobre um fundo branco e olhávamos os contornos dele, mudávamos de um lado, de outro... parecia um cubo mágico. Fizemos isso até sua silhueta ficar bem reconhecível. Foi um processo longo.

Os fãs japoneses estão dizendo que seu Godzilla está gordinho...

Acho que ele só tem ossos grandes (risos). Não sei qual foi a imagem que eles viram, mas ao assistir ao filme, não o descreveria como gordo. Ele é parrudo. Esse tipo de comentário faz ele se sentir mal com a prória imagem (risos). Não deveriamos pressioná-lo.

Quando você dirigiu Monstros, também era um filme de revelação gradual das criaturas gigantes. Desta vez, a escala é obviamente diferente, mas você sentiu que estava em território familiar?

Acho que não seria justo utilizar nenhuma ideia de Monstros. Não gosto de filmes que são preto ou branco, prefiro a ideia de que o mundo é mais complicado do que isso. Tudo depende da perspectiva. Queria que as pessoas vissem os [monstros] vilões e pensassem: "Eles só estão tentando sobreviver". Acho que colocar tons de cinza no longa o deixa mais complicado e real. Não acho que nenhum animal é mau. Nós os consideramos malvados porque eles nos atacam. Na verdade, é como uma relação de humanos com formigas, e nós somos os vilões: nós pisamos nelas o tempo todo sem nenhum motivo.

Quem teve a ideia de colocar Godzilla contra outras criaturas?

Thomas [Tull, produtor]. Desde o começo do projeto, já estava claro que Godzilla enfrentaria outro monstro. Então, pensamos: "Como faremos isso?". Gostamos da relação entre os dois: um é predador do outro. Ter um monstro atraído por radiação nos permitiu passar a mensagem de que você não pode ter poder nuclear.

Os fãs se empolgaram muito com os trailers, especialmente quando Godzilla aparece. O que espera da reação ao filme?

Para mim esta é uma das etapas mais angustiantes da produção do filme. Ele está pronto, você o mostra para os outros, mas eles não podem falar sobre seu trabalho, pois tudo tem embargo. Acho que só vou relaxar daqui a uma semana, quando o filme finalmente sair e for comentado.