PARTE 1 - O DESENHO CLÁSSICO DOS ANOS 60
O ano era 1967 e, nos quadrinhos, o aracnídeo encerrava uma de suas fases mais criativas nas mãos de titio Stan e de Steve Ditko, que cedia seu posto de desenhista oficial da série a John Romita (o pai).
A rede ABC topou encarar o desafio e soltou grana para que fosse produzida uma série animada mais decente. Nascia assim a primeira versão do Homem-Aranha nas telas, talvez a mais fiel às HQs até o momento.
Como consultor da série, foi designado o próprio John Romita, escolha, porém, que não interferiu na estética da adaptação. A concepção das personagens seguiu à risca o traço original de Ditko.
Entre os animadores envolvidos, destacava-se o jovem Ralph Bakshi, que, anos mais tarde, seria consagrado como um rebelde no meio da animação. Produziu material adulto do quilate de Fritz-The Cat - adaptação renegada pelo papa do underground americano Robert Crumb, o criador de Fritz -, American Pop e a primeira versão de O senhor dos anéis (leia mais aqui). Estes dos últimos empregaram o sistema de rotoscopia, onde se filmam os atores antes de acrescentar a animação . O resultado é um efeito hiper-realista. Mais recentemente, Bakshi, dirigiu Cool World - O Mundo Proibido.
Pontaria anárquica
Agora, havia mais grana na jogada, mas mesmo com um orçamento mais generoso, o estúdio precisava economizar. A fim de conter gastos, o visual do Aranha foi levemente modificado. As indefectíveis teias do uniforme - pesadelo de muitos desenhistas - foram restritas apenas às botas, às luvas e às máscara. Em contrapartida, os olhos da máscara ganharam a notável capacidade de piscar (!) para garantir maior expressividade.
Em todo caso, mesmo com gafes ocasionais, a série foi bem fiel aos gibis da época. O assassinato do tio de Peter Parker, por exemplo, é mostrado tal qual nas HQs. Esse momento decisivo na vida do Aracnídeo foi suprimido (como na série live-action - lembre dela aqui) ou até mesmo amenizada em versões posteriores. Não posso deixar de mencionar que Peter flertava com Betty, a secretária de J. Jonah Jameson, tão irascível e antiaracnídeo quanto no original, e que toda a galeria de vilões marcou presença, bem como inimigos especialmente criados para o desenho.
O peito do pé do Peter é preto&qt;&
Alguns dos episódios foram lançados em vídeo no Brasil, milênios atrás, misturados com outros desenhos de personagens Marvel. A fita com o episódio-piloto, chama-se Spiderman - The Movie e tem mesmo uma foto da malfadada série com atores na capa. Mais uma versão nacional de primeira... Infelizmente, sair à cata dessas preciosidades jurássicas não é uma das tarefas mais gratas. À maioria dos curiosos e saudosistas, resta a esperança de que, um dia, o desenho volte a ser exibido em nossas TVs.
Chora, minha viola
Marcante mesmo foi a trilha sonora com arranjos de jazz e blues e, principalmente a música-tema. Tão indelével no nosso imaginário, ela até ganhou uma versão brasileira (não oficial, é claro) caçoando de nosso azarado herói:
Homem-Aranha,
Homem-Aranha
Tanto
bate quanto apanha...
Falando sério agora - se é que isso é possível a esta altura -, vamos à versão brasileira oficial (cortesia de Cláudio Roberto), cuja original foi mais tarde regravada pelos Ramones para a coletânea Saturday Morning Hits.
Homem-Aranha,
Homem-Aranha
Ai vem o Homem-Aranha
Com a teia infernal
Em combate contra o mal
Cuidado, ele e o Homem-Aranha
Ele e forte, e de morte
E ativo e radioativo
Tem balanço, é um avanço
E pra frente, diferente
Eh-ei, ele e o Homem Aranha
Na calada da noite sempre alerta ele está
Não tente atacar, que o Aranha chegou
Homem Aranha, Homem Aranha
Ai vem o Homem Aranha
Aventura ele tem
Venha ver você também
Cuidado, teia da confusão
Ele tem pela mão
Ele é o Homem Aranha