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Mangás e Animes

Crítica

Yu Yu Hakusho condensa o anime para focar na ação no live-action

Adaptação tenta preservar a natureza das lutas, apesar da escolha de remontar os duelos do Torneio das Trevas

18.12.2023, às 11H35.

Os acertos da adaptação em live-action de One Piece podem ter criado a ilusão de que o futuro desse tipo de produção dentro da Netflix seria promissor. Era injusto, de certa forma, esperar algo semelhante da adaptação de Yu Yu Hakusho, já que as próprias prévias indicavam um orçamento bem menor — ainda assim, existiam saídas melhores para recontar o mangá e anime noventista de Yoshihiro Togashi do que aquelas escolhidas pelo roteirista Tatsuro Mishima e pelo diretor Sho Tsukikawa.

Temos de começar pelo que talvez seja o ponto mais sensível para os fãs que conhecem o material original: os caminhos tomados por este live-action inviabilizam no futuro uma adaptação fiel do arco que definiu o sucesso de Yu Yu Hakusho, o Torneio das Trevas. Qualquer pessoa que tenha tomado contato com narrativas de shonen nos anos entre Dragon Ball e My Hero Academia sabe que os arcos de torneio são uma obrigatoriedade do gênero, mas ainda assim o Torneio das Trevas marcou definitivamente a jornada e a mitologia de Yu Yu Hakusho. A menos que os roteiristas a partir de agora recorram a soluções questionáveis para corrigir continuidade, esqueça o sonho de ver o Torneio das Trevas — mesmo porque alguns dos seus duelos já são ajustados para caber nesta história que o live-action decidiu condensar.

Felizmente, ainda no que diz respeito aos fãs de longa data do anime, especificamente, algo importante para o público brasileiro foi mantido na adaptação: quase todo o elenco de dublagem retorna para essa versão. Entre os personagens principais, portanto, Marco Ribeiro volta como Yusuke Urameshi, assim como Duda Ribeiro faz a voz de Kurama e Christiano Torreão a de Hiei. José Luiz Barbeito, que fez a voz de Kuwabara na versão brasileira de Yu Yu Hakusho, infelizmente, morreu em 2018. No live-action, a dublagem do rival de Yusuke fica com Marcelo Garcia.

Se você acabou de chegar ao universo de Yu Yu Hakusho, talvez tenha se perguntado, ao longo dos cinco episódios da série, que resumem mais de 50 capítulos do anime, por que a obra é tão conceituada entre fãs de animações japonesas. Afinal, o seriado raramente vai além de entregar algumas boas cenas de ação. Exceto pelo primeiro episódio, que remete ao tom melancólico do capítulo inicial do próprio anime, os demais são marcados pelo corre-corre na cidade grande e pela catarse da porradaria.

Ainda que exista, sim, uma preocupação evidente dos atores com demonstrar os sentimentos que unem personagens específicos, como Yusuke (Takumi Kitamura) e Keiko (SeiShiraishi), uma dupla que funciona bem no live-action, a direção e o roteiro não valorizam o bastante o aspecto humano dessa história que, originalmente, se tornou referência na demografia shonen justamente por ir além da adrenalina proporcionada por uma boa luta. As influências do budismo e as reflexões sobre morte e ressurreição passam ao largo da adaptação, que privilegia de Yu Yu Hakusho suas dinâmicas de companheirismo.

Por outro lado, a caracterização da maior parte dos personagens faz sentido. Yusuke, Kuwabara (Shûhei Uesugie) e Hiei (Kanata Hongô) estão facilmente reconhecíveis e devidamente ajustados para que façam sentido em um mundo contemporâneo. Kurama (Jun Shison) é a única exceção, já que o apego excessivo ao visual do personagem no anime leva a um resultado que muitas vezes pode testar a concentração de quem está assistindo.

Ainda no que diz respeito ao visual, felizmente, os efeitos especiais, ainda que não sejam tão lapidados quanto os de outras produções, como os do próprio One Piece (que já não eram excelentes), são bons o suficiente para que não prejudiquem o desenrolar dos confrontos e das transições para o Mundo Espiritual. O retrato da primeira visita ao Mundo Espiritual, inclusive, é absolutamente satisfatório. O mesmo vale para a maioria dos combates, em que o jogo de câmera contribui para recriar as movimentações hipercinéticas que tanto adoramos nos animes.

Parece que a própria equipe responsável pela adaptação de Yu Yu Hakusho já imaginava que não existiria uma segunda temporada. Não fosse o caso, a escolha de reduzir as possibilidades de recriar o Torneio das Trevas provavelmente não teria sido tomada. Com isso em mente, é difícil não sentir certa frustração ao chegar ao último episódio, mas a (minis)série oferece entretenimento o bastante para agradar quem estiver disposto a assistir a um seriado de ação que conta com pelo menos alguns dos elementos que tornaram Yu Yu Hakusho um marco na história dos animes.

Nota do Crítico
Bom