O The Strokes (Reprodução/Instagram)

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Lolla recebe um The Strokes maduro, em paz com seu legado e suas influências

A aura de enfant terrible já era - Julian Casablancas e cia. agora são “gente grande”

25.03.2022, às 06H00.

Lembra quando o The Strokes era a “salvação do rock”? O lançamento do EP independente The Modern Age, em 2001, fez as maiores gravadoras americanas brigarem com unhas e dentes pela oportunidade de assinar a banda de Nova York. O álbum de estreia, Is This It, chegou alguns meses depois (pela RCA, que venceu a briga) e entregou o prometido: “Last Nite” virou um smash hit internacional, e o vocalista Julian Casablancas foi rapidamente consagrado o novo ícone do rock n’ roll.

Pelos 21 anos seguintes, no entanto, o The Strokes simplesmente… existiu. Algumas canções dos discos seguintes, é claro, conquistaram uma sombra do status icônico de “Last Nite” - tivemos “Reptilia” e “You Only Live Once”, afinal, e até “Under Cover of Darkness” fez algum barulho fora da bolha dos fãs mais dedicados. Mas, especialmente na década de 2010, o The Strokes deixou a aura de super estrelas do rock para trás e mostrou que tudo o que queria, de fato, era ser deixado no seu canto fazendo sua música - e descobrindo, pouco a pouco, para onde o tempo poderia carregá-la.

Daí as experimentações dos álbuns da banda desde Angles, de 2011. Embora inicialmente definido como um retorno ao básico pelo baixista Nikolai Fraiture, o disco passou por uma produção tão elaborada e atribulada (os rumores de que Casablancas gravou tudo separadamente do resto da banda nunca foram completamente dispersos) que, ao chegar às lojas e plataformas de streaming, ele acabou se mostrando um mergulho mais ousado do Strokes nas referências oitentistas, no dance rock e na música eletrônica.

Dois anos depois veio a confirmação, com o Comedown Machine: o The Strokes dos fãs viúvos do Is This It não existia mais. O single “One Way Trigger” é todo levado por sintetizadores, interrompidos apenas por um rápido e ardido solo de guitarra de Albert Hammond Jr., enquanto Casablancas estica sua voz a alturas inéditas, lembrando um Barry Gibbs passado pelo filtro sujo que caracteriza o som da banda desde a estreia.

Este novo The Strokes não caiu bem para todo mundo, é claro. Comedown Machine foi o disco mais mal-avaliado da banda entre a crítica, mas isso não os deteve na missão de explorar ainda mais fundo as influências de R&B e new wave que sempre assombraram a sua discografia no sucessor, o ótimo The New Abnormal (2020). A boa notícia é que deu certo: a média da crítica aumentou, e pérolas como “Brooklyn Bridge to Chorus” e “Bad Decisions” foram abraçadas com mais entusiasmo pelos fãs.

No fim das contas, a trajetória do The Strokes pode ser vista como uma vitória da vontade artística sobre o marketing. Vendidos como a “salvação do rock”, esses cinco rapazes (hoje quarentões) se mostraram na verdade exploradores musicais geniosos e, com o passar do tempo, cada vez mais discretos e pensativos. Em paz com o próprio legado e sempre mirando o futuro, a banda que tocará no Lollapalooza pode não ter a energia e o hype de 20 anos atrás, mas sem dúvida tem muito mais música para mostrar.

O que o The Strokes tocou no Lollapalooza Chile:

  1. Bad Decisions
  2. You Only Live Once
  3. Under Control
  4. Juicebox
  5. The Adults Are Talking
  6. Trying Your Luck
  7. Brooklyn Bridge to Chorus
  8. Reptilia
  9. Eternal Summer
  10. Razorblade
  11. Hard to Explain
  12. Heart in a Cage
  13. Ode to the Mets
  14. Take It or Leave It
  15. Someday

O The Strokes sobe ao palco Budweiser do Lollapalooza Brasil às 21h15 da sexta-feira (25).