No dia 29 de abril de 2011, chegou aos cinemas brasileiros o primeiro filme do Thor. A aventura apresentou o Deus do Trovão, seu traiçoeiro irmão Loki e todo o panteão de Asgard em uma das histórias que prepararam o terreno para o evento Os Vingadores. Por um lado, a produção é lembrada dez anos depois por sua qualidade questionável. Por outro, entre uma comédia inconsistente e ação que não empolga, Thor foi responsável por dar passos importantes para o MCU (Universo Cinematográfico da Marvel).
A história você já conhece: o longa acompanha Thor (Chris Hemsworth), Deus do Trovão e herdeiro do trono prestes a se tornar rei de Asgard ao substituir seu pai Odin (Anthony Hopkins). Porém, sua coroação é interrompida por uma invasão dos gigantes de gelo de Jotunhein, que levam Thor a buscar vingança. Por sua irresponsabilidade, ele perde seus poderes e é enviado à Terra, onde deve se provar digno de portar o martelo Mjölnir novamente.
Olhando em retrospecto, é clara a intenção do Marvel Studios em transformar o longa do Deus do Trovão em seu primeiro épico. Assim como a dupla Stan Lee e Jack Kirby havia feito na década de 1960, o longa mirou em dar uma nova roupagem para as velhas lendas da mitologia nórdica em uma história que, pela primeira vez, levou o MCU para além das estrelas. Vale lembrar que até aquele momento a franquia consistia nos dois primeiros filmes do Homem de Ferro e O Incrível Hulk, produções que mantinham os pés bem presos ao chão, apesar do lado fantasioso.
Divulgação/Marvel Studios
Já o longa de Kenneth Branagh não apenas levou o público a explorar alguns dos nove reinos, como o fez com uma dedicação admirável. Apesar dos efeitos visuais ultrapassados, visitar reinos como Asgard e Jotunheim é sempre um espetáculo, já que a câmera passeia pelos locais com a admiração de alguém que está - literalmente - descobrindo um mundo novo. Passear pelo salão de troféus asgardiano, seus palácios dourados e viajar pela Bifrost seguem impressionantes uma década depois.
Essa descoberta de mundos novos foi fundamental para que o MCU se expandisse pelo cosmo. É claro que visitar o núcleo cósmico de seu universo já estava nos planos, mas Thor provou que era possível fazê-lo de uma forma que agradasse o público. Parece pouco, mas não é fácil traduzir pedaços de uma mitologia em um filme de duas horas quando o referencial do público eram as façanhas de Tony Stark e Bruce Banner aqui na Terra. Foi a primeira semente do que veríamos se desenrolar nos próximos filmes do Thor, e é claro em Guardiões da Galáxia e Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato.
A origem de um grande herói (e de um vilão ainda maior)
Thor tem uma virtude que nem mesmo seus haters podem discordar: a construção de seu protagonista e seu vilão. Ainda que Chris Hemsworth não se encaixe perfeitamente ao tom Shakespeariano que Branagh tentou dar ao personagem, é inegável que ele tem carisma e faz como ninguém a transição de deus inconsequente para alguém digno de portar o Mjölnir. Com postura para as bravatas e carisma para os - raros - momentos em que a comédia funciona, o ator se mostrou uma escalação certeira, que tem a inesperada missão de não deixar que seu holofote seja roubado pelo antagonista.
O Loki de Tom Hiddleston dispensa apresentações. Carismático até os ossos, o personagem ganhou um espaço generoso no filme, algo inédito para vilões que o MCU já havia apresentado. É quase como se o protagonismo fosse dividido entre os dois, já que o Deus da Trapaça aproveita cada minuto para se colocar em pé de igualdade com o irmão.
Em retrospecto esse investimento faz sentido, já que, como nas HQs, o Loki foi escalado como o primeiro vilão dos Vingadores. Por um lado, ele já tinha sua volta planejada, então é justo dar mais tempo para que o público o conheça - e o tema. Mas o carisma de Hiddleston certamente foi um fator que alçou sua presença para além dos filmes do Thor, pois além de estar presente em toda a trilogia, ele ainda apareceu em três dos quatro Vingadores e ainda ganhou uma série para chamar de sua.
Divulgação/Marvel Studios
Foto de Chris Hemsworth e Tom Hiddleston em Thor
Há algo de podre no Reino de Asgard
Mas não se engane, não estou aqui tentando provar que, no fim das contas, Thor é um filme injustiçado. Dez anos depois suas falhas são ainda mais evidentes justamente por termos assistido como o MCU se desenvolveu desde então. Mesmo com sua dose de momentos memoráveis e sementes para o futuro, o longa pena muito por não conseguir equilibrar o tom épico maduro com o blockbuster pipocão que a Marvel buscava.
A ação não empolga e poucas vezes transmite um senso de urgência real, o que por si só mostra um grande desperdício tendo em vista os personagens aqui presentes. Thor e seu martelo mágico, a famosa Lady Sif e os Três Guerreiros e até Odin ficam apagados diante de coreografias pouco empolgantes filmadas com câmeras trêmulas cheias de cortes que não acabam mais. A comédia faz ainda pior ao desperdiçar o carisma desse elenco absurdamente competente que, por sorte, pôde mostrar serviço em filmes posteriores.
Entre erros e acertos, é inegável que Thor criou um precedente importante para o MCU. Se hoje vibramos com suas vitórias e derrotas em Ragnarok e Ultimato, foi por conhecer um príncipe mimado que amadureceu. Se amamos odiar Loki a ponto de acompanhá-lo em uma série solo, é porque acompanhamos sua busca por identidade e uma perpétua tendência para a trapaça. Apesar de não ser o bastante para que o longa se sustente sozinho foi, sem dúvidas, a base para um belo futuro à frente.