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Lollapalooza Brasil 2015 | Calvin Harris, Pharrell, Smashing Pumpkins, Pitty, Foster the People e mais

Dividido entre o pop e o rock, segundo dia de festival consolidou DJs como maiores chamadores de público

30.03.2015, às 11H45.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H41


No segundo dia de Lollapalooza Brasil 2015, veio a chuva e um público ligeiramente maior do que o o do primeiro dia (70 mil pessoas, na contagem oficial da organização). Com atrações divididas entre o pop feliz e o rock pesado e melancólico, quem se saiu melhor foi Calvin Harris, que, assim como Skrillex no dia anterior, surpreendeu atraindo um grande número de pessoas. Pharrell, Smashing Pumpkins, Foster the People e Pitty também ficaram entre os destaques do dia. Confira como foi:

Fotos: I Hate Flash / Lollapalooza Brasil 2015

O TERNO

Ao lado do Scalene, o Terno foi a grande sensação nacional do segundo dia do Lollapalooza Brasil 2015. Ambas atestaram a vocação do festival para a exposição de bandas talentosas ao grande público. No caso d’O Terno, trio de rock que flerta com MPB, o trunfo está nas letras e nos arranjos cheios de diversidades, e saídos apenas do clássico conjunto bateria, guitarra e baixo.

Além da simpatia e da evidente euforia de estar em cima de um palco que ainda receberia o Smashing Pumpkins, o grupo mostrou um boa variedade de músicas, competência e solidez para conduzir um ótimo show para os presentes. A tirar pela apresentação do último domingo, Scalene e O Terno não só devem voltar a festivais da grandeza do Lollapalooza, como em breve se tornarão expoentes do novo rock brasileiro.

THREE DAYS GRACE

No palco Axe, o Three Days Grace se dedicou a reviver clássicos da carreira para um público apaixonado. Para quem não conhecia a banda, a sensação era de ter sido levado de volta ao começo dos anos 2000, a época em que o grupo ganhou fama em meio à febre do nu metal, capitaneada pelo Linkin Park. Para os fãs, foi a oportunidade de ouvir sucessos como “Pain”, “Just Like You” e a mais famosa do grupo no Brasil, “I Hate Everything About You”, que foi até tema da novela Malhação em 2003.

Liderando o grupo, o novo vocalista Matt Walst, irmão do baixista Brad Walst, não teve problemas para se encaixar com a já experiente banda candaense. Correndo de um lado para o outro e pulando o tempo todo, o vocalista incorporou o sentimento sofrido das músicas e cantou com uma voz rasgada e cheia de emoção, que foi bem recebida pelos fãs.

INTERPOL E FOSTER THE PEOPLE

O Interpol marcou o início do dia do pop no Lollapalooza Brasil. Paul Banks e companhia subiram ao palco Skol, o maior do evento, todos de preto e com cara carrancuda - visual perfeito para a tarde chuvosa que se instalava em São Paulo. Os fãs abraçaram a atmosfera nublada do local para entoar “Say Hello To Angels”, sucesso de 2003. A trilha sonora do domingo seguiu com “Evil”, “Narc” e “Rest My Chemestry”, que se misturaram com “Anywhere” e “Everything is Wrong”, ambas do álbum de retorno do grupo, El Pintor. Representante do pop melancólico, o Interpol fez um show para fãs, tecnicamente impecável e sem muita interação com o público - tudo como o esperado.

No mesmo palco, algumas horas depois, o Foster The People fez muita coisa diferente do Interpol. A começar pela interação constante de Mark Foster com o público - o vocalista se mostrou a vontade no palco, local esse que ele ocupa pela segunda vez em quatro anos, pois o Foster The People se apresentou no Lollapalooza 2012. Ao lado dele, Mark Pontius e Cubbie Fink conduziram um show cheio de improviso. Várias canções ganharam novas versões e revelaram um grupo seguro com a próprio obra, capaz de modificar sucessos e ainda manter o público na mão. O final do show, onde vieram “Pumped Up Kicks” e “Don’t Stop”, transformaram ao palco Skol em uma apoteose surpreendente.

THE KOOKS

A arena do palco Onix se encheu de gente por volta das 16h30 quando o The Kooks começou a tocar “Around Town” - single de seu último disco, Listen. Até aquele momento, era o show com o maior número de pessoas do dia. Não é pra menos, o The Kooks voltou às paradas há pouco tempo e acertou na composição do novo álbum, que reúne as características originais do grupo e o dá uma faceta ainda mais pop.

Ainda que faixas como “Westside” e “Bad Habit” tenham sido cantadas em alto e bom som, o que mais empolgou o público foram os hits mais antigos como “She Moves in Her Own Way”, “Ooh La” e “Naive”. O vocalista Luke Pritchard se encarregou soltar seus gritinhos e rebolar para encantar as moças da plateia. Com o violão em punho ou sem ele, o frontman se postou como um dos cantores mais enérgicos do Lollapalooza e ajudou a tornar o show do The Kooks em um dos melhores do domingo.

PITTY

Tocando às 17h30, Pitty atraiu um público considerável para o palco Axe, levando em conta a concorrência do Foster the People no mesmo horário. Quem deixou os californianos de lado foi agraciado com um dos melhores shows do dia, que comprovou a maturidade musical da cantora baiana.

Pitty demonstrou presença de palco natural, comandando plateia e uma banda muitíssimo bem ensaiada (com destaque para o ritmo monstruoso do baterista Duda Machado). Em turnê do álbum Setevidas, lançado no ano passado, a artista abriu o show com a faixa-título do disco, mas também teve espaço para hits como “Memórias”, “Me Adora”, “Máscaras” e “Admirável Chip Novo” - tudo com uma levada mais pesada, com claras influências do stoner rock.

