A Marvel Comics anunciou na New York Comic Con uma novidade esperada há 20 anos: vai republicar as famosas histórias de Miracleman por Alan Moore e concluir a história do personagem que Neil Gaiman deixou inacabada em 1993. Quatro anos e meio após anunciar que havia comprado o personagem, a editora começa a relançar Miracleman em janeiro de 2014.
[Atualizado com um preview de Miracleman #1, com a páginas recoloridas - veja abaixo]
Veja as capas já divulgadas pela Marvel:
O anúncio foi feito pelo diretor criativo Joe Quesada a partir de um vídeo com o próprio Gaiman, no qual este explica que Miracleman #25, a edição que nunca foi publicada, está pronta há duas décadas - e que ele quer dar sequência à trama. Segundo o CBR, a Marvel primeiro vai republicar todo material desde o início da fase Moore até chegar às histórias inéditas de Gaiman.
A pedido de Moore, seu nome não será usado na divulgação das HQs.
Miracleman foi criado em 1953 na Inglaterra por Mick Anglo como plágio do Capitão Marvel. Em 1982, o personagem foi revitalizado por Alan Moore na revista Warrior, numa sequência de histórias que são consideradas algumas das melhores do escritor e de todo o gênero de super-heróis. Gaiman deu sequência às histórias de Moore no início da década de 1990, até a falência da editora que as publicava. O personagem ficou num limbo jurídico, com vários autores e editoras alegando terem os direitos de publicação, pendenga que a Marvel começou a resolver em 2009. No ano passado, a editora enfim registrou a marca após resolver-se com todas as partes.
Uma novidade é que, apesar da editora ter declarado que faria o personagem voltar ao nome Marvelman - que outras editoras haviam deixado de usar ironicamente para evitar problemas com a Marvel Comics -, o anúncio deste fim de semana fala em Miracleman. Aguarde mais novidades sobre o título e sobre o plano de publicação em breve.
Miracleman, a história completa
Os ingleses, por sua vez, bolaram uma solução bem mais interessante. No mês seguinte à publicação da última história do Capitão Marvel proveniente dos Estados Unidos na revista britânica Captain Marvel 24 da editora L. Miller & Sons,Ltd, foi lançada a edição Marvelman 25. Foi a maneira que o editor Leonard Miller e o quadrinhista Mick Anglo bolaram pra não perder os leitores.
Na edição anterior, Captain Marvel 24, os ingleses haviam incluído quadros que mostravam Billy Batson e Freddy Freeman, respectivamente as identidades secretas de Capitão Marvel e Capitão Marvel Jr., manifestando seu desejo de abandonar suas carreiras de heróis pra levar vidas normais. No entanto, pra felicidade geral do Reino Unido, sucessores dignos foram encontrados.
Na prática, Capitão Marvel virou Marvelman, Capitão Marvel Jr. virou Young Marvelman e a Mary Marvel foi trocada pelo Kid Marvelman. A palavra mágica Shazam foi substituída por Kimota. O vilão Dr. Silvana encontrou sua contraparte no malévolo Dr. Gargunza. As identidades secretas também mudaram, mas as aliterações foram mantidas: Micky Moran no lugar de Billy Batson e Dicky Dauntless no de Freddy Freeman.
As origens foram levemente alteradas, mas o princípio básico das histórias se manteve. Marvelman e sua turma não deixaram a peteca da Família Marvel cair e foram enorme sucesso na Grã-Bretanha até 1963.
Nos anos 80, já adulto e casado, o repórter Mickey Moran lembra-se, de repente, de um passado apagado da memória: suas aventuras, nos anos 50, como Marvelman e principalmente da palavra mágica, Kimota. Novamente transformado no galante e herói, ele volta correndo pra casa. Lá chegando, conta tudo à sua esposa que, após ouvir estarrecida, cai na gargalhada. Afinal, eram histórias sem pé nem cabeça como as escritas nos gibis para entreter crianças.
Na verdade, as recordações de Mickey Moran eram as histórias criadas por Mick Anglo e seus colaboradores publicadas por L. Miller & Sons. Com o desenrolar da trama de Moore, os leitores ficam sabendo que as antigas aventuras haviam sido implantadas por cientistas trabalhando pra um projeto governamental secreto.
Era tudo falso. Nenhum detalhe beirava a realidade. No entanto, uma coisa era certa: apesar das lembranças absurdas, Mick Moran realmente ganhava superpoderes quando dizia a palavra Kimota. Aí tem início, uma das mais geniais HQs de todos os tempos, na qual o perplexo Marvelman vai descobrindo qual é a verdade de seu passado.
Em 1985, a editora americana, Eclipse Comics, levou, para os Estados Unidos, as histórias de Marvelman. Para evitar problemas com a Marvel, rebatizaram a personagem de Miracleman. Alan Moore pôde, então, completar o trabalho interrompido na Warrior Comics, contando com o talento dos ilustradores Steve Bissete e John Totleben, seus parceiros em Swamp Thing.
Quando Moore, terminou o que tinha a "revelar" sobre o passado oculto de Miracleman, Neil Gaiman assumiu o título. Infelizmente, a Eclipse faliu em 1994. Na época, a arte de uma nova seqüência de histórias de Miracleman havia sido encomendada ao brasileiro Mike Deodato Jr.
Mais tarde, em 1997, Todd McFarlane adquiriu os direitos de publicação de Miracleman, mas não fez absolutamente nada com eles. Na época, correu o boato de que fez isso para oferecê-los a Neil Gaiman a fim de que este desistisse de reclamar direitos autorais por alguns personagens que criou em suas histórias de Spawn, inclusive Angela. O problema só foi resolvido parcialmente em 2009, quando os direitos foram revertidos para Mick Anglo. Foi a partir daí que a Marvel conseguiu negociar a aquisição do herói.