Em “Wings”, o clipe que marcou a estreia oficial do PIXY em fevereiro deste ano, uma mitologia sombria começa a se construir em meio às cenas de dança habitués do k-pop. As seis integrantes nos são apresentadas como fadas que tiveram suas poderosas asas roubadas (à la Malévola mesmo) e agora se veem presas em um mundo terreno dividido entre luz e escuridão. Por cima do hip hop sintetizado da faixa, elas emergem neste primeiro lançamento como uma novidade misteriosa e conceitual no cenário saturado da indústria coreana.
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“Achamos que o conceito do PIXY realmente nos serve muito bem, porque podemos mostrar uma performance glamurosa e dinâmica, mas ao mesmo tempo, fora do palco, temos um lado divertido e fofo”, reflete a integrante Dia, que serve o posto de dançarina principal do grupo, em entrevista ao Omelete. O restante da conversa, de fato, mostrou essa dualidade apontada por ela - o PIXY sempre fala sério quando o assunto é performance, carreira e música, mas também tem seus momentos brincalhões (as integrantes estão todas na faixa dos 18 aos 23 anos).
Cena do clipe de "Wings", que marcou a estreia do PIXY (Reprodução/YouTube)
A ideia de construir uma narrativa de fantasia em torno do grupo veio do produtor Kevin D, como nos conta a líder Ella, acrescentando que a rapper Satbyeol ajudou a construir as histórias que se desenvolveram a partir daquele primeiro vídeo. O clipe da enérgica “Let Me Know”, por exemplo, serve para mostrar mais os poderes mágicos das personagens da história e colocá-las diante de sua primeira grande ameaça; já o visual do R&B turbinado “Addicted” traz as cantoras como prisioneiras de uma força corruptora.
Cheio de efeitos especiais que comunicam a escala cósmica da narrativa do PIXY e com uma coreografia que pede às integrantes para retorcerem os corpos em posições incômodas, este último clipe é o que melhor demonstra a preocupação obsessiva do grupo com a qualidade e o tom das performances. “Muitas vezes, as pessoas entram em contato com o k-pop através do aspecto visual, então achamos que nossas performances grandiosas, além da nossa sincronia nas coreografias, são importantes. Queremos apresentar algo divertido de se assistir!”, define Ella.
As cores do PIXY
“Addicted” foi a música de trabalho principal do segundo álbum oficial do PIXY, Temptation, que saiu em outubro deste ano e já superou - com folga - as vendas do seu antecessor, o Bravery. O sucesso, inclusive, levou o grupo a divulgar outras duas canções como single, a funkeada “Moonlight” e a versão em inglês do sensual synthpop “Bewitched”. Pode parecer rotina para o público ocidental, mas dificilmente três canções de um mini-álbum (no nosso vocabulário, EP) ganham esse tratamento de gala na indústria coreana.
“Achamos que as três músicas exploram bem, juntas, o conceito do nosso universo, além de mostrarem o quão dinâmica pode ser nossa performance”, explica a rapper Lola. “Se a lista de músicas [do álbum] é como o menu de um restaurante, achamos que esses pratos mostram o nosso apelo muito bem”.
Além de “Bewitched”, a própria “Moonlight” (que, impossível não notar, se encaixaria direitinho na setlist do Future Nostalgia de Dua Lipa) ganhou uma versão em inglês no Temptation. As integrantes não escondem que a ideia é agradar aos fãs fora da Coreia: “Fizemos as versões em inglês pensando nos nossos fãs globais. Ao invés de encarar isso como um desafio difícil, tentamos abordar como uma nova experiência, então foi bem divertido se preparar!”, conta Ella.
O tal “menu de restaurante” é complementado, no disco, pela sensível balada “Still With Me”, dedicada explicitamente aos fãs do grupo, chamados coletivamente de WINXY. O PIXY faz parte de toda uma geração de atos de k-pop que, mesmo depois de estrear, quase não teve contato presencial com os admiradores. Para uma indústria que confia muito na conexão pessoal entre fãs e artistas para criar uma espécie de fidelização, a pandemia se mostrou uma barreira complicada, mas não intransponível.
“Uma vez que não pudemos encontrar os nossos fãs pessoalmente por muito tempo, queríamos mandar uma mensagem para eles, dizendo que ainda assim estamos ao lado deles, e que eles não deveriam se preocupar conosco”, define Satbyeol. “O clima [nas gravações de ‘Still With Me’] foi triste, mas tentamos nos manter esperançosas. Ainda ficamos emocionadas quando ouvimos a música”.
Passado e futuro
As seis integrantes do PIXY (Divulgação)
Metade das integrantes do PIXY, no entanto, já estiveram antes nos palcos, quando essa história de pandemia ainda estava longe de ser realidade. A líder Ella veio para o grupo após passar um tempo encabeçando outro, o Cherry Bullett, onde se apresentava com o nome artístico Mirae; Satbyeol já fez parte do GsA (Girls’ Alert); e a maknae (apelido coreano para a mais nova do grupo) Dajeong participou do projeto infantil SUPA.
“Voltar aos palcos e reencontrar os fãs [mesmo virtualmente] foi muito excitante para mim, me encheu de energia”, admite Ella. “Eu queria mostrar que estava ainda melhor do que lembravam, e também queria me divertir mais com as performances”.
“Sinto que compartilhamos muitas experiências entre nós”, adiciona Dajeong. “E acho que isso fez com que confiássemos umas nas outras, desde o começo, muito mais!”.
Refletindo sobre um ano de estreia promissor, Lola deseja que o futuro traga muito mais para as fadas do PIXY. “Passamos 2021 juntas, e também com os nossos fãs, trazendo vários trabalhos diferentes. Daqui para frente, queremos continuar mostrando os lados diferentes do PIXY para todos, e também nos apresentar ao redor do mundo”, crava ela.
Daí o clima fofo e nostálgico de “Call Me”, single especial que o PIXY lançou para fechar o ano e comemorar o Natal ao lado dos fãs. O grupo parece aliviado e animado por poder mostrar uma face mais relaxada nesse lançamento. “É uma canção calorosa e festiva, mas também tem uma batida de hip hop que te faz querer sair por aí dançando. Acho que é a primeira vez desde que estreamos que lançamos algo que mostra o lado mais ‘leve’ do PIXY”, define a integrante Sua.
E será que essa face mais “de boa” do grupo pode render uma canção inspirada na música brasileira em um futuro próximo? Dajeong mantém nossas esperanças acesas: “Estamos sempre ouvindo a música ‘Garota de Ipanema’, de Tom Jobim! No futuro, o que queremos é experimentar vários gêneros diferentes, trazendo sempre a nossa versão deles”.
Difícil imaginar, pelo que o PIXY mostrou até agora, que elas sejam capazes de fazer qualquer coisa que não seja 100% autêntica a quem são.