A série animada Star Wars: Visions é composta por nove curtas de diferentes estúdios japoneses. A ideia é levar os fãs a um mergulho no universo da franquia através de diferentes “visões”, que não fazem parte do cânone oficial, mas sem abrir mão da essência da saga. Com contos emocionantes e diversificados, os curtas unem a melhor parte da obra de George Lucas e dos animes japoneses para criar aventuras rápidas e prazerosas.
O conceito de histórias em antologia contadas em tão pouco tempo — em episódios que variam entre 13 e 20 e poucos minutos — através de diferentes traços e estilos é similar ao que já foi visto em Animatrix (2003). Se uma produção serviu de inspiração para outra, pouco importa, pois a visível preocupação dos estúdios em manter o DNA da franquia Star Wars torna a obra única e memorável. Cada um desses episódios tem o poder de causar diferentes sensações nos fãs e até conversar com a criança interior de quem acompanhou a saga durante a infância, além de ter a habilidade de atrair novos fãs.
A série mostra de uma forma poética que as aparências enganam e que todos possuem luz e trevas dentro de si. Assim como um cavaleiro Jedi pode ser fraco e vacilante, um Sith também pode ser generoso e altruísta em determinadas situações. A liberdade criativa que os estúdios japoneses tiveram nos curtas é um elemento fundamental para que Visions entregue episódios mais reflexivos, com diversos caminhos possíveis para cada narrativa, mas sem perder o espírito da franquia.
De acordo com os produtores, a Lucasfilm encontrou muitos fãs da saga nos estúdios de animação. Essa relação de trabalho feito “de fã para fã” enriquece a obra em diversos níveis, especialmente na arte e nas músicas. A delicadeza como esses detalhes são trabalhados na obra faz com que seja indiferente se o personagem se apresenta como Jedi, Sith ou samurai. O som dos sabres de luz se chocando, dos droides e até do povo da areia explica para a nossa mente que o que estamos vendo é Star Wars. Cada episódio, com seu traço único e impecável, é como uma versão deluxe de um álbum da sua banda favorita.
Com isso, Visions completa um ciclo de trocas culturais iniciado por George Lucas em Star Wars: Uma Nova Esperança. O cineasta se inspirou no clássico A Fortaleza Escondida (1958), de Akira Kurosawa, para desenvolver uma das maiores franquias do Ocidente. E, agora, estúdios japoneses fazem o caminho inverso, se apoiando na obra de Lucas para criar esses curtas, que passeiam mais a fundo por referências da cultura japonesa, desde o primeiro episódio, que homenageia Kurosawa com sua fotografia quase em preto e branco, até um emocionante relato em homenagem a Astro Boy, de Osamu Tezuka, para contar a história de um droide que almeja se tornar Jedi.
Ao final do último episódio, o espectador é consumido por um franco desejo por mais. Após uma decepção generalizada com a trilogia O Despertar da Força, Star Wars: Visions chega como uma excelente redenção da Disney para com os fãs, sobretudo aqueles que anseiam por mais produções do universo.
Todos esses elementos resultam em uma coleção divertida, cativante e deliciosa de se assistir. O pouco tempo que cada história leva para ser contada torna cada um dos detalhes mais especial, resultando em nove pequenas e distintas tramas contadas com robustez e dignas de serem consideradas parte do gigantesco universo de Star Wars criado por George Lucas.