Mangás e Animes

Crítica

Jujutsu Kaisen 0 flerta com horror moderado para atingir todos os públicos

Filme equilibra elementos para ampliar seu público nas telonas

28.04.2022, às 11H48.
Atualizada em 19.12.2022, ÀS 16H33

Uma dúvida que surge quando filmes baseados em animes e mangás são anunciados para a tela grande é se eles vão atrás de um entretenimento universal ou se agarrar à fidelidade de seu nicho. Nesse aspecto, Jujutsu Kaisen 0 é um bom exemplo de como traduzir a linguagem dos animes e mangás para todos os públicos.

Baseado no mangá homônimo de Gege Akutami, o filme surfa na estética do horror japonês de forma moderada e sem abandonar as características dos animes de ação. Com isso, consegue atingir um tom maduro para o público adulto sem afastar os mais novos das salas de cinema. Com uma trama de prelúdio, o longa não exige conhecimento prévio do espectador e ainda traz referências à série de sucesso.

Na história, conhecemos o drama de Yuta Okkotsu, um jovem perseguido pelo espírito de sua amiga de infância, Rika Orimoto. Ela morreu em um trágico acidente na frente de Yuta e seu espírito se tornou uma “assombração da guarda”, que elimina todos que tentam machucar o jovem. É uma das maldições mais poderosas do mundo jujutsu e por isso Yuta é mandado para a Escola de Jujutsu de Tóquio, onde faz amizades e também um perigoso adversário.

Uma das vantagens de contar uma história como a de Jujutsu Kaisen 0 é o conforto oferecido ao espectador fora da bolha do universo dos animes. O público, além de não precisar saber nada da história prévia para curtir o filme, ainda tem a chance de conhecer uma franquia que pode conquistá-lo. O mangá no qual o longa se baseia foi publicado em 2017, com o título de Escola Técnica Superior de Jujutsu de Tokyo, e posteriormente catalogado como volume 0, prelúdio, após Akutami desenvolver um novo protagonista e uma trama com mais fôlego que seguiria como sequência da primeira história. Ou seja, o filme estreia no Brasil como um chamariz para novos leitores, bem como para os fãs do anime e do mangá shonen.

O filme recorre ao horror em uma história cheia de momentos divertidos, assim como faz o mangá e a série animada — nisso Akutami é especialista. Monstros, demônios, a sensação de estar sendo observado ou até mesmo preso a mercê do desconhecido marcam presença durante todos os momentos do filme. Ainda assim, há um esforço para que o longa se mantenha dentro das expectativas de quem o assiste.

Para evidenciar suas referências ao folclore japonês, Jujutso Kaisen 0 traz consigo o conceito de youkai, uma classe especial de criaturas fantásticas do imaginário nipônico, que ajuda a história a justificar a relação dos eventos místicos do anime com a sociedade pós-moderna do país: vultos, assombrações e fantasmas são todos frutos das maldições do universo jujutsu. Assim como Lovecraft Country fez no Ocidente recentemente, o passeio de horror pelo folclore japonês inclui também no filme a figura popular da entidade Tamamo-no-Mae, uma divindade raposa capaz de encantar homens com sua presença.

Mesmo assim, o principal ponto do filme fica com a direção, que proporciona lutas épicas em uma animação fluida e bem feita. Por mais rápidas que sejam as cenas, é possível acompanhar cada movimento e vibrar com todos eles. Desde os primeiros minutos, o longa mostra que nasceu para ser visto na tela grande. O diretor Sunghoo Park, que também assina episódios dos animes Jujutsu Kaisen e Fullmetal Alchemist: Brotherhood, faz do filme um forte candidato a se tornar a obra-prima de sua carreira.

Repleto de acertos, Jujutsu Kaisen 0 é um dos grandes marcos da franquia de Gege Akutami. Contudo, o filme mostra que há espaço para crescer ainda mais e superar as expectativas estabelecidas para adaptações cinematográficas de animes e mangás. Misturando terror, com boas piadas e cenas de luta grandiosas, o longa é uma grande conquista para os fãs de anime, que cada vez mais veem suas obras nas fachadas dos cinemas.

Nota do Crítico
Ótimo