Quem acompanhou a campanha de divulgação de Creed 3 certamente viu algumas falas de Michael B. Jordan sobre como o universo shonen, em especial Naruto e Dragon Ball, influenciaram o filme. Creed 3 marca a estreia de Jordan na direção e, sendo um otaku de carteirinha, ele decidiu levar o que ele mais ama para as telas. Como resultado, o longa também estrelado por Tessa Thompson e Jonathan Majors entrega uma trama com um tom bem familiar para quem também acompanha as animações de ação japonesas.
[O texto a seguir contém pequenos spoilers sobre a trama do filme]
Shonen (ou shounen) é uma demografia de mangás voltada para o público adolescente. Entre os títulos publicados como shonen — além dos citados acima — estão One Piece, My Hero Academia, Bleach e Hunter x Hunter. Em geral, eles são publicados por revistas específicas no Japão, como Shonen Jump, Young Jump, Ultra Jump e várias outras variações criativas com Jump. E o que as histórias desses mangás têm em comum? Superação, protagonistas determinados, relações de amizade e muita, MUITA luta!
É normal, quando pensamos em quais títulos poderiam influenciar o terceiro longa de Creed, Hajime no Ippo ser o primeiro anime a vir à cabeça, afinal, ambos os títulos lidam com o boxe. Porém, mesmo sem mergulhar nesse universo específico, qualquer outro título do gênero tem a essência necessária para dar a Jordan o que ele buscava. Por isso, mesmo sem Dragon Ball ou Naruto serem sobre um estilo de combate específico, ambos são ótimas fontes para se beber.
Quando olhamos para a trilogia Creed, vemos uma sinopse bem comum para qualquer otaku: um protagonista, filho de uma lenda, teve que superar diversos desafios durante sua vida. Com muito esforço, determinação, um mestre — que também foi uma lenda (Rocky Balboa) — e um amor para motivá-lo, ele consegue derrotar seus adversários e conquistar seu tão sonhado objetivo. Partindo dessa premissa pré-estabelecida, ficou fácil para Michael B. Jordan usar e abusar de suas referências como fã de anime no terceiro filme.
Na nova história, Adonis Creed (Jordan) se aposenta dos ringues após conquistar o topo. Ele então decide se dedicar a treinar outros jovens com o mesmo objetivo dele: conquistar o topo. Quando tudo parece perfeito, um fantasma do passado surge para testar a tenacidade do protagonista. Seu melhor amigo de infância retorna como um novo obstáculo, antagonista e rival. Damian Anderson (Majors) volta das sombras das memórias do protagonista após quase 20 anos preso e logo começa a causar em sua vida. Assim como em muitas histórias, o filme gira em torno de um trio: Creed, Anderson e Bianca (Thompson), um triângulo formado por relações sentimentais — não necessariamente amorosas.
Quando a rivalidade entre os personagens se consolida, Adonis Creed se vê obrigado a retornar aos ringues, e o longa caminha para seu momento de maiores referências. O já anunciado soco ao melhor estilo Dragon Ball faz companhia para referências à luta final entre Naruto e Sasuke no Vale do Fim e também à habilidade de Tanjiro Kamado, de Demon Slayer, de prever o momento certo para dar o golpe final em seus adversários. Todas essas referências tornam impossível para quem consome uma quantidade alta de animes sair da sessão de Creed 3 sem sentir que já viu aquilo em outro lugar, em um contexto diferente.
Ao final, mais uma cena para lá de conhecida se repete e os amigos encerram o ciclo de amizade - traição - briga - reconciliação. Fica evidente que o novo filme da franquia Rocky poderia ter acontecido sem todas essas referências, mas cada uma delas melhora a experiência do espectador. Com esse filme, Michael B. Jordan mostra que tem um futuro brilhante por atrás das câmeras e, mais do que isso, nos faz pensar: o que falta para vermos live actions de anime bons como Creed 3?