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Dragon Ball: Por que Vegeta vs. Granolah foi uma luta brilhante

O mangá decidiu seguir por um caminho um tanto inédito na série

28.09.2021, às 09H00.

Fãs de Dragon Ball devem se lembrar do Vegeta como aquele clássico personagem ranzinza que coloca o próprio orgulho acima de tudo. No entanto, em uma luta recente do mangá de Dragon Ball Super, cuja história segue firme e forte mesmo depois do fim do anime, o príncipe dos saiyajin mostrou um outro lado de si mesmo.

Spoilers abaixo.

O começo do arco de Granolah, quase inteiramente focado na jornada do cerealian que queria se vingar dos saiyajin e de Freeza, foi um tanto diferente das demais sagas. Parecia que essa seria apenas mais uma história em que um mal entendido levaria a um confronto e, posteriormente, todos os envolvidos se uniriam para lutar contra um inimigo supremo.

Ao que tudo indica, isso realmente vai acontecer. Contudo, a construção de Granolah, assim como os diálogos que aconteceram enquanto ele lutava contra Goku e Vegeta, fugiu bastante do esperado. Durante a introdução dessa nova etapa da história, o próprio Vegeta questionou se o genocídio dos saiyajin não era, de certa forma, algo relativamente previsível.

Há uma relação direta entre essa reflexão e o surgimento de Granolah como o mais novo antagonista da série.

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Quando os dois saiyajin foram colocados frente a frente com o atual "vilão" do mangá, a raiva do cerealian era absolutamente justificável, mesmo que o público já soubesse que Goku e Vegeta não eram subordinados de Freeza. Granolah viu, com os próprios olhos, os saiyajin na forma oozaru destruindo o planeta Cereal como se não ligassem para as pessoas ali. E, de fato, eles não se importavam.

Goku foi o primeiro a lutar contra Granolah. O combate, que foi concluído com uma derrota retumbante de Goku, não fugiu muito do que já esperávamos. A "reviravolta", digamos, veio quando Vegeta assumiu a luta, o que levou não apenas a uma transformação inédita como também a diálogos sobre ciclo de ódio, um tema recorrente em animes recentes (Attack on Titan, por exemplo).

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No capítulo 74, que é quando a batalha entre Vegeta e Granolah começa para valer, Vegeta chega a dizer que era uma criança quando os saiyajin invadiram o planeta Cereal. É raro ver Vegeta apostando na diplomacia antes de entrar em combate. Mesmo sendo informado a respeito disso, Granolah decide que a vingança dele ainda é justa. Somente o extermínio dos saiyajin traria paz ao jovem guerreiro.

É verdade que, quando Vegeta percebe a inabalável disposição de combate por parte de Granolah, ele decide ir para cima com tudo. Entretanto, a estratégia do saiyajin segue uma lógica bem particular: ele quer vencer Granolah espiritualmente, além de fisicamente.

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Não bastasse ter ofendido propositalmente os ancestrais assassinados de Granolah, Vegeta ainda se colocou na frente das ruínas da cidade em que Granolah cresceu apenas para fazer com que o cerealian destruísse, com os próprios ataques, o que havia sobrado do antigo lar dele.

Granolah, evidentemente, vai ficando cada vez mais revoltado com o comportamento de Vegeta, que assume aquela personalidade sádica de quando ele era um vilão. Quando o saiyajin diz que ama lutar, Granolah chega a chamar ele de bárbaro, já que muitas vidas foram sacrificadas apenas para que os saiyajin pudessem fazer o que mais gostam: brigar.

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Durante todo o tempo, Vegeta e Granolah estão lutando não apenas um contra o outro, mas como os últimos representantes das espécies às quais pertencem. Das culturas às quais pertencem. Goku, por exemplo, até nasceu um saiyajin, mas foi criado na Terra desde criança. Ele não compartilha dos valores de Vegeta.

É uma batalha que vai muito além da simples vontade de vencer o oponente. Ambos representam os próprios ancestrais. A honra daqueles que os criaram. E, lá no fundo, como vimos em capítulos anteriores, Vegeta sabe que a existência dos saiyajin foi, acima de qualquer coisa, maléfica para a maior parte dos indivíduos espalhados pelo universo. Ele, inclusive, parece pronto para pagar por isso.