No final, ainda sobrou um tempinho não previsto no setlist. “Vamos tocar uma música extra, mas é lado B, então mantenham os corações abertos”, declarou a cantora, emendando com “Pouco”, também de Setevidas. A música esvaziou o palco, mas ela não se intimidou e ainda tocou “Serpente” antes de deixar o Lollapalooza com uma taça na mão.

YOUNG THE GIANT

O Young the Giant ficou como um peixe fora d’água, tanto no palco Axe quanto em seu horário no festival. Colocado num slot no que as atrações pendiam para a balada, com a concorrência de Calvin Harris, e em um palco onde as atrações que vieram antes e a que vinha depois (Smashing Pumpkins) tinham um som mais pesado, a elogiada banda californiana acabou fazendo um show esvaziado, para poucos fãs - e para alguns que já esperavam a chegada de Billy Corgan e companhia.

Ignorando a plateia vazia, o Young the Giant fez um show animado, principalmente pelo frontman Sameer Gadhia, com uma apresentação performática. No repertório, predominaram as músicas do segundo disco, Mind Over Matter, do ano passado: “Anagram”, “It’s About Time” e faixa-título foram algumas tocadas pelo grupo. Mas houve espaço também para algumas do primeiro disco, como “My Body” e “Cough Syrup”, uma das poucas cantadas pela plateia.

Além de empolgados, os californianos também exibiram seus dotes multitarefa em cima do palco: a cada música, todos se desdobraram ajustando pedais ou até mesmo tocando mais de um instrumento, dividindo guitarra com teclado ou baixo.

CALVIN HARRIS

A apresentação de Calvin Harris consolidou o Lollapalooza 2015 como o festival dos DJs. Após o show de Skrillex no sábado, o inglês dos sucessos “Summer”, “Feel So Close” e “Blame” transformou o Autódromo em uma rave impressionante. As quase 70 mil pessoas que compareceram a Interlagos deviam estar nos barrancos do palco Onix, pulando ao som dos hits de Harris, que como manda o roteiro, capricha nas luzes, fogos e efeitos especiais ao longo do show. Tudo montado de um jeito perfeito para contagiar a multidão.

Não há, literalmente, como ficar parado. O chão tremia a cada “Let’s jump, São Paulo”. Entre os clássicos de Led Zeppelin, a melancolia de Smashing Pumpkins e o pop de Bastille e Pharrell, certamente o eletrônico de Calvin Harris se sobressaiu no quesito animação. Foi uma enorme balada ao ar livre, um dos melhores shows da história do Lollapalooza, e que deve reforçar ainda mais a presença de DJs de peso nas próximas edições do festival.

SMASHING PUMPKINS

Entre o fim do show de Calvin Harris e o início da apresentação de Pharrell, Billy Corgan subiu ao palco Axe aparentando tristeza e saudosismo. O frontman do Smashing Pumpkins, que, no começo da semana, havia dito que o futuro da banda era “incerto”, fez uma das apresentações de encerramento do Lollapalooza se apegando ao passado. “Cherub Rock” e “Tonight Tonight” abriram o show, já dando sinais de que vinha por aí um setlist repleto dos hits do grupo - e as músicas do disco novo, Monuments to an Elegy, se mesclaram bem aos sucessos.

Entretanto, incerteza é algo corriqueiro para uma banda que, atualmente, tem apenas Corgan como integrante original. A formação que veio ao Brasil contou com reforços estrelados: Brad Wilk, o baterista do Rage Against the Machine, e Mark Stoermer, baixista do The Killers, subiram ao palco com Corgan. Enquanto Stoermer só cumpriu tabela, Wilk adicionou mais peso e precisão às músicas.

Em um determinado momento, Corgan parabenizou o fundador do Lollapalooza, Perry Farell, por seu aniversário, e também lembrou do seu. “Fiz 28 anos!”, brincou o vocalista, aparentemente tentando esquecer que já tem 42. Outra piada também traduziu o olhar voltado ao passado do vocalista: antes de “Disarm”, ele perguntou ao guitarrista Jeff Schroeder se ele conhecia o álbum. “Não era nascido nessa época”, respondeu Schroeder.

Mas o saudosismo não foi recebido de forma ruim pelos fãs do Smashing Pumpkins, que ouviram um show muito melhor do que a insípida e mal-preparada apresentação do Planeta Terra de 2010, a última da banda no país. As músicas mais pesadas e a apresentação competente consolidaram o palco Axe como o ponto do rock no Lollapalooza.

PHARRELL WILLIAMS

Com pouco mais de dez minutos de atraso, Pharrell Williams chegou ao palco Skol para encerrar o Lollapalooza 2015. Coreografado ao extremo e cheio de mise en scéne, o cantor até que se mostrou a vontade no palco em meio a suas dançarinas e a ótima banda que o acompanhava. Do início do show, onde misturou sucessos mais antigos ("Frontin”) com hits recentes (“Come Get It Bae”), até o fim, cheio de hits explosivos (“Get Lucky”, “Gust of Wind”, “Lose Yourself to Dance” e “Happy”), Williams comprovou porque é o produtor musical mais importante da atualidade. Se alguém passasse pelo Autódromo conseguiria reconhecer metade das canções sem ligá-las ao artista, tamanha a força das canções que participou/produziu/escreveu.

Apesar desse talento inquestionável, no palco Pharrell não é dos mais jeitosos. Para compensar isso, ele investe não só nas dançarinas e na banda, mas também na interação com o público. Mais de uma vez ele chamou fãs para dançar junto com ele no palco. A intenção de tornar tudo uma grande festa é clara e bem executada. O ritmo e a batida que fizeram ele se tornar um expoente da nova geração estiveram mais do que presente no Lollapalooza e fecharam com excelência o derradeiro dia da edição desse ano.