ATENÇÃO: Spoilers de Pinguim a seguir!
Um dos prazeres únicos de assistir a uma série de TV de cabo a rabo é encontrar aquele capítulo em que as linhas narrativas desenhadas pela equipe de roteiristas (após marinar por horas a fio em distrações, reviravoltas e confrontos dramáticos) chegam no lugar para onde estiveram se dirigindo o tempo todo. É mais legal ainda quando essa conclusão temática, essa apoteose retórica, vem antes mesmo da conclusão de fato da trama - como acontece em “Gold Summit”, o antepenúltimo episódio de Pinguim, e um dos melhores da série até o momento (difícil até escolher entre ele e o terceiro, “Bliss”).
Crédito para o roteirista Nick Towne, vindo de trabalhos em Preacher e Deadwood, que encaminha os personagens para o precipício do terceiro ato da temporada já definindo, de forma muito precisa, o arco desenhado para eles. Victor (Rhenzy Feliz), por exemplo, é obrigado a matar pela primeira vez, não só escolhendo resolver um problema com as próprias mãos ao invés de trazer mais preocupação para o chefe, Oz (Colin Farrell), como também tendo que lidar com a irreversibilidade do caminho criminoso que escolheu - um marco narrativo sublinhado com elegância em uma ceninha simples e enervante dos últimos minutos do episódio.
Já o próprio Oz, de volta para casa após os eventos do capítulo anterior, envereda por um caminho de consolidação de seu poder e influência que é muito mais fundado na construção emocional do personagem do que nos detalhes práticos da trama. O Pinguim não quer ser subestimado, o Pinguim quer ser alguém por si próprio, e acima de tudo o Pinguim quer provar para sua mãe (Deirdre O’Connell, mais à flor da pele do que nunca neste episódio) que pode ser alguém por si próprio - uma história de subversão do sonho americano, de como o desespero pela prosperidade, diante de um sistema injusto que sufoca a possibilidade dela para tantos de nós, nos leva à violência.
Diante de um texto que trabalha dobrado para encontrar a maneira de comunicar tudo isso (e é bem-sucedido na sua missão), a entrada do diretor Kevin Bray no time de Pinguim também faz a diferença. Depois da iconografia quadrinesca de Craig Zobel e do estilo mais visceral de Helen Shaver, o cineasta de Com as Próprias Mãos e Succession chega para limpar o universo visual da série. Essencialmente, Bray entende que seu trabalho, agora que já estamos tão familiarizados com essa Gotham que se equilibra entre o folhetim de gângsteres e a graphic novel de supervilão, é filmá-la com franqueza, sem muitos artifícios, realçando a grandeza de certos cenários, mas se focando muito mais no movimento dos personagens por eles.
“Gold Summit”, enfim, solidifica Pinguim como uma série que triunfa pela firmeza do universo dramático que construiu para si. E a solidez dessa construção é justamente o que empolga para as próximas semanas - é muito mais legal ver um castelo de cartas ir ao chão quando ele foi tão bem montado.