O grupo de k-pop ACT, da série Além do Guarda-Roupa (Reprodução)

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Entrevista

Além do Guarda-Roupa tira sarro da cultura do fã obcecado: “Pareceu autêntico”

Integrantes asiáticos do elenco discutem fetichização e avaliam abordagem da série

20.07.2023, às 06H00.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H45

Sharon Cho se enxergou em muitas das situações enfrentadas por sua personagem em Além do Guarda-Roupa, a jovem coreano-brasileira Carol - e isso inclui os momentos complicados em que a protagonista precisa encarar colegas de escola e até desconhecidos que, em sua obsessão pela cultura pop sul-coreana, a tratam mais como uma mercadoria do que como uma pessoa.

É claro que a série aumenta um pouco as coisas, mas muitas coisas que a Carol passa, eu também passei”, conta ela ao Omelete. “Acho que [a forma como abordamos essa questão] é muito realista, e eu pude usar alguns dos sentimentos que eu senti na minha adolescência para revisitar esses momentos com a Carol. Como ela, eu também queria me afastar da minha cultura, porque tinha medo de ser um estereótipo, entrar naquela caixinha que todo mundo queria me colocar.

Interpretar a Carol foi como voltar para os meus 17 anos, para aquela fase em que você está se descobrindo, ainda é cheia de inseguranças, pensa que o mundo está contra você”, continua a atriz. Eu tive que me reconectar com a Sharon de antes, e me identifiquei muito com o quanto a Carol se cobra, com essa crise de identidade dela, não saber a qual mundo ela pertence.

Ao se aproximar dessa discussão, a série da HBO Max usa o humor como arma - o alvo do ridículo nunca é Carol ou os outros personagens asiáticos, como os astros de k-pop Kyung-min (Kim Woojin) e Dae-ho (Jin Kwon), mas sim os fãs brancos que transformam toda uma cultura em capital social. Os dois atores-cantores, que vêm de experiências na poderosa indústria musical sul-coreana, destacam a importância dessa abordagem.

Além do Guarda-Roupa faz uma mescla interessante entre fantasia e realidade, e acho que isso nos permite tratar de alguns assuntos sérios de forma leve, usando principalmente a comédia”, analisa Jin. “É uma série de conforto, uma história divertida, que toca em alguns assuntos mais espinhosos.

De fato, não dá para negar que algumas situações entre fãs e ídolos na indústria do entretenimento passam dos limites do aceitável”, adiciona Kim. “Eu acho, no entanto, que a maioria dos fãs são apenas pessoas que genuinamente gostam do que fazemos, e que demonstram isso através de ações positivas, alegres. Nossa série retrata bem esses dois lados.

É justamente nas interações entre Carol, Kyung-min e Dae-ho que Além do Guarda-Roupa guarda o seu maior trunfo. Afinal, se há uma forma de garantir que a representação de uma cultura em sua história vai ser autêntica e respeitosa, é confiando em artistas que fazem parte dela.

Confesso que foi meio estranho mergulhar nesse mundo da dramaturgia sul-coreana, mas também muito emocionante. Eu senti que estava me conectando com as minhas raízes também - assim como a Carol faz durante a série!”, diz Cho. “Foi muito bom poder abraçar essa cultura, conviver com os atores e a equipe sul-coreana, escutar muito da minha língua materna… É a língua que meus pais falavam comigo desde pequena. Trabalhar com isso todos os dias foi uma loucura, mas me ensinou muita coisa.

Os três primeiros episódios de Além do Guarda-Roupa já estão disponíveis pela HBO Max. A primeira temporada contará com 10 episódios, lançados semanalmente, sempre às quintas-feiras.