Homem-Aranha no Aranhaverso definitivamente não é uma adaptação das HQs ou sequer uma animação convencional. Prestando uma verdadeira homenagem às suas origens nas páginas, a história de Miles Morales chega aos cinemas com um visual bastante ousado e cheia de elementos típicos dos quadrinhos - desde balões de pensamento a onomatopeias. De acordo com um dos diretores, Peter Ramsey, esse era o plano desde o início: criar uma experiência única para que os espectadores sentissem que estavam conhecendo o Teioso pela primeira vez.
Entretanto, fugir das convenções significava não depender completamente de sistemas de computação gráfica que, embora tenham permitido maior nível de detalhes nos frames, também homogeneizaram as produções em termos de formas e movimentos. "Foi incrivelmente assustador, mas também incrivelmente libertador", contou ao New York Times Bob Persichetti, que também assina a direção do longa.
Não foi fácil convencer a Sony Pictures Imageworks a desconstruir seu processo padrão de desenvolvimento. Mas, assim que o fizeram, Ramsey, Persichetti e Rodney Rothman viram a equipe de animadores encontrando soluções criativas para dar vida à Nova York de Miles e aos adorados personagens. Entre elas, mesclar a animação criada em computador com técnicas clássicas dos filmes desenhados à mão.
Homem-Aranha no Aranhaverso não foi pioneiro ao combinar estes dois estilos - na realidade, o curta-metragem da Disney O Avião de Papel fez isso anos antes. Mas é inegável o quanto o filme se beneficiou deste combo. Os animadores tiveram mais controle da velocidade e da intensidade dos movimentos e, como consequência, puderam variar o ritmo das cenas conforme as situações e os personagens envolvidos.
Homem-Aranha no Aranhaverso/Sony Pictures/Reprodução
Basta observar como cada Aranha se movimenta. Mesmo fora de forma, Peter Parker tem anos de experiência e, pela sua própria personalidade irreverente, tira onda e não economiza nas acrobacias. Miles, por sua vez, está começando sua carreira como herói. Logo, ele tem dificuldades para lidar com a teia e dar seus saltos. Mas, conforme a animação avança, ele vai ganhando confiança e seus movimentos ficam mais habilidosos. Gwen Stacy tem gestos mais elegantes, enquanto o Porco-Aranha se mexe como em um desenho dos anos 1990 e Peni Parker parece ainda estar em um anime. Nada é por acaso. Tudo foi pensado para caracterizá-los de acordo com seus universos.
O esmero, claro, se prova mais trabalhoso. Para criar apenas um segundo de filme, a equipe precisava de uma semana inteira para passar pelo processo de animação multimídia. Se tivesse algum erro na transição das técnicas, poderia demorar ainda mais (via The Wrap). Porém, o desafio técnico se mostrou válido: ao mesmo tempo que enfatiza a personalidade de cada um, torna orgânico o convívio de heróis com traços tão diferentes.
"Desde o início, queríamos que se alguém pausasse o filme em qualquer frame, ele o acharia tão bonito que gostaria de colocá-lo em uma moldura e pendurá-lo na parede", afirmou o produtor Chris Miller ao NYT. Depois de levar prêmios no Globo de Ouro e no Critics’ Choice Awards e ter uma campanha sólida para o Oscar, parece que o plano deu certo.