Lembra quando o The Strokes era a “salvação do rock”? O lançamento do EP independente The Modern Age, em 2001, fez as maiores gravadoras americanas brigarem com unhas e dentes pela oportunidade de assinar a banda de Nova York. O álbum de estreia, Is This It, chegou alguns meses depois (pela RCA, que venceu a briga) e entregou o prometido: “Last Nite” virou um smash hit internacional, e o vocalista Julian Casablancas foi rapidamente consagrado o novo ícone do rock n’ roll.
Pelos 21 anos seguintes, no entanto, o The Strokes simplesmente… existiu. Algumas canções dos discos seguintes, é claro, conquistaram uma sombra do status icônico de “Last Nite” - tivemos “Reptilia” e “You Only Live Once”, afinal, e até “Under Cover of Darkness” fez algum barulho fora da bolha dos fãs mais dedicados. Mas, especialmente na década de 2010, o The Strokes deixou a aura de super estrelas do rock para trás e mostrou que tudo o que queria, de fato, era ser deixado no seu canto fazendo sua música - e descobrindo, pouco a pouco, para onde o tempo poderia carregá-la.
Daí as experimentações dos álbuns da banda desde Angles, de 2011. Embora inicialmente definido como um “retorno ao básico” pelo baixista Nikolai Fraiture, o disco passou por uma produção tão elaborada e atribulada (os rumores de que Casablancas gravou tudo separadamente do resto da banda nunca foram completamente dispersos) que, ao chegar às lojas e plataformas de streaming, ele acabou se mostrando um mergulho mais ousado do Strokes nas referências oitentistas, no dance rock e na música eletrônica.
Dois anos depois veio a confirmação, com o Comedown Machine: o The Strokes dos fãs viúvos do Is This It não existia mais. O single “One Way Trigger” é todo levado por sintetizadores, interrompidos apenas por um rápido e ardido solo de guitarra de Albert Hammond Jr., enquanto Casablancas estica sua voz a alturas inéditas, lembrando um Barry Gibbs passado pelo filtro sujo que caracteriza o som da banda desde a estreia.
Este novo The Strokes não caiu bem para todo mundo, é claro. Comedown Machine foi o disco mais mal-avaliado da banda entre a crítica, mas isso não os deteve na missão de explorar ainda mais fundo as influências de R&B e new wave que sempre assombraram a sua discografia no sucessor, o ótimo The New Abnormal (2020). A boa notícia é que deu certo: a média da crítica aumentou, e pérolas como “Brooklyn Bridge to Chorus” e “Bad Decisions” foram abraçadas com mais entusiasmo pelos fãs.
No fim das contas, a trajetória do The Strokes pode ser vista como uma vitória da vontade artística sobre o marketing. Vendidos como a “salvação do rock”, esses cinco rapazes (hoje quarentões) se mostraram na verdade exploradores musicais geniosos e, com o passar do tempo, cada vez mais discretos e pensativos. Em paz com o próprio legado e sempre mirando o futuro, a banda que tocará no Lollapalooza pode não ter a energia e o hype de 20 anos atrás, mas sem dúvida tem muito mais música para mostrar.
O que o The Strokes tocou no Lollapalooza Chile:
- Bad Decisions
- You Only Live Once
- Under Control
- Juicebox
- The Adults Are Talking
- Trying Your Luck
- Brooklyn Bridge to Chorus
- Reptilia
- Eternal Summer
- Razorblade
- Hard to Explain
- Heart in a Cage
- Ode to the Mets
- Take It or Leave It
- Someday
O The Strokes sobe ao palco Budweiser do Lollapalooza Brasil às 21h15 da sexta-feira (25).