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Mad Max - Estrada da Fúria | Da Frigideira

Quarto filme da série se sustenta sozinho, na base da ação

11.05.2015, às 12H33.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

O Omelete esteve em Los Angeles para assistir a Mad Max: Estrada da Fúria e participar de uma coletiva com o elenco principal e o diretor George Miller. Antes das entrevistas, porém, tivemos a oportunidade de ver o quarto filme da série em 2D no Chinese Theatre de Hollywood.

Falar em "quarto filme" não faz muito sentido aqui - não apenas por conta dos 30 anos que separam Estrada da Fúria de Além da Cúpula do Trovão, mas principalmente porque Miller faz poucas referências ao passado da franquia. Antes de mais nada, não há uma cronologia a ser seguida; o futuro apocalíptico parece mais avançado no tempo, com mutantes e uma guerra por água que parecem suceder o que foi visto nos filmes anteriores, mas o "Mad" Max Rockatansky de Tom Hardy é visivelmente mais jovem (e talvez menos experiente) do que o de Mel Gibson.

Então, com exceção do carro V8 Interceptor no começo do filme e de assombrações da filha morta de Max, não há nada em Estrada da Fúria que sugira uma relação com outros longas-metragens. "Sinto que esse filme se sustenta sozinho", começa Charlize Theron na coletiva. "Se você nunca viu um Mad Max, pode curtir este e nao se sentir perdido. Acho que nunca passamos muito tempo no set discutindo outros filmes. Nós partimos com a intenção de fazer um filme que tivesse começo, meio e fim." Miller emenda, brincando: "Não sei quantos anos você tem, Charlize, mas sei que faz muito tempo [que saiu a trilogia]. Não faria sentido fazer um novo filme se não pudesse se sustentar sozinho".

Sobre a ambientação no futuro, Miller diz que, na sua mente, a trama se passa num lugar como a Austrália, 45 anos depois de um evento apocaliptico. "Aquele lugar, um centro da Austrália, é como um microcosmo do mundo, com gangues controlando recursos diferentes. Não há vegetação, e quando o personagem de Nicholas Hoult vê uma árvore ele sequer sabe como chamá-la. Em termos de sotaques, não pensei em criar uma coisa meio britânica homogênea, eu só tentei ir com os melhores atores disponíveis para contar essa história. Quando Tom [Hardy] entrou na sala eu senti que era a coisa certa a fazer, como foi com Mel [Gibson] tantos anos atrás. E com Charlize eu nunca pensei em nenhuma outra pessoa para fazer Imperator Furiosa. Eu sempre tive uma imagem muito clara dela na minha cabeça, como tenho com Max."

Embora a presença de Max acompanhe o espectador do começo ao fim, é a personagem de Charlize, Imperator Furiosa, a verdadeira protagonista de Mad Max - Estrada da Fúria. Ela coloca a trama em movimento, ao sequestrar as jovens esposas do déspota Immortal Joe (vivido pelo ator Hugh Keays-Byrne, que fez o vilão Toecutter no primeiro Mad Max), e é o ponto de vista dela que seguimos quando começa a longa perseguição que se desenrola pelo restante do filme.

"Eu sempre acompanhei George à distância. Na minha carreira, me vi conversando com outros diretores com quem me importava, e eles mesmo falavam de George como diretor. E Furiosa pareceu muito autêntica para mim. Ela é forte por conta das circunstâncias, e as pessoas pensam que as mulheres querem ser fortes como os homens, mas somos também outras tantas coisas: somos complicadas, somos sonhadoras. Ela nao é uma guerreira apenas; é ótimo viver uma mulher num mundo real que é determinada pelo ambiente, ela é tudo isso por causa do mundo ao redor. Ela faz ou morre, ela se apega a essa certeza como Mad, e a questão é não morrer", explica Charlize.

George Miller relembra a problemática produção do filme, quando interrompeu as filmagens por meses para ter as condições climáticas perfeitas no deserto da Austrália, e depois se viu obrigado a mudar os sets para a Namíbia. "Quando terminei os três primeiros, eu não achei que voltaria. Queria fazer coisas diferentes. E com o tempo percebi que queria um novo Mad Max, mas não achei que levaria 12 anos para fazer...", diz. Esteticamente, este quarto filme não se diferencia tanto dos anteriores; o formato de CinemaScope deixa o filme mais horizontal e as paisagens continuam sendo de um alaranjado empoeirado infinito, talvez só mais rochosas e acidentadas do que nas planícies australianas.

E a opção pela ação com efeitos práticos - capotagens e explosões rodadas de fato no set e não adicionadas posteriormente via computação gráfica - continuam as mesmas. Talvez pela combinação com as técnicas digitais de hoje, os resultados são mais espetaculares do que em Além da Cúpula do Trovão, e também mais ostensivos; o filme é pontuado por colisões e tiroteios (alguns deles pensados para o 3D que arremessa objetos na direção do público) do começo ao fim.

"Como este é um filme no mundo natural, [os efeitos práticos] eram uma decisão lógica. Não há nada que desafia a lógica ou a física, não há humanos voadores, então não exigia muito CGI. Nós fizemos do jeito dificil, veículos reais batendo em pessoas num deserto real. Foi um filme dificil de fazer, mas acho que isso de alguma forma - o realismo, a sujeira - passa para a tela", diz o diretor.

Embora exista essa linha invisível que torna todos os Mad Max parte de uma coisa só - tanto em termos de estética e tema quanto de ação - a substituição de Mel Gibson por Tom Hardy deve se tornar o principal ponto de discussão. Max continua sendo o personagem de poucas palavras e olhos loucos encarregado de nortear as cenas de ação, mas ainda assim os dois atores têm níveis de carisma bem distintos, o que faz a diferença em Estrada da Fúria.

"Este filme levou tanto tempo para ser feito que quando tinhamos tudo alinhado, Mel estava passando por um problema na vida dele", diz o diretor para justificar a ausência do astro. Além disso, Miller comenta que nunca pensou em fazer só mais uma continuação com Gibson. "Este filme nunca foi pensado como um Os Imperdoáveis, com um Max mais velho. Quando conheci Tom, eu logo percebi que esse cara vai encarar qualquer coisa que colocarem na frente dele. Vejo Max como uma espécie de James Bond, um personagem maior que os atores."

Hardy fala do seu primeiro contato com o diretor. "Eu queria me envolver por várias razões. Quando surgiu essa oportunidade, eu não conhecia muito de Mad Max, mas eu sabia de tudo o que a cultura pop se influenciou pelos filmes. Quando eu fiz o teste, a oportunidade de ser o protagonista de um filme estava além de mim. E nós ficamos falando de teatro e análise por umas três horas, e assim como Charlize eu tambem me apaixonei por George. Eu queria fazer parte desse mundo para ajudar a transmitir a visão de mundo dele."

Assim como no filme, o ator parece lutar com as palavras na coletiva, mas murmura uma síntese do novo Mad Max: "É como um superfilme, incansável, um espetáculo, e tudo está lá, da tragédia à análise da condição humana, os simbolismos politicos econômicos. Ao mesmo tempo, tem os carros e as perseguicões, e ele [Miller] desafiava a gente e os dublês a fazer coisas que nunca fizemos antes. Eu já fiz filme de super-herói, já participei de produções massivas, mas o fato de tudo isso [em Mad Max] ter saído da cabeça de um homem só me deixou espantado".

Mad Max - Estrada da Fúria foi convertido para o formato 3D na pós-produção e chega aos cinemas brasileiros em 14 de maio.