ABC Studios/Divulgação

Séries e TV

Notícia

Lost | Livro revela ambiente tóxico e racista no set; roteiristas rebatem

Em trecho exclusivo divulgado pela Vanity Fair, ator disse que roteiristas só priorizaram tramas envolvendo os personagens brancos

30.05.2023, às 20H22.

O livro Burn It Down: Power, Complicity, and a Call for Change in Hollywood, escrito pela jornalista Maureen Ryan e a ser lançado em breve, descreve o ambiente nos bastidores de Lost como "dramático e tóxico" - tal quanto a própria série. Hoje (30), a Vanity Fair publicou um trecho exclusivo da obra, destacando alguns dos comportamentos tóxicos e racistas no set de filmagens. Ainda nesta mesma tarde, os roteiristas da série, Damon Lindelof e Carlton Cuse, rebateram as alegações em uma entrevista à EW.

No livro, Harold Perrineau, que interpretou Michael Dawson, fala abertamente sobre ter sido negligenciado nas tramas, enquanto seus colegas de elenco brancos - formados pelos protagonistas Josh Holloway (Sawyer), Matthew Fox (Jack Shephard) e Evangeline Lilly (Kate Austen) - recebiam histórias mais fortes. Ele afirma: "Ficou evidente que eu era 'o cara negro'. Daniel [Dae Kim] era o cara asiático. E então tínhamos Jack, Kate e Sawyer".

Um roteirista anônimo corroborou o relato de Perrineau, afirmando que a equipe era repetidamente informada de que Sawyer, Jack, Kate e John Locke (interpretado por Terry O'Quinn), os personagens brancos, eram os "principais" e que "ninguém se importava com os outros personagens". Quando Perrineau expressou suas preocupações sobre seu personagem a um produtor ("Eu não preciso ser o principal, não preciso ter mais episódios - mas gostaria de estar envolvido", recordou), o executivo supostamente lhe disse que "é assim que o público acompanha as histórias", chamando Sawyer, Jack e Kate de "relacionáveis" -- uma forma de racismo velado.

Monica Owusu-Breen, roteirista que atuou na terceira temporada da série, descreveu a sala de roteiristas como um ambiente de trabalho "extremamente hostil" e marcado por uma "crueldade implacável", no trecho divulgado à imprensa. Adicionalmente, ela relatou que o único roteirista asiático-americano era referido como "coreano" em vez de pelo seu nome, e outro roteirista havia feito comentários ofensivos chamando uma criança asiática de "olhos puxados".

Em outra ocasião, Lindelof teria supostamente demitido Perrineau após ser acusado de racismo, afirmando: "ele me chamou disso, então eu o demiti". A roteirista testemunhou risos quando Lindelof fez esse comentário, destacando que uma série de comentários ofensivos e racistas foi feita, provocando risadas. A situação em questão foi descrita como "extremamente perturbadora".

Roteiristas rebatem acusações feitas pelo livro

Sobre os trechos mencionados, Lindelof respondeu à acusação afirmando que não se recorda do comentário específico feito pelo ator. "O que posso dizer? Parte meu coração saber que essa tenha sido a experiência de Harold", disse ele. "E eu apenas admito que os eventos que você está descrevendo ocorreram há 17 anos, e não sei por que alguém inventaria isso sobre mim."

Em resposta às acusações do ambiente tóxico na sala dos roteiristas, ele acrescentou: "Meu nível de inexperiência como gerente e chefe, meu papel como alguém que deveria modelar um clima de perigo criativo e disposição para correr riscos, mas fornecer segurança e conforto no processo criativo - falhei nessa empreitada." "Não tenho memória dessas coisas específicas", disse ele, dizendo estar "chocado e aterrorizado" com as acusações dos roteiristas. 

Continuou: "Cada ator expressou algum grau de decepção por não estarem sendo utilizados o suficiente. Isso era meio que parte de estar em uma série com um grande elenco, mas obviamente houve um foco desproporcional em Jack, Kate, Locke e Sawyer - os personagens brancos."

No entanto, ele defendeu Perrineau, afirmando que "[ele está] completa e totalmente certo em apontar isso." "É uma das coisas das quais tenho arrependimentos profundos e intensos nas duas décadas seguintes," finalizou.

Por sua vez, Cuse lamentou a situação como um todo. "É profundamente perturbador saber que houve pessoas que tiveram experiências tão ruins. Eu não sabia que as pessoas estavam se sentindo assim. Ninguém nunca reclamou comigo, e não tenho conhecimento de que alguém tenha reclamado com a ABC Studios. Queria ter sabido. Teria feito o que pudesse para fazer mudanças."

Criada por Jeffrey Lieber, Damon Lindelof e J.J. Abrams para a rede ABCLost estreou nos EUA em 2004. A série um grupo de sobreviventes que, após um acidente aéreo, ficam presos em uma ilha cheia de mistérios. Com grande elenco, a série é reconhecida por muitos especialistas como uma das principais produções da história da televisão, tendo vencido um Emmy como Melhor Drama em 2005.

Com 118 episódios e seis temporadas, Lost foi originalmente transmitida até 2010 nos Estados Unidos. Nas telas brasileiros, o seriado passou pelos canais pagos AXN Sony e na rede aberta pela Globo

Atualmente, a produção pode ser (re)vista pelo Star+.

Já o livro Burn It Down: Power, Complicity, and a Call for Change in Hollywood ainda não conta com data de lançamento no Brasil.

*****

Ingressos à venda para a CCXP23, o maior festival de cultura pop do mundo. Compre agora!

Omelete tem um canal no Telegram! Participe para receber e debater as principais notícias da cultura pop (t.me/omelete).

Acompanhe a gente também no YouTube: no Omeleteve, com os principais assuntos da cultura pop; Hyperdrive, para as notícias mais quentes do universo geek; e Bentô Omelete, nosso canal de animes, mangás e cultura otaku.