Após duas adaptações que ficaram aquém do trabalho do mestre do horror Junji Ito, muitas expectativas foram criadas em torno de Uzumaki. O anime do estúdio Production I.G. em parceria com a Adult Swim prometia levar finalmente o tom macabro do mangaká para as telas, mas tropeçou no meio do caminho. Apesar de a minissérie realmente carregar um tom extremamente otimista em sua estreia, a obra vê toda a sua qualidade técnica e narrativa derreter já no segundo episódio.
Uzumaki, um dos contos mais famosos de Ito, conta a história de uma pequena cidade situada entre uma montanha e uma praia que misteriosamente passa a ser atormentada por espirais. Pessoas enlouquecem vendo círculos em tudo e passam a ficar obcecadas pelo fenômeno. Quando a situação piora, os habitantes começam a se transformar em espirais, em uma mistura de horror cósmico, corporal e trash. Na tentativa de salvar a família e parar a maldição, a protagonista Kirie passa a enfrentar os horrores das espirais.
A trama, que tinha tudo para dar certo nas mãos do famoso estúdio Production I.G., famoso por grandes títulos como Haikyu, Psycho-Pass e O Fantasma do Futuro, acabou se tornando uma decepção tão grande quanto as expectativas. Após um ótimo primeiro episódio, a animação passou não apenas uma sensação de confiança sobre a série na totalidade, mas também a certeza de que a chave para adaptar Junji Ito havia sido encontrada.
Infelizmente, o sabor da vitória logo dá lugar ao amargo gosto da desilusão. A excelência apresentada no primeiro episódio é substituída por uma série de inconsistências nos três capítulos seguintes. O traço e o desenho dos personagens decai consideravelmente, mas nada é mais chocante que a própria direção. Os movimentos lentos e suaves do primeiro episódio, feitos para simular uma página de mangá em movimento, tornam-se uma muleta para justificar as transições truncadas que seguem. Até mesmo a trilha e os efeitos sonoros perdem o ritmo, fazendo som e imagem perderem a sincronia em vários momentos.
Como se o turbilhão de problemas já não fosse complicado o suficiente para o anime, o texto de Ito também contribui para bagunçar a produção. Sem seguir uma linha de acontecimentos diretos entre cada episódio, o autor faz com que o espectador encare saltos temporais desconectados em todos os quatro episódios. Por mais que isso funcione na versão impressa, o público desacostumado com o estilo do mangaká sofre para se situar entre cada evento da série, o que se agrava com os lançamentos semanais.
Mesmo pecando em vários quesitos técnicos, Uzumaki ainda não é a pior adaptação do mestre do horror japonês, já que esse título, por enquanto, é mantido por Junji Ito Collection. Ainda assim, a qualidade da grande maioria dos episódios é um fator que impede o anime de ser considerado ao menos bom. O abismo entre o primeiro e os demais capítulos comprova que o anime poderia, sim, ser uma das maiores produções do ano, mas alguém aparentemente decidiu que esse não seria o caso.