Martin Scorsese publicou artigo no Hollywood Reporter, nesta terça-feira (10), criticando às resenhas rasas que, segundo ele, dão muita importância para a bilheteria e o Rotten Tomatoes em vez de fundamentar seus argumentos. Ao longo do texto, o diretor saiu em defesa do filme de Darren Aronofsky, Mãe!, que ganhou um F no Cinemascore. Confira a opinião de Scorsese:
"Antes de realmente ver Mãe!, fiquei extremamente perturbado por todos os julgamentos severos que teve. Muitas pessoas pareceram querer definir o filme, colocá-lo numa caixa, achá-lo desejoso e condená-lo. E muitos pareceram felizes com o fato de que ele recebeu a nota F do Cinemascore. Isso na realidade virou notícia - Mãe! tinha sido "esbofeteado" com a "temida" nota F do Cinemascore, terrível condecoração compartilhada por filmes dirigidos por Robert Altman, Jane Campion, William Friedkin e Steven Soderbergh.
"Depois que tive a chance de ver Mãe!, fiquei ainda mais perturbado pela pressa do julgamento e é por isso que queria compartilhar meus pensamentos. As pessoas pareciam estar atrás de sangue, simplesmente porque o longa não pode ser facilmente definido ou interpretado ou reduzido a uma descrição de duas palavras. É um filme de terror ou uma comédia sombria ou uma alegoria bíblica ou uma fábula cautelar sobre devastação moral e ambiental? Talvez um pouco de tudo isso, mas certamente não apenas uma dessas categorias básicas.
"É um filme que precisa ser explicado? E a experiência de assistir a Mãe!? Foi tão tátil, lindamente encenado - a câmera subjetiva e os ângulos reversos, sempre em movimento... o design de som, que vem ao espectador pelos cantos e o leva cada vez mais para as profundezas deste pesadelo... o desenrolar da história, que gradualmente se torna mais e mais perturbador conforme o filme avança. O terror, a comédia sombria, os elementos bíblicos, a fábula cautelar - eles estão todos lá, mas eles são elementos da experiência total, que engole os personagens e os espectadores junto deles. Somente um verdadeiro e apaixonado cineasta poderia ter feito esse longa, que ainda não vivendo semanas após tê-lo assistido.
"Bons filmes, feitos por cineastas de verdade, não são criados para ser decodificados, consumidos ou instantaneamente compreendidos. Eles não são nem feitos para serem gostados instantaneamente. São feitos porque a pessoa por detrás das câmeras tinha que fazê-los. E como qualquer pessoa familiarizada com a história do cinema sabe muito bem, há uma lista muito longa de títulos - O Mágico de Oz, A Felicidade Não Se Compra, Um Corpo Que Cai e À Queima-Roupa, para citar apenas alguns - que foram rejeitados no lançamento e se tornaram clássicos. As avaliações em Tomatometer e Cinemascoregrades desaparecerão em breve. Talvez sejam substituídos por algo ainda pior.
"Ou talvez eles desapareçam e se dissolvam à luz de um novo espírito na alfabetização cinematográfica. Enquanto isso, filmes produzidos apaixonadamente como Mãe! continuarão a crescer em nossas mentes."
Mãe! mostra um casal cujo relacionamento é testado quando convidados inesperados chegam à casa deles, perturbando sua existência tranquia. Também estão no elenco Ed Harris, Domhnall Gleeson e Brian Gleeson. Filme já está em cartaz no Brasil.