Conhecido por grandes trabalhos na animação japonesa, como os filmes de Digimon Adventure e Guerras de Verão, Mamoru Hosoda retornou à tela grande com o sensível Belle. Em seu novo filme, três anos após Mirai no Mirai, o diretor explora as vantagens e desvantagens das redes sociais globais e faz diversas críticas à sua toxicidade. Para sintetizar um denso discurso em uma mensagem de amor, o diretor usa os traços do clássico A Bela e a Fera misturado com elementos futuristas e do cotidiano.
Apesar de esse novo trabalho traçar uma linha para um futuro próximo, ele carrega muitos elementos de antigos projetos de Hosoda, como os longas de Digimon. “[Belle] é um filme com o mesmo tema, mas Digimon mostrava uma internet imaginada há 20 anos. Belle é um filme que mostra a internet no século 21 e como as pessoas interagem nela”, conta o diretor em entrevista exclusiva ao Omelete.
Belle em tempos de metaverso
Hosoda nos diz que a animação atrasou, levando um ano para ser finalizada, o que fez com que o filme demorasse quase três anos para sair. Ainda assim, o adiamento parece ter sido benéfico para a obra, que acabou sendo lançada junto com a popularização do metaverso: um mundo digital projetado com base na nossa realidade.
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Enquanto no mundo real ainda não temos a primeira rede social meta, os personagens da animação navegam pelo U, uma mistura de jogo e rede social que conecta 5 bilhões de pessoas do mundo todo. No aplicativo, os usuários ganham um avatar com a aparência baseada na personalidade delas, um reflexo do que ele é por dentro no mundo real. Segundo o diretor, “o jogo evidencia o que as pessoas não mostram em público. Belle [que no filme é o avatar da protagonista] representa a força que Suzu não tem no mundo real, a coragem para cantar após a morte da mãe”.
Motivação e crítica
O motivo que fez o diretor mergulhar em universos tão diferentes como contos de fadas e ficção futurista foi seu desejo que escancarar o lado negativo das redes sociais, e como o universo digital pode ser prejudicial para as pessoas no mundo real se não utilizado com segurança. Segundo Hosoda, ele “queria criar um mundo de realidade virtual que mostrasse que as redes sociais atuais não são perfeitas. O U mostra os problemas da redes sociais atuais, mas também mostra diversas culturas e como as redes sociais podem atravessar fronteiras globais”.
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Ao contrário do clássico da Disney, a fera de Belle não foi amaldiçoada nem tem um final que podemos considerar feliz. Ainda assim, o diretor quis mostrar que o lado feio da fera atual não vem dela, mas de fatores externos que ela não pode controlar [e que são o ponto alto do filme, diga-se de passagem]. O longa toma isso como uma de suas várias lições e talvez essa seja a principal conexão do clássico noventista com a versão japonesa.
Em Belle, Mamoru Hosoda usa toda sua genialidade para escancarar o lado negativo da internet e mostrar que a melhor saída pode ser um pouco de empatia. Misturando contemporaneidade, futurismo e nostalgia, o diretor entrega um universo profundo e detalhista que nos faz olhar para dentro e refletir sobre nossas próprias atitudes.
Belle já está em cartaz nos cinemas brasileiros.