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No entanto, é claro que Vegeta não esconde o gosto que sente pela luta. Ele se diverte em combate quando não há planetas para salvar e pessoas para proteger. É um esporte, para um saiyajin. Um estilo de vida.

Depois de ter batido bastante em Granolah na forma Ultra Ego, Vegeta fez mais uma pausa para explicar o que aconteceu com os saiyajin ao enraivecido oponente. Nessa cena, ele e Granolah já estão destruindo totalmente as ruínas da civilização cerealian, embora não de propósito. Você sabe como é: um chuta o outro e ele quebra inúmeras paredes enquanto voa.

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Mesmo após descobrir a verdade, Granolah insiste em lutar. Ele perde a razão de tal maneira que começa a usar intencionalmente os prédios que ainda restavam nas ruínas da civilização Cerealian para atingir Vegeta. O próprio saiyajin fica surpreso com a repentina disposição de Granolah para acabar com aquele local.

Granolah já nem sabia o que está fazendo. Vegeta havia ganhado... Bom, não fisicamente.

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No capítulo 76 de Dragon Ball Super, o mais recente lançado até o momento de publicação desta matéria, Goku decide intervir para salvar a vida de Vegeta, que parecia completamente derrotado. Surpreendentemente, o príncipe dos saiyajin chuta o próprio companheiro para longe.

Vegeta é muito claro quanto ao motivo de ter decidido lutar ao lado de Goku: proteger o que era importante para ambos. Sem isso, ele jamais seria amigo da pessoa que jurou um dia ser capaz derrotar. Entretanto, isso não era tudo. Ele também fazia questão de lutar contra Granolah até o fim. Era uma questão de orgulho. Não no sentido tradicionalmente usado pelos saiyajin, mas, sim, no sentido de assumir responsabilidade pelo passado. De ser quem enfrentaria um cerealian vingativo até a morte.

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Ele estava pronto para morrer em uma batalha que o povo dele havia começado. Foi o povo dele que gerou aquela criatura desesperada. Era ele quem precisava lidar com isso.

Quando Granolah finalmente derrotou Vegeta, ele olhou para o lado e viu uma mãe e um filho assustados — ambos ficaram para trás enquanto os Sugarians deixavam o local, que havia se tornado um campo de batalha entre Goku, Vegeta e Granolah. Diante daqueles dois, Granolah se viu no lugar dos saiyajin que invadiram o planeta dele tantos anos antes. Desta vez, o próprio cerealian era o destruidor.

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Mesmo que tenha hesitado por alguns instantes, Granolah decidiu eliminar Vegeta definitivamente ao custo da própria vida. Ele já havia sido completamente tomado pela raiva. Ele só queria se vingar de uma vez pela quase extinção dos cerealian. E Vegeta aceitou. "Esse é o destino dos saiyajin? Que seja...", disse.

Foi por pouco. Se Monaito não tivesse aparecido para pedir que Granolah parasse de lutar, ele provavelmente teria matado Vegeta e a si mesmo. Na verdade, isso ainda pode acontecer no capíutlo 77, embora seja pouco provável. O fato é que essa batalha entre Vegeta e Granolah foi muito além de uma simples luta padrão de Dragon Ball.

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Os saiyajin viviam pela guerra.

Enquanto existiram, foram os responsáveis pelo extermínio de milhões de vidas.

Um imperador maligno, então, os aniquilou e escravizou.

O último indivíduo de uma espécie pacífica decidiu se tornar o ser mais poderoso do universo para poder se vingar dos saiyajin, que já tinham se reduzido apenas a Goku e Vegeta.

O último saiyajin que cresceu na cultura saiyajin se tornou o alvo desse vingador cerealian.

Se sobrevivesse depois de matá-lo, Granolah, provavelmente, seria derrotado por Goku, que poderia ou não matar o inimigo dele.

Assim prossegue o ciclo de ódio.

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Nunca na história Dragon Ball se deu ao trabalho de abordar as lutas por um ângulo tão psicológico. Já vimos algo próximo a isso na saga de Freeza, sim, mas não com tantas perspectivas e uma mensagem tão humana no final.

Dependendo de como a história prosseguir, Granolah pode se tornar um dos melhores personagens de Dragon Ball, assim como Vegeta é — e sempre foi